Dependendo de onde o torcedor se encontra, conseguir acompanhar os jogos do Flamengo pode se tornar um grande desafio. Muitos frequentadores do Buteco, a começar pelo big Boss, sabem muito bem disso.
Já acompanhei jogos do Flamengo, lá por 1998/99, pelo sistema tempo real que o site do Flamengo possuía. Era parecido com o do GE, mas sem fotos ou vídeos: 15 min do 1º T: UUUUHHHHHHH, fulano chuta e a bola passa raspando a trave direita. E aí espera uns 3, 5 min pelo próximo lance escrito. A final de 2001 contra o Vasco ouvi pelo rádio via internet, sozinho em casa. A Globo Int’l, que não iria transmitir, resolveu de última hora passar o jogo e ninguém se lembrou de me ligar avisando... imaginem um cara sozinho, pulando e gritando pelo estacionamento de um condomínio nos EUA coisas ininteligíveis (para os moradores locais era grego)? Não sei como não chamaram a polícia. Mas isso são tempos passados, o mundo está muito mais conectado, a vida ficou mais fácil em vários aspectos, incluindo aí acompanhar o Mais Querido, certo? Será? Vejamos.
No fim de semana de Santos x Flamengo eu estava na Flórida visitando familiares. Depois de 5 anos sem ver essa parte da família, cheguei em Orlando e todos supercontentes por me ver, “finalmente todos juntos, vamos fazer algo em família, super legal, mas o que? Já sei, um domingo na praia!!”, exclamou a cunhada. Com um sobrinho em cada braço mais um dependurado no pescoço, não consegui dizer nada além de um “vamos” um tanto quanto amarelado. Assim na estreia do Flamengo no Brasileirão eu me encontrava enterrado na areia tomando Corona de canudinho sem qualquer chance de ver o jogo.
Depois de passada a euforia familiar inicial, já consegui me impor. Cunhado portorriquenho se animou comigo: vamos nos reunir com o povo da Fla-Orlando para assistir o jogo seguinte com a maior galera! Era Flamengo x Ponte Preta. Contato com a Fla-Orlando feito via facebook, celular, etc, o lugar definido, cunhadão com o meu manto, chegamos e... Lusa x Flu na Globo Internacional. Tinha ninguém da Fla-Orlando. No PFC apenas uma única opção: Goiás x Small. Muita gente veio perguntar para o cunhado, por causa da camisa, se não havia algum lugar onde se pudesse assistir ao jogo do Mengão. A todos ele sorria, porque não entende bulhufas de português.
Aí desanimei. Pô, se na Flórida não consigo ver Flamengo, vou ver aonde? Em Puerto Rico, para onde me dirigi em seguida, terra dos 3 B’s (baseball, basketball, boxe), é que não. As rodadas seguintes acompanhei na base do “alguém tem um link, por favor?”. Até que finalmente iríamos a um lugar onde sim se acompanha o futebol de verdade: o Reino Unido, a Grã-Bretanha, onde foi inventado o futebol! Não tinha como dar errado. Mas deu, como veremos.
Devidamente embarcados com 1.600 latas de cerveza Medalla, partimos
singrando os mares rumo às Ilhas Virgens Britânicas nos primeiros dias da Copa
das Confederações. Foi outra ilusão. Nas ilhas ninguém sequer sabe o que que está
acontecendo no mundo do futebol. Ficar em marinas com bares frequentados por cidadãos do mundo todo não fez nenhuma diferença. Ainda assim não
passou nada em TV alguma. Aí desencanei e resolvi me dedicar ao ócio, ao mar, à
pesca, a mergulhos e snorkelling, e ao kayak, entre outros, como se vê nas fotos.
Medallas al capitán; noite
caindo; na pia, lavando louça; chuletas e vacío.
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Já de volta ao Brasil, muito mais próximo de
minhas coisas e costumes, a tarefa de acompanhar o Flamengo durante uma longa
viagem de carro pelo Brasil foi até divertida.
