Saudações
flamengas a todos,
O “Dia
do Fico” do nosso Brocador fará com que perdure uma situação
peculiar, a presença de dois atacantes goleadores (Hernane e Alecsandro) convivendo no
mesmo elenco. Isso já aconteceu em outros momentos, e pinço os
principais, dentre os mais recentes. Espero que dessa vez o desfecho
seja diferente.
Boa
leitura e bom Carnaval.
EDMAR E
NUNES, 1984
Edmar
chega ao Flamengo no segundo semestre de 1983, junto com um farto
pacote de jogadores que visa a suprir a saída de Zico, negociado com
o futebol italiano. O atacante brasiliense, que vem credenciado por
uma ótima passagem pelo Cruzeiro, logo agrada pelo futebol
voluntarioso e tático, mas a afobação e a falta de gols,
principalmente nos momentos decisivos da temporada, estimulam o
Flamengo a receber de volta o atacante Nunes, que estava emprestado
ao Botafogo. Edmar inicia a temporada de 1984 como titular, mas
Nunes, que tem ao seu lado a preferência da torcida e de certos
setores da imprensa, rapidamente conquista a posição, para perdê-la
ao ser expulso em um jogo na Colômbia, pela Libertadores. É tempo
de fortes mudanças na já envelhecida base de 1981, e garotos como
Bebeto, Élder e Bigu passam a titulares. Nesse contexto, o futebol
de Edmar se encaixa melhor, e o jogador é mantido no time até se
contundir antes de uma partida na Venezuela, também pela
Libertadores. A demissão de Cláudio Garcia e uma lesão de Edmar abrem espaço para a volta de Nunes,
que conta com a visível preferência do novo treinador, Zagalo
(potencializada após entrar e marcar um gol decisivo contra o
Botafogo, no início da Taça Guanabara). No restante da temporada, Nunes (que não é propriamente
uma unanimidade em termos de relacionamento com o elenco) seguirá
titular, e Edmar perderá definitivamente seu espaço. Com o
insucesso do time no final do ano, ambos serão negociados, abrindo
espaço para o jovem Chiquinho, artilheiro do Campeonato Paulista
pelo Botafogo-SP (Chiquinho se mostrará uma decepção, mas sua
trajetória é tema para outra história).
KITA E
NUNES, 1987
Com a
negociação de Chiquinho para o futebol português, o Flamengo
apenas conta com os jovens Vinícius e Wallace para o comando do
ataque. Atendendo aos insistentes pedidos do treinador Sebastião
Lazaroni, a diretoria consegue tirar da Internacional-SP, campeã
paulista e sensação da temporada, seu goleador e ídolo, o gaúcho
Kita, artilheiro do campeonato recentemente terminado. Kita começa
bem, marcando vários gols, mas com o tempo passa a enfrentar
dificuldades para se encaixar em um time técnico, de toque de bola e
movimentação. Ademais, o Flamengo vive um momento de transição,
com seus veteranos craques às voltas com o Departamento Médico e
muitos jovens ainda não totalmente prontos, apesar de talentosos.
Com isso, os resultados não são os esperados, e Kita sucumbe à má
fase da equipe. Criticado, perde confiança e não faz um bom
Estadual em 1987, o que faz com que se recorra novamente a Nunes, que
vem de ótima passagem pelo Atlético-MG. No entanto, a estreia
desastrosa no Brasileiro custa a cabeça de Antonio Lopes, e
Carlinhos assume pregando nova concepção tática, em que o ataque
será formado por Renato e Bebeto. Mesmo assim, problemas de lesão e
suspensão adiam a implementação das ideias de Carlinhos, fazendo
com que Kita e Nunes recebam várias oportunidades, eventualmente até
atuando juntos. Nunes, já apresentando sinais de declínio técnico,
não consegue corresponder, e novamente encontra dificuldades de
integração. Kita se sai um pouco melhor, até marcando alguns gols,
mas também demonstra estar longe de ser a solução para o ataque.
Com os titulares novamente à disposição, ambos perdem de vez o
espaço para Renato e Bebeto, contentando-se em fazer parte do elenco
que será tetracampeão brasileiro. Ao final da temporada, Nunes será dispensado e Kita negociado de volta com a Internacional-SP, onde
começará a reconstruir sua carreira, com algumas boas passagens em
outras equipes. O Flamengo disporá de Renato, Bebeto e do jovem
Alcindo para o setor, além de algumas apostas.
