No ano passado, Jayme
iniciou seu trabalho tentando organizar o time de trás para frente, montando
primeiro uma defesa sólida seguida de uma ou duas alternativas para fazer a
saída de bola. Repetindo o time e dando ênfase total ao posicionamento da
defesa e a compactação das linhas, a equipe recuperou a confiança perdida e começou
a se sentir mais confortável em campo. Mesmo assim, situações adversas
demoraram a serem encaradas com naturalidade. Isso acabou mudando em um dos
muitos momentos-chave na temporada passada.
No primeiro jogo das
quartas de final da copa do Brasil, os prognósticos desanimadores contra o
Botafogo, com um Flamengo ainda correndo atrás do Abel Braga e com a torcida
ainda desconfiada do time. Houve um momento, após o gol que sofremos, em que o
time se desestabilizou completamente, quase levando a virada como havia
ocorrido contra o Atlético-PR algumas semanas antes. Em uma paralisação para atendimento
médico a um dos jogadores, Elias reuniu alguns do time e rapidamente os
defensores corrigiram seu posicionamento e reequilibraram o jogo. Não foi
necessária a participação direta do Jayme, que não tem o estilo de ficar
gritando na beira do campo ou alguma substituição para mudar o time. Os
jogadores sabiam o que fazer e só precisavam se acalmar e fazer o que fora
treinado.
Na temporada atual, o time
parece ficar mais descompromissado com a ordem tática a cada partida. A linha
de meio desapareceu completamente e, da mesma maneira que aconteceu no início
do Campeonato Brasileiro do ano passado, a defesa se desarruma tentando cobrir
os buracos que proliferam ao redor da grande área. Talvez isso seja arrumado
com o retorno do Amaral a frente da defesa, por conta da contusão do Cáceres,
da mesma forma que no ano passado.
O paraguaio joga com muita
disposição, corre muito, mas não guarda posição na defesa. Isto já havia
acontecido contra o Emelec quando ele embolou a marcação do lado esquerdo entre
o Samir e André Santos e ontem voltou a ocorrer. No lance do primeiro gol, é
possível ver que quando Wallace é driblado Samir sai na cobertura e João Paulo
marca o homem que vem pelo meio. Cáceres corre desembestado atrás da bola indo
na direção do homem combatido por Samir e deixando livre o atacante que marca o
gol.
O problema de
posicionamento na defesa contribui para a dificuldade do time nos
contra-ataques e na saída de bola. Com o time desorganizado e espalhado pelo
campo, fica ainda mais difícil para Cáceres e Muralha darem início às jogadas. A
coisa melhora bastante quando o Everton joga pelo meio vindo buscar o jogo e se
movimentando mais. Da mesma forma, quando jogamos com os laterais titulares, a
qualidade técnica de Léo Moura e André Santos ocasionalmente faz com que o time
consiga fazer essa transição melhor, mas ainda assim costumamos ter dificuldades
contra retrancas fortes como a do Bolívar.
O time de La Paz deve ter
surpreendido muita gente pela sua organização e pela tranquilidade no toque de
bola. Para uma equipe que mudara de treinador na semana do confronto, foi impressionante
a forma como se postaram em campo, como buscavam sempre as mesmas jogadas e
como souberam explorar conscientemente os espaços abertos pelo Flamengo ao
longo do jogo. Seu técnico soube forçar o jogo em cima do fraco João Paulo no
primeiro tempo e aproveitou a avenida deixada nas costas do Paulinho no segundo,
por exemplo.
Na próxima semana, os
bolivianos devem jogar com uma postura mais ofensiva o que, teoricamente, daria
espaço para o Flamengo contra-atacar, mas existe a questão da altitude. Em tais
condições, o time vai precisar mais do que nunca de organização e disciplina
tática para suportar bem os 90 minutos. Se conseguir dosar a correria e manter
os jogadores próximos, facilitando trocas de passes ao invés de tentar jogar na
correria, o Flamengo pode repetir o que fez em 2008 contra o Cienciano em
Cuzco, controlando o jogo e só saindo na boa, sem correr riscos. Talvez fosse
interessante o Jayme dar uma olhada na postura do time naquele jogo que foi
provavelmente nossa melhor atuação jogando na altitude.
abraços a todos e SRN!