domingo, 2 de março de 2014

Alfarrábios do Melo


Saudações flamengas a todos,

O “Dia do Fico” do nosso Brocador fará com que perdure uma situação peculiar, a presença de dois atacantes goleadores (Hernane e Alecsandro) convivendo no mesmo elenco. Isso já aconteceu em outros momentos, e pinço os principais, dentre os mais recentes. Espero que dessa vez o desfecho seja diferente.

Boa leitura e bom Carnaval.

EDMAR E NUNES, 1984   
Edmar chega ao Flamengo no segundo semestre de 1983, junto com um farto pacote de jogadores que visa a suprir a saída de Zico, negociado com o futebol italiano. O atacante brasiliense, que vem credenciado por uma ótima passagem pelo Cruzeiro, logo agrada pelo futebol voluntarioso e tático, mas a afobação e a falta de gols, principalmente nos momentos decisivos da temporada, estimulam o Flamengo a receber de volta o atacante Nunes, que estava emprestado ao Botafogo. Edmar inicia a temporada de 1984 como titular, mas Nunes, que tem ao seu lado a preferência da torcida e de certos setores da imprensa, rapidamente conquista a posição, para perdê-la ao ser expulso em um jogo na Colômbia, pela Libertadores. É tempo de fortes mudanças na já envelhecida base de 1981, e garotos como Bebeto, Élder e Bigu passam a titulares. Nesse contexto, o futebol de Edmar se encaixa melhor, e o jogador é mantido no time até se contundir antes de uma partida na Venezuela, também pela Libertadores. A demissão de Cláudio Garcia e uma lesão de Edmar abrem espaço para a volta de Nunes, que conta com a visível preferência do novo treinador, Zagalo (potencializada após entrar e marcar um gol decisivo contra o Botafogo, no início da Taça Guanabara). No restante da temporada, Nunes (que não é propriamente uma unanimidade em termos de relacionamento com o elenco) seguirá titular, e Edmar perderá definitivamente seu espaço. Com o insucesso do time no final do ano, ambos serão negociados, abrindo espaço para o jovem Chiquinho, artilheiro do Campeonato Paulista pelo Botafogo-SP (Chiquinho se mostrará uma decepção, mas sua trajetória é tema para outra história).

KITA E NUNES, 1987
Com a negociação de Chiquinho para o futebol português, o Flamengo apenas conta com os jovens Vinícius e Wallace para o comando do ataque. Atendendo aos insistentes pedidos do treinador Sebastião Lazaroni, a diretoria consegue tirar da Internacional-SP, campeã paulista e sensação da temporada, seu goleador e ídolo, o gaúcho Kita, artilheiro do campeonato recentemente terminado. Kita começa bem, marcando vários gols, mas com o tempo passa a enfrentar dificuldades para se encaixar em um time técnico, de toque de bola e movimentação. Ademais, o Flamengo vive um momento de transição, com seus veteranos craques às voltas com o Departamento Médico e muitos jovens ainda não totalmente prontos, apesar de talentosos.
Com isso, os resultados não são os esperados, e Kita sucumbe à má fase da equipe. Criticado, perde confiança e não faz um bom Estadual em 1987, o que faz com que se recorra novamente a Nunes, que vem de ótima passagem pelo Atlético-MG. No entanto, a estreia desastrosa no Brasileiro custa a cabeça de Antonio Lopes, e Carlinhos assume pregando nova concepção tática, em que o ataque será formado por Renato e Bebeto. Mesmo assim, problemas de lesão e suspensão adiam a implementação das ideias de Carlinhos, fazendo com que Kita e Nunes recebam várias oportunidades, eventualmente até atuando juntos. Nunes, já apresentando sinais de declínio técnico, não consegue corresponder, e novamente encontra dificuldades de integração. Kita se sai um pouco melhor, até marcando alguns gols, mas também demonstra estar longe de ser a solução para o ataque. Com os titulares novamente à disposição, ambos perdem de vez o espaço para Renato e Bebeto, contentando-se em fazer parte do elenco que será tetracampeão brasileiro. Ao final da temporada, Nunes será dispensado e Kita negociado de volta com a Internacional-SP, onde começará a reconstruir sua carreira, com algumas boas passagens em outras equipes. O Flamengo disporá de Renato, Bebeto e do jovem Alcindo para o setor, além de algumas apostas.

