Saudações
flamengas a todos.
Aproveitando
o início da temporada com o controvertido Campeonato Estadual, resolvi prestar
uma homenagem aos nossos coirmãos, os três rivais com quem o Flamengo vem
convivendo há várias e várias décadas. Acho válido.
Essa semana,
abro a série com o Botafogo. O
Botafogo de Cuca, de Sonja, o Botafogo que chora nas vitórias, nas derrotas,
nos empates...
O
torcedor do Botafogo é alguém que deveria merecer respeito. Porque não é fácil
ser Botafogo. O botafoguense possui uma intimidade, uma familiaridade com a
derrota, com o revés, que é algo que suscita estudos. O botafoguense fareja,
pressente, vivencia e cultua a derrota, é especialista em desfiar o mais vasto
e completo rosário de justificativas e explicações para seus insucessos, mesmo
antes deles acontecerem. Qual Harry, a Hiena.
Seus
ídolos remontam a décadas longínquas. O principal jogador de sua história
torcia pelo Flamengo, rival odiado e tido como a fonte de todas as suas
agruras. O botafoguense de raiz se interessa mais pela trajetória do Flamengo
do que pela de seu próprio time, pois, estatisticamente, uma derrota flamenga é
um evento possível, enquanto um fracasso alvinegro é algo provável.
Sim, o
botafoguense merece respeito. Ahn, er... pensando bem...
Enfim,
selecionei seis (acho esse número adequado para se referir às coisas do Botafogo)
momentos marcantes, emblemáticos. Um brinde aos nossos lacrimosos.
6 –
BOTAFOGO 0-4 JUVENTUDE, CAMPEONATO BRASILEIRO 2002
Na
véspera da partida, o treinador Abel Braga, do Botafogo, foi taxativo: “Nosso
time é brioso. Até pode ser derrotado, mas nunca por goleada”. Foi o presságio.
Diante de um Maracanã gelado, com 5 mil torcedores, o Botafogo de Galeano,
Rodrigão, Nenzão e Taílson foi engolido, mastigado, cuspido e pisoteado pelo
Juventude de Caxias, já considerado favorito mesmo antes da partida. E bastaram
20 minutos para a abertura do marcador, quando o meia Marcelo chutou bola que
desviou em Nenzão e enganou Carlos Germano. Depois de algum equilíbrio, só
alegria. Teve gol debaixo das pernas de Carlos Germano, deve drible da vaca em
Carlos Germano, teve jogador saindo sozinho com a bola de sua defesa,
atravessando o campo todo e metendo gol, teve voltinha, balãozinho, driblinho,
teve de tudo. Até o olé no final do jogo. O Botafogo encerraria a temporada
rebaixado para a Segunda Divisão, na 26ª e última colocação.
5 –
BOTAFOGO 0-4 SÃO PAULO, CAMPEONATO BRASILEIRO 1993
O
Botafogo havia montado um dos piores times de sua história, com luminares como Eliel,
Eliomar, Regilson, Marcio Caruaru (o Gullit do Sertão) e o desengonçado
artilheiro Sinval. Paradoxalmente, havia conquistado a Copa Conmebol, ao
derrotar nos pênaltis o Peñarol-URU no Maracanã. Exatamente por isso, sua
diretoria estava em festa, e nem a lanterna do Campeonato Brasileiro lhe tirava
a motivação para promover o “tira-teima” contra o São Paulo de Telê (campeão da
Libertadores), no Maracanã.
O
treinador Carlos Alberto Torres, talvez contaminado pelo excesso de otimismo (a
má campanha no Brasileiro é ilusória, estávamos priorizando a Mercosul),
escalou um time ofensivo, de peito aberto.
Desconfiada,
a torcida botafoguense ficou em casa, decisão que se mostrou acertada. Pois os
5 mil abnegados que se dispuseram a encarar o sol forte de domingo viram um
show de Cerezo, Palhinha, Juninho e do ex-botafoguense Valdeir, que entraram
como quiseram na defesa do Botafogo, marcando e perdendo gols de todas as
formas possíveis. Poderia ter sido de sete ou oito, mas o goleiro William, que
pegou até pênalti, estava inspirado. Ao final da partida, os cronistas
sintetizaram com cortante precisão o que foi o jogo. “O camisa 8 do São Paulo é
o Cerezo. O do Botafogo, o Suélio. Não precisa analisar mais nada.”
4 –
BOTAFOGO 1-2 AMERICANO, CAMPEONATO ESTADUAL 2005
A torcida
do Botafogo, fora do seu padrão habitual, se mostrava animada e confiante.
Afinal, os três rivais estavam fora das Finais da Taça Guanabara e, para
conquistar o troféu, o alvinegro teria que medir forças com Americano, Volta
Redonda e Cabofriense. Eufóricos, os botafoguenses colocaram 70 mil pagantes no
Maracanã para a Semifinal, contra o Americano. Os sinais, sempre os sinais...
