Irmãos flamengos,
Eu havia preparado uma
coluna especial para este fim de ano, porém, diante dos últimos acontecimentos,
achei melhor publicá-la ano que vem.
Sobre o Luiz Antônio:
filho, pode arrumar suas malas. Para você é rua! Minha única preocupação é de
que o Flamengo faça um bom negócio com seus direitos econômicos.
Sobre a última
cafajestagem de um certo time tetrarebaixado, digo o seguinte: eu poderia
gastar tintas e tintas da minha pena, escavando fundo o fosso sem fim dos atos
imorais que têm sido perpetrados por eles.
Contudo, após bem
refletir, busquei inspiração no espírito natalino e achei muito mais adequado não
dar relevância a quem jamais conseguiu ombrear conosco, seja nos campos,
quadras ou arquibancadas. Chega de disse-que-disse e fofoquinha, que isso é
coisa de lavadeira.
Mais que me fiar em
opiniões e bate-boca, prefiro ir diretamente aos fatos. E os fatos, nesse caso,
não mentem.
Clube de Regatas do Flamengo: Hexacampeão Campeão
Brasileiro; Tricampeão da Copa do Brasil; 32 Campeonatos Cariocas (desde 1912, quando
foi fundado o departamento de esportes terrestres do clube); Campeão da Copa Mercosul;
Campeão da Taça Libertadores da América; Campeão Mundial.
Mais de 40 milhões de
fanáticos espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Time brasileiro mais conhecido mundialmente.
Uma das únicas
potências esportivas do mundo, formando atletas, desde a mais tenra idade, em
múltiplas modalidades olímpicas.
A Adidas, por exemplo, que
está com eles há mais de quinze anos, pagando, se muito, nove milhões de reais
por ano, procurou espontaneamente o Flamengo e ofereceu o melhor contrato de
fornecimento de material esportivo da América Latina. Cifras em torno de quinhentos
milhões de reais por dez anos. E isso depois de três anos desastrosos da
administração que antecedeu a atual. Não é mecenato; é grandeza esportiva.
Fluminense Football
Club:
quatro rebaixamentos nos últimos 18 anos, um dos quais para a Terceira Divisão,
ou Série C, conquistando, agora em 2013, a sua honrosa terceira virada de mesa;
Tricampeão Brasileiro; Uma Copa do Brasil; 25 Campeonatos Cariocas (contados a
partir de 1912); e... só.
A torcida, com sorte,
se aproxima da casa dos seis milhões.
...
Fica fácil, até uma
criança consegue, perceber a abissal distância que separa as duas agremiações
no campo esportivo. Repito: no campo esportivo, porque em matéria de tapetão,
não há dúvida: nós perdemos de goleada.
Mas, amigos, como eu
lhes disse antes, não vou alimentar baixaria, ainda mais num ambiente tão especial
como o Buteco do Flamengo. Seria estultice minha bater palma pra maluco dançar.
Até mesmo porque, com
seus recentes atos, o certo time "da virada" alcançou tal nível de
rebaixamento moral, que não há paralelo na escala das divisões
subalternas do futebol brasileiro (Séries B, C, D e E). Teria de ser criada uma
Série Z especialmente para eles.
...
Enfim, em vez de dar um
show de impropérios, darei aos irmãos butequeiros um belo presente de Natal:
selecionei, com muito carinho, quatro crônicas espetaculares sobre o Flamengo.
Todas, sem exceção, escritas por torcedores do...Fluminense.
E esses textos
maravilhosos, podemos dizer com toda a convicção, comprovam, irrefutavelmente, o
fascínio irresistível que o Clube de Regatas do Flamengo, o Mais Querido,
exerce, mesmo em seus mais tradicionais rivais.
Irmãos rubro-negros,
saboreiem a leitura:
Flamengo
Sessentão
“Corria o ano de
1911. Vejam vocês: — 1911! O bigode do kaiser estava, então, em plena vigência;
Mata-Hari, com um seio só, ateava paixões e suicídios; e as mulheres, aqui e
alhures, usavam umas ancas imensas e intransportáveis. Aliás, diga-se de
passagem: — é impossível não ter uma funda nostalgia dos quadris anteriores à
Primeira Grande Guerra. Uma menina de catorze anos para atravessar uma porta
tinha que se pôr de perfil. Convenhamos: — grande época! grande época!