GAÚCHO E NILSON, 1993
O exuberante desempenho de Gaúcho em 1990 e 1991 dá ao torcedor a certeza de que o comando do ataque flamengo tem um novo dono por muitos anos. Com efeito, Gaúcho (cria da base que foi dispensado e repatriado após sucesso no Palmeiras), além da excepcional média de gols, ainda conquista a massa com seu temperamento gaiato e seu espírito de luta em campo. Inicia 1992 mantendo o ótimo desempenho, mas uma lesão muscular apressadamente tratada o faz jogar a reta final do Brasileiro longe de suas melhores condições. Os gols escasseiam, o que não o impede de ser decisivo nas partidas contra Santos e Botafogo, ajudando na conquista do penta brasileiro, mas no segundo semestre, a questão física, aliada a certa acomodação, fazem seu futebol desabar, e pela primeira vez o atacante começa a conviver com apupos e vaias. Incomodado, Carlinhos pede reforço para o setor, sendo atendido com a contratação de Nilson, atacante paulista com sólida fama de goleador e andarilho.

Assim, 1993 se inicia com uma surda disputa pela camisa 9, amenizada pela (surpreendente) ótima relação entre os dois concorrentes, que se elogiam abertamente pelos jornais. Nilson, mais bem condicionado, larga na frente com uma média de gols impressionante, mas o excesso de jogos (o Flamengo disputa três competições simultâneas) dá oportunidades a Gaúcho, que também marca muitos gols. Para complicar, a séria lesão de Renato intensifica a campanha para que ambos sejam escalados juntos, mas a experiência não funciona. O time, desgastado e ainda em formação, começa a ser corroído por resultados ruins e Carlinhos não resiste. Ao assumir, Jair Pereira demonstra clara preferência por Gaúcho (com quem trabalhou na vitoriosa Copa do Brasil em 1990), e encerra a disputa, dando-lhe de vez a camisa de titular. Desmotivado, Nilson cai de rendimento e, apesar de alguns momentos esporádicos (como os três gols que marca nos 4-1 sobre o Botafogo pela Taça Rio), acaba negociado ao final do semestre. Ademais, o insucesso da equipe promove uma forte reformulação no meio do ano, e nesse processo Gaúcho também sairá do Flamengo, transferido para o Lecce-ITA. Para repor a saída dos dois atacantes, o Flamengo repatriará Casagrande (que terá bom desempenho inicial, mas desabará, fisica e mentalmente, diante da maratona de jogos do final do ano).

ADRIANO E VAGNER LOVE, 2010
O Flamengo é hexacampeão brasileiro, e o atacante Adriano vive uma lua-de-mel com a torcida. Ídolo, artilheiro, líder e respeitado pelo elenco, vive um momento excepcional na carreira. Para a disputa da Libertadores na temporada de 2010, a diretoria aproveita o litígio do atacante Vagner Love com o Palmeiras e consegue trazê-lo por empréstimo de seis meses, em uma operação triangular com o dono de seus direitos, o CSKA Moscou. Extremamente motivado por atuar em seu clube de coração, Vagner Love rapidamente corresponde em campo e cai nas graças do torcedor. É o “Império do Amor”, que demonstra sua força na espetacular virada sobre o Fluminense (5-3), no início do Estadual. A dupla segue marcando gols, mas os problemas da equipe, tanto técnicos (perde peças importantes, repostas por jogadores de qualidade duvidosa) quanto disciplinares (o meia Petkovic se desentende com elenco e diretoria e é isolado, alguns jogadores, como Bruno e o próprio Adriano, se envolvem em polêmicas extracampo, e Andrade já dá sinais de perda de comando) inviabilizam qualquer possibilidade de êxito. A perda do Estadual e da Libertadores, além da intensificação das pressões por seu comportamento fora do campo (é a alegria de fofoqueiros, “paparazzi” e outras “pessoas ruins”) fazem com que Adriano tome o primeiro avião e aceite proposta da Roma. Vagner Love, apesar das tentativas pitorescas da diretoria, é devolvido aos russos ao final do empréstimo, contra sua vontade. Subitamente sem atacante, o Flamengo trará Deivid, Val Baiano e Leandro Amaral, mas o destaque será o jovem Diego Maurício, peça fundamental para evitar um desastre que parecia anunciado.