Em recente entrevista, o
craque holandês Seedorf falou com jornalistas italianos sobre a organização
tática de seu time e de como via a evolução do futebol atual. Lúcido como de
costume, ele questionou a fixação que os analistas de futebol costumam manter
com os números que definem o esquema e arrematou com uma constatação com a qual
concordo. Segundo o atual técnico do Milan, o posicionamento dos jogadores,
através do qual são executados os 442, 433, 4141, e etc, atualmente se resumem
à parte defensiva do jogo. Quando uma equipe moderna retoma a bola, deve
existir uma movimentação constante das peças, de forma a permitir a evolução em
bloco e a manutenção da posse de bola.
Pep Guardiola, Jupp
Reincks e outros menos bem sucedidos que eles conseguiram resgatar o futebol de
toque de bola quando conseguiram consolidar o jogo de toques e movimentação com
uma consistência defensiva sólida, focada na retomada imediata do controle da
bola. Conseguiram encontrar em seus times o equilíbrio entre defesa organizada
e ataque criativo, e a chave parece estar, talvez obviamente, no meio-campo.
Com um posicionamento defensivo sólido, ocupando espaços e bloqueando o jogo
ofensivo do adversário e aliando bons marcadores com excelentes passadores. Ao
longo desse processo, os treinadores europeus puderam abrir mão de brucutus
como primeiros volantes e mais, conseguem fazer com que até caras como Felipe
Melo evoluam e melhorem substancialmente a qualidade de seu jogo.
Mas e o Flamengo? Segundo
o site oficial do clube, fazem parte do elenco os seguintes jogadores de
meio-campo: Amaral, Cáceres, Elano, Feijão, Muralha, Gabriel, Lucas Mugni, Luiz
Antônio, Márcio Araújo, Matheus, Rodolfo, Recife, Carlos Eduardo e Éverton. De que forma o Flamengo do
Jayme conseguiria encontrar seu equilíbrio no meio campo, com esses jogadores? Para
imaginar esse time, não creio que precisemos recorrer a comparações irreais com
o Bayern ou o Barcelona. Podemos olhar para nosso próprio passado recente, com
o time que tinha o meio formado com Amaral, Elias, Luiz Antonio e Carlos
Eduardo (eu acrescentaria o Paulinho nessa, pelo posicionamento defensivo, mas
aí é da opinião de cada um...). Creio que podemos admitir que aquele time, no
final da temporada encontrou um equilíbrio consistente entre a defesa e o
ataque, jogando de forma bastante moderna e competitiva apesar da pouca
qualidade técnica.
O time atual não tem
nenhum dos quatro (ou cinco) jogadores entre seus titulares e vem sendo
organizado de uma maneira um pouco diferente da do ano passado, mais próximo do
que fazia Dorival Jr, usando meias abertos pelas duas pontas. Ironicamente, o
time que me pareceu melhor em 2014, foi o do segundo tempo contra o Emelec que
tinha o Everton mais pelo meio fazendo função semelhante a do Elias ano passado
com o Gabriel caindo pelas pontas, variando o lado do campo.
Vejo o Éverton como o
substituto natural do Elias pela movimentação em campo, embora não tenha a
mesma qualidade do antecessor, e acho que faz uma boa dupla com o Gabriel
caindo pelas pontas. Elano é, naturalmente, titular pela experiência e pela
qualidade nas bolas paradas, mas não tem a vitalidade necessária para jogar uma
partida toda em alto nível. Por mim, jogaria na posição que foi do Carlos
Eduardo, ficando com a responsabilidade de prender a bola no ataque para o time
avançar em bloco.
Na contenção, eu manteria
o Cáceres no lugar do Amaral e só vejo problema mesmo na escalação de seu
companheiro na contenção. Definitivamente não confio no Muralha, apesar de
reconhecer nele um excelente potencial. Continua me parecendo disperso e
mascarado, como se não tivesse aprendido nada. Sempre tenta uma jogada forçada,
um lance difícil mesmo quando o companheiro está na sua frente a três metros de
distância. Gostaria muito que o time tivesse de volta o Luiz Antônio dos
últimos jogos de 2013, mas este ainda é uma incógnita. Não vi o Márcio Araújo
jogar o suficiente para fazer qualquer avaliação do seu jogo, embora tenha
gostado da estréia.
O time me parece estar
buscando uma organização semelhante a do ano passado, na qual a linha defensiva
na intermediária forma com os dois volantes, Cáceres e Luiz Antonio ao lado de
Gabriel e Éverton fechando as laterais. Elano faria o primeiro combate junto
com o Brocador e se posicionaria para receber o primeiro passe na saída para os
contra-ataques. Tendo como opções o Gabriel aberto e o Éverton flutuando pelo
meio e chegando ao ataque. E pelo que mostrou até aqui neste ano, em jogos mais
cascudos da Libertadores talvez até o Alecsandro pudesse fazer bem essa função.
A variante defensiva do esquema viria com a entrada do Amaral no lugar do
Elano, como acontecia quando Val ou Diego Silva substituíam o Carlos Eduardo,
com o Elias avançando para a meia, geralmente no final dos jogos.
Seja a formação escolhida
pelo Jayme, acredito que a disciplina tática no posicionamento defensivo e na
recomposição do time serão chave para o sucesso do time. Quando o time
encaixar, com a defesa segura, peças mais instáveis como Gabriel e mesmo
Muralha devem subir de produção como aconteceu com Luiz Antônio e Paulinho no
ano passado, e isso deve, novamente, se refletir no desempenho do time também
ofensivamente.
abraços a todos e SRN!