Pois bem. Foi em
1911, tempo dos cabelos compridos e dos espartilhos, das valsas em primeira
audição e do busto unilateral de Mata-Hari, que nasceu o Flamengo. Em tempo
retifico: — nasceu a seção terrestre do Flamengo. De fato, o clube de regatas
já existia, já começava a tecer a sua camoniana tradição náutica. Em 1911,
aconteceu uma briga no Fluminense. Discute daqui, dali, e é possível que tenha
havido tapa, nome feio, o diabo. Conclusão: — cindiu-se o Fluminense e a
dissidência, ainda esbravejante, ainda ululante, foi fundar, no Flamengo de regatas,
o Flamengo de futebol.
Naquele tempo tudo
era diferente. Por exemplo: — a torcida tinha uma ênfase, uma grandiloqüência
de ópera. E acontecia esta coisa sublime: — quando havia um gol, as mulheres
rolavam em ataques. Eis o que empobrece liricamente o futebol atual: — a
inexistência do histerismo feminino. Difícil, muito difícil, achar-se uma
torcedora histérica. Por sua vez, os homens torciam como espanhóis de anedota.
E os jogadores? Ah, os jogadores! A bola tinha uma importância relativa ou
nula. Quantas vezes o craque esquecia a pelota e saía em frente, ceifando,
dizimando, assassinando canelas, rins, tórax e baços adversários? Hoje, o homem
está muito desvirilizado e já não aceita a ferocidade dos velhos tempos. Mas
raciocinemos: — em 1911, ninguém bebia um copo d’água sem paixão.
Passou-se. E o
Flamengo joga, hoje, com a mesma alma de 1911. Admite, é claro, as convenções
disciplinares que o futebol moderno exige. Mas o comportamento interior, a
gana, a garra, o élan são perfeitamente inatuais. Essa fixação no tempo explica
a tremenda força rubro-negra. Note-se: — não se trata de um fenômeno apenas do
jogador. Mas do torcedor também. Aliás, time e torcida completam-se numa
integração definitiva. O adepto de qualquer outro clube recebe um gol, uma derrota,
com uma tristeza maior ou menor, que não afeta as raízes do ser. O torcedor
rubro-negro, não. Se entra um gol adversário, ele se crispa, ele arqueja, ele
vidra os olhos, ele agoniza, ele sangra como um césar apunhalado.
Também é de 1911,
da mentalidade anterior à Primeira Grande Guerra, o amor às cores do clube.
Para qualquer um, a camisa vale tanto quanto uma gravata. Não para o Flamengo.
Para o Flamengo, a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte: —
quando o time não dá nada, a camisa é içada, desfraldada, por invisíveis mãos.
Adversários, juizes, bandeirinhas tremem então, intimidados, acovardados,
batidos. Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de
jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E,
diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha
inexpugnável.”
Nelson
Rodrigues.
...
O Flamengo Não se Explica
“De volta para
casa, quando a multidão deixava o estádio, na ruidosa comemoração de mais uma
vitória do Flamengo, eu que sou Fluminense, vinha pensando no estranho fenômeno
que é a doença rubro-negra. É algo que não se explica, cujas origens ninguém
conhece, qualquer coisa parecida com religião, feitiçaria, ou auto-hipnose
coletiva.
Ser Flamengo não
é sentimento de amor clubístico, de paixão esportiva, de predileção pela
camisa, pelas cores, pela história deste ou daquele.
Ser vascaíno, se
explica, de alguma forma, com as raízes sentimentais do clube da Cruz de Malta,
raízes cravadas na história portuguesa. O botafoguense é como o tricolor, um
quase aristocrata da torcida, o americano é devoto de um credo quase particular
de um bairro, o São Cristóvão tem seus remanescentes, o Bonsucesso, o Bangu, o
Campo Grande, o Olaria se explicam pelos próprios nomes, que são de seus
bairros, de seus subúrbios.
Mas o Flamengo, não.
É o nome de um bairro, sim, porém muito rubro-negro convicto pensa que o bairro
nasceu do clube.
É uma paixão
como um rio, que tivesse nascido como fio d’água numa cordilheira e rolasse por
um continente, crescendo, avolumando-se num monstruoso curso d’água – de paixões,
de esperanças, de vibrações, de mágoas, de decepções. Assim é o mistério do
Flamengo. Sua torcida é a maior
do Brasil embora seu quadro social seja dos menores entre os grandes.
O Scassa
explicaria facilmente, dizendo que o Flamengo salta nas manchetes dizendo que
dá um bilhão por Pelé – o Flamengo não está arrotando peru.