O
Botafogo, que já possuía alguns nomes como Jefferson, Juninho (zagueiro) e
Túlio (não o atacante), além de Caio, César Prates e Alex Alves, criou inúmeras
oportunidades e começou a empilhar gols perdidos. Tensa, a torcida pressentiu o
pior, que veio com o gol de Marcos Antonio, após um come desmoralizante em um
zagueiro e um tiro seco deslocando Jefferson. Na segunda etapa, após mais um
rosário de gols perdidos, o alvinegro enfim chegou ao empate, a 10 minutos do
fim, em um pênalti meio mandrake. Mas, logo após a saída de bola, enquanto a
torcida ainda festejava, uma cabeçada de Washington selou o destino
botafoguense rumo à vala. Após o jogo, a justificativa do mico foi a de sempre.
A arbitragem.
3 – RIVER
PLATE-ARG 4-2 BOTAFOGO, COPA SUL-AMERICANA 2007
O
vibrante Botafogo de Dodô, Lúcio Flávio e Cuca sonhava em conquistar o Brasileiro
e a Sul-Americana. Mas na competição nacional o devaneio já fazia água, de
forma que o time ainda se apegava à competição continental. Uma vitória por 1-0
contra o River Plate no jogo de ida deixou encaminhada a vaga para as
Quartas-de-Final, reforçada quando o time abriu o placar no Monumental de
Nuñez, com um gol de Lúcio Flávio. Pouco depois o River empatou, mas no início
da segunda etapa Dodô marcou 2-1, obrigando os “hermanos” a conseguirem três
gols para conseguir a vaga. A tarefa botafoguense se tornou mais fácil quando o
River Plate se viu em campo com 9 jogadores (Zé Roberto também foi expulso).
Mesmo assim, o River foi à frente no desespero, fustigando a meta de Max, que
começou a operar milagres e a fechar o gol (o primeiro presságio). Nos
contragolpes, Dodô colecionava gols perdidos (outro sinal...). Até que, a 15
minutos do fim, Falcao Garcia mandou um chute de longe, e Max aceitou um gordo
frango. Era o empate, que encheu os argentinos de brios. Ortega virou o jogo e,
aos 47 minutos, novamente Falcao Garcia (o heroi com três gols) marcou, de
cabeça, o gol que eliminou o Botafogo e levou sua torcida às lágrimas. As
consequências: a demissão de Cuca, a contratação de Mário Sérgio, a demissão de
Mário Sérgio e a recontratação de Cuca. Tudo muito profissional e moderno.
2 –
CORI-SABBÁ-PI 1-0 BOTAFOGO, COPA DO BRASIL 1996
O
Botafogo de Túlio, Gonçalves e Gotardo, inebriado pela recente conquista do
Brasileiro no ano anterior, vinha de um calendário apertado, e tinha a intenção
de passar logo da Primeira Fase da Copa do Brasil com uma goleada, evitando o
jogo de volta. Mas o Cori-Sabbá de Paulo Peixe, Filinho e Dilvan tinha outros
planos. Diante de 10 mil espectadores no Estádio Alberto Silva, em Teresina, os
piauienses se encheram de brios e, atuando na bicuda e nos contragolpes,
neutralizaram a empáfia dos alvinegros de General Severiano. Quando tudo
parecia caminhar para o empate, Bitonho deu o tiro de misericórdia e selou a
merecida vitória do Cori-Sabbá, iniciando uma festa que varou a madrugada na
cidade de Floriano-PI, sede da modesta agremiação. “Foi algo surreal,
transcendental, inexplicável”, diria o treinador Marinho Perez ao final da
partida. Mas o gol e o sorriso de Bitonho soavam bem concretos.
1 –
BOTAFOGO 2-3 SANTA CRUZ, COPA DO BRASIL 2010
Passar
pelo Santa Cruz, atolado na maior crise de sua história e perdido na Série D do
Brasileiro, não parecia tarefa complicada para o Botafogo, ainda mais após a
vitória em Recife (1-0). Sustentar um empate em pleno Engenhão vazio não parecia
algo complexo. No entanto, o time pernambucano, jogando com valentia e
determinação, mostrou ter entrado em campo para disputar um campeonato,
enquanto os comandados de Joel Santana estavam em clima de amistoso. O
personagem foi Jefferson, que fez defesas tão espetaculares quanto os frangos
que andou aceitando. O gol heroico do Santa Cruz foi marcado apenas aos 45 da
segunda etapa, mas a justa derrota botafoguense não foi mais contundente porque
os pernambucanos perderam várias chances, inclusive um pênalti. Ao final da
partida, todas as honrarias foram destinadas ao atacante Brasão, que desmontou
o festejado (pela imprensa carioca) sistema defensivo do Botafogo do Papai
Joel.
* * *
E, para finalizar, não poderia faltar a Masterpiece. Boa semana a todos.