Assim como outros
frequentadores aqui do Buteco, eu também tenho a Libertadores como minha
competição favorita. A considero, inclusive, o torneio de futebol mais difícil
do mundo – especialmente para times brasileiros – devido aos aspectos
geográficos, linguísticos e políticos envolvidos na disputa. Ainda que o nível
dos times que a disputam hoje em dia não seja dos mais elevados, para vencer a
Libertadores a técnica não é suficiente. É preciso também coragem e inteligência.
E já está mais do que na hora de o Flamengo aprender a jogá-la e vencê-la.
Muito se fala sobre o “espírito
de Libertadores”, que é uma guerra e que é preciso raça, lembrando das
verdadeiras batalhas dos anos 70 e 80. Mas a estúpida expulsão do Amaral no
início do jogo parece uma evidência bem clara de que a coisa não é exatamente
por aí. Na verdade, o Flamengo tem diversos exemplos de jogadores expulsos por
jogadas irresponsáveis em começo de jogo, como Williams no Maracanã em 2010 e o
patético Toró empurrando um gandula em 2009.
A derrota da última
quarta-feira poderia ser analisada como um bom exemplo de quase tudo que joga
contra quando se está nesta disputa. Começamos com a longa e desgastante viagem
até o México, algo que já era sabido desde o sorteio e para o qual o Flamengo
teria obrigação de ter se preparado melhor. Neste campeonato em que as longas
viagens, a altitude e o clima jogam a favor dos times locais, a falta de
planejamento costuma cobrar o preço que vimos no final do jogo, em que os dez
rubro-negros estavam completamente extenuados.
Outro aspecto mais do que
sabido por todos que acompanham futebol é o de que as arbitragens na América do
Sul tendem a ser “caseiras”. A isso adiciona-se a insatisfação da confederação
com a supremacia dos times brasileiros nos últimos anos. É algo que não vai
mudar num curto espaço de tempo e o time que quer ser campeão tem que saber
como neutralizar isso também. Se pensarmos nos últimos times campeões da
Libertadores veremos que eles souberam lidar com a arbitragem de modo a
minimizar os prejuízos. E é tão fundamental evitar lances estúpidos quanto
maneirar nas provocações como não fez o André Santos, por exemplo que também
poderia (e merecia) ter sido expulso.
Um terceiro ponto da aula
de Libertadores que o Flamengo recebeu foi acuar o adversário. O Leon tem um
time mais fraco que o nosso, mas percebendo o clima favorável a si partiu pra
cima do rubro-negro no segundo tempo, sufocando nossa saída de bola e atacando
impiedosamente um adversário que estava nas cordas. Felizmente contamos com a
sorte e com uma grande atuação do Felipe evitando um resultado pior para o
nosso time. Mas é preciso aprender a enfrentar a pressão e a neutralizá-la.
Esfriar o jogo, falar muito e não deixar o jogo correr são estratégias
corriqueiras das equipes sul-americanas e é fundamental saber usá-las a nosso
favor.
Por último, o fator casa é
muito importante, assim como a intimidação dentro de campo. Não falo de
violência mas sim de os adversários temerem seu campo de jogo. A mística de
como é difícil vencer o Nacional no Parque Central, o Boca na Bombonera ajudam
a fazer a balança pender a favor desses times, inclusive a “boa vontade” dos
árbitros. Vou ignorar o “período Engenhão” e me ater aos últimos fracassos no
Maracanã contra La U, America e Defensor. Não podemos ter nenhum traço daqueles
times desconcentrados, nervosos que foram presas fáceis para adversários menos
qualificados. Precisamos levar para a Libertadores a mística resgatada no
mata-mata da copa do Brasil. A nova configuração do Maracanã parece aumentar a
pressão e a reverberação do som. Temos que usar isso a nosso favor para que os
adversários venham jogar preocupados não apenas com o time do Flamengo mas com
a pressão da torcida.
A diretoria foi muito
feliz na precificação dos pacotes para Libertadores. Começamos levando uma
lição e agora é a nossa vez de dar a aula com um grande jogo no Maracanã contra
o Emelec. Esqueçam o campeonato estadual e os “clássicos” sem valor contra
times de séries B e C. Se o Flamengo quer ser campeão da América do Sul, precisa
prestar atenção na competição que interessa e esquecer os adversários locais.
abraços a todos e SRN!