GAÚCHO E
NILSON, 1993
O
exuberante desempenho de Gaúcho em 1990 e 1991 dá ao torcedor a
certeza de que o comando do ataque flamengo tem um novo dono por
muitos anos. Com efeito, Gaúcho (cria da base que foi dispensado e
repatriado após sucesso no Palmeiras), além da excepcional média
de gols, ainda conquista a massa com seu temperamento gaiato e seu
espírito de luta em campo. Inicia 1992 mantendo o ótimo desempenho,
mas uma lesão muscular apressadamente tratada o faz jogar a reta
final do Brasileiro longe de suas melhores condições. Os gols
escasseiam, o que não o impede de ser decisivo nas partidas contra
Santos e Botafogo, ajudando na conquista do penta brasileiro, mas no
segundo semestre, a questão física, aliada a certa acomodação,
fazem seu futebol desabar, e pela primeira vez o atacante começa a
conviver com apupos e vaias. Incomodado, Carlinhos pede reforço para
o setor, sendo atendido com a contratação de Nilson, atacante
paulista com sólida fama de goleador e andarilho.
Assim,
1993 se inicia com uma surda disputa pela camisa 9, amenizada pela
(surpreendente) ótima relação entre os dois concorrentes, que se
elogiam abertamente pelos jornais. Nilson, mais bem condicionado,
larga na frente com uma média de gols impressionante, mas o excesso
de jogos (o Flamengo disputa três competições simultâneas) dá
oportunidades a Gaúcho, que também marca muitos gols. Para
complicar, a séria lesão de Renato intensifica a campanha para que
ambos sejam escalados juntos, mas a experiência não funciona. O
time, desgastado e ainda em formação, começa a ser corroído por
resultados ruins e Carlinhos não resiste. Ao assumir, Jair Pereira
demonstra clara preferência por Gaúcho (com quem trabalhou na
vitoriosa Copa do Brasil em 1990), e encerra a disputa, dando-lhe de
vez a camisa de titular. Desmotivado, Nilson cai de rendimento e,
apesar de alguns momentos esporádicos (como os três gols que marca
nos 4-1 sobre o Botafogo pela Taça Rio), acaba negociado ao final do semestre.
Ademais, o insucesso da equipe promove uma forte reformulação no
meio do ano, e nesse processo Gaúcho também sairá do Flamengo,
transferido para o Lecce-ITA. Para repor a saída dos dois atacantes,
o Flamengo repatriará Casagrande (que terá bom desempenho inicial,
mas desabará, fisica e mentalmente, diante da maratona de jogos do
final do ano).
ADRIANO E
VAGNER LOVE, 2010
O
Flamengo é hexacampeão brasileiro, e o atacante Adriano vive uma
lua-de-mel com a torcida. Ídolo, artilheiro, líder e respeitado
pelo elenco, vive um momento excepcional na carreira. Para a disputa
da Libertadores na temporada de 2010, a diretoria aproveita o litígio
do atacante Vagner Love com o Palmeiras e consegue trazê-lo por
empréstimo de seis meses, em uma operação triangular com o dono de seus direitos, o CSKA Moscou. Extremamente motivado por atuar em seu
clube de coração, Vagner Love rapidamente corresponde em campo e
cai nas graças do torcedor. É o “Império do Amor”, que
demonstra sua força na espetacular virada sobre o Fluminense (5-3),
no início do Estadual. A dupla segue marcando gols, mas os problemas
da equipe, tanto técnicos (perde peças importantes, repostas por
jogadores de qualidade duvidosa) quanto disciplinares (o meia
Petkovic se desentende com elenco e diretoria e é isolado, alguns
jogadores, como Bruno e o próprio Adriano, se envolvem em polêmicas
extracampo, e Andrade já dá sinais de perda de comando)
inviabilizam qualquer possibilidade de êxito. A perda do Estadual e
da Libertadores, além da intensificação das pressões por seu
comportamento fora do campo (é a alegria de fofoqueiros, “paparazzi”
e outras “pessoas ruins”) fazem com que Adriano tome o primeiro
avião e aceite proposta da Roma. Vagner Love, apesar das tentativas
pitorescas da diretoria, é devolvido aos russos ao final do
empréstimo, contra sua vontade. Subitamente sem atacante, o Flamengo
trará Deivid, Val Baiano e Leandro Amaral, mas o destaque será o
jovem Diego Maurício, peça fundamental para evitar um desastre que
parecia anunciado.