O jogo Flamengo x Lusa marcou o início dessa viagem doméstica. Esse primeiro jogo eu vi em Salvador, e o
único problema foi uma leve ressaca fruto das cervejas tomadas na véspera com o
Melo. Sim, o Melo, esse aí da foto. O mito. Foi uma conversa maravilhosa, muitas risadas, muitas lembranças de histórias
antigas, muitas esperanças no time, na diretoria, no futuro. A noite de Salvador foi decididamente curta para tanta prosa
boa. Não fossem esposas, filhos, trabalho, não sei quando levantaríamos daquela mesa.
No dia seguinte pela manhã recebemos no
aeroporto um primo vindo de Puerto Rico que se juntaria a nós no restante da
viagem. Mostramos a cidade, Mercado
Modelo, Pelourinho, farta culinária baiana no almoço, uma volta pela orla, e de
tarde entrei em contato com a galera da FlaBahia. Com as devidas informações nos dirigimos ao
local de encontro. Detalhe: sem manto
não entra. Assim não sai briga,
explicaram. Ou já viram vascaíno vestir camisa do Flamengo? Excelente ideia, pensei. Mas o problema é que não havia
camisas do Flamengo na bagagem. Conversa
pra lá, conversa pra cá, e na portaria arranjaram umas camisas para mim e para
o primo. As mulheres não brigam, segundo
a crença baiana, então liberaram para elas.
Entre cervejas e carne de sol, vimos o jogo junto a vários novos
amigos rubro-negros. Ah, como é bom
estar no Brasil, o ambiente para futebol é inigualável. As brincadeiras fluíam entre as mesas, as mesmas cornetadas, as mesmas conversas inexoravelmente concluídas com boas risadas, entre pessoas que até pouco tempo eram completos desconhecidos. O chato foi levar gol de goleiro outra vez. Como disse o primo, “quiguliro fild’puta”.
De
Salvador saímos para Chapada dos Veadeiros-GO, onde ficamos uns dias, para
novamente cair na estrada a tempo de pegar o Fla 3 x 2 Flu em Chapada dos
Guimarães-MT num bar com ambiente maravilhoso (o que mais se poderia querer
além de um tricolete sozinho na mesa ao lado?).
Nesse dia o primo aprendeu a bater no peito e dizer “aqui mora um
flamenguista”. Goiás 1 x 1 Fla vimos saboreando
um maravilhoso churrasco preparado pelo meu irmão, numa fazenda de soja em
Diamantino, onde passamos a noite no caminho até Campo Novo dos
Parecis-MT. Flamengo 0 x 0 SPFW marcou a
entrega de um manto para o boricua, isso em casa de amigos em Campo
Grande-MS. Um pulo rápido até Bonito-MS,
e de volta a Campo Grande-MS para embarcar o primo de volta a Puerto Rico. De noite, já sem o inusitado companheiro de
flamenguismo, Cruzeiro 2 x 1 Fla pela Copa do Brasil. Fla 0 x 1 Grêmio foi em Maringá-PR, Flamengo
1 x 0 Cruzeiro (jogo da volta pela Copa do Brasil) em Balneário Camboriu-SC,
MSI 4 x 0 Fla em Curitiba-PR, Fla 2 x 1 Vitória em Vitória-ES, Cruzeiro 1 x 0 Fla
em Alagoinhas-BA. Sempre em bares,
sempre em meio a gente pobre e gente rica, representantes de uma Nação
maravilhosa que se espalha pelos quatro cantos desse país.
De vez em quando me lembrava dos irmãos flamengos vivendo em países distantes, e das dificuldades que eles têm que enfrentar para conseguir acompanhar os jogos... há que se dar muito, mas muito mesmo, valor a esses abnegados. E a eles dedico esta coluna: ao Rocco, ao XLC, ao Max, ao Thiago, ao Léo Malásia, e a todos os companheiros que sentem na pele cada detalhe disso sobre o que escrevo hoje.
PS: Dá para clicar com o botão direito nas imagens e selecionar "abrir em uma nova aba" para ver em tamanho real e inclusive dar zoom.