Se duvidarem
aquele povinho moreno, humilde, sofrido, deixa de jantar, deixa de beber, as
escolas de samba contêm suas despesas, os operários fazem misérias de economia –
mas se deixarem, se o Athiê vender, se o crioulo de ouro quiser, o dinheiro
aparece e o Flamengo compra Pelé. Esse um bilhão de cruzeiros será mais
exatamente um bilhão de esperanças e de jejuns sagrados.
Mas o jogador ou
o técnico não se constituem nas peças essenciais do Flamengo. Nem mesmo as
diretorias que passam, o Dragão Negro que fica, nada disso é decisivo na
história do clube.
Embalado por um
vento que ninguém sabe de onde vem, o time que estava por baixo, que perdia
descaradamente, que se desmoralizava em terras de Espanha, que caía de quatro
ante um Mandacaru Futebol Clube lá nos confins-do-judas, esse time de
fantasmas, um time sem nomes, quase sem craques, sem que se saiba como, de
repente se levanta em campo e parece levado de roldão por mãos invisíveis, por
um clamor inaudível que vem das arquibancadas e mais ainda das gerais.
É o 12º jogador
que está de fora, na torcida do campo, na torcida em casa, é o apelo em massa
de milhões de preces, porque sempre que o Flamengo joga por um título é para um
rubro-negro como o Brasil jogando pela Copa do Mundo.
E se o Flamengo
perde, o torcedor humilde não enrola a bandeira, não rasga a carteira, só volta
para casa, quase sempre um cortiço, uma favela, um subúrbio, guarda o pavilhão
humilhado para a próxima vitória – que há de chegar, que às vezes chega, que
ontem chegou.
E então é aquele
festival de noite e de sangue no ar, sangue de alegria, noite de festa
rubro-negra. Vá você explicar uma coisa dessas! Vá dizer que o Flamengo é a
alegria do pobre, que o Flamengo é o ópio do povo, que o Flamengo é isto ou
aquilo, que é mistura de carnaval, Flamengo é macumba, Flamengo é cachaça,
Flamengo é esperança, Flamengo é reza, samba, trem da Central, sinuca, caixa de
fósforo, asfalto, Flamengo é pandeiro, bandeira alegre, bandeira triste,
palavrão, superstição, decepção, bofetão, frangeiro é a mãe, rabo-de-arraia,
capoeira, briga no barbeiro, tudo isto um Flamengo que se um fluminense quiser
explicar – acaba maluco e a família não sabe.”
David
Nasser.
...
Ser Flamengo
“Ser Flamengo é ser humano e ser inteiro e
forte na capacidade de querer. É ter certezas, vontade, garra e disposição. É
paixão com alegria, alma com fome de gol e vontade com definição.
É ser forte como o que é rubro e negro como o
que é total. Forte e total, crescer em luta, peleja, ânimo, e decisão.
Ser Flamengo é deixar a tristeza para depois
da batalha e nela entrar por inteiro, alma de herói, cabeça de gênio militar e
coração incendiado de guerreiro. É pronunciar com emoção as palavras flama,
gana, garra, sou mais eu, ardor, vou, vida, sangue, seiva, agora, encarar, no
peito, fé, vontade. Insolação.
Ser Flamengo é morder com vigor o pão da
melhor paixão; é respirar fundo e não temer; é ter coração em compasso de
multidão.
Ser Flamengo é ousar, é contrariar norma, é
enfrentar todas as formas de poder com arte, criatividade e malemolência. É
saber o momento da contramão, de pular o muro, de driblar o otário e de ser
forte por ficar do lado do mais fraco. É poder tanto quanto querer. É querer
tanto como saber; é enfrentar trovões ou hinos de amor com o olhar firme da
convicção.
Ser Flamengo é enganar o guarda, é roubar o
beijo. É bailar sempre para distrair o poder e dobrar a injustiça. É ir em
frente onde os outros param, é derrubar barreiras onde os prudentes medram, é
jamais se arrepender, exceto do que não faz. É comungar a humildade com o rei
interno de cada um.
É crer, é ser, é vibrar. É vencer. É correr
para; jamais correr de. É seiva, é salva; é vastidão. É frente, é franco, é
forte, é furacão. É flor que quebra o muro, mão que faz o trabalho, povo que
faz país.”
Artur da Távola
...
Flamengo 4x3
Fluminense (Campeonato Carioca de 2004)
“Foi
dose. Nós fomos até lá. Estávamos lá dentro, naquele calor infernal. Ontem o
meu filho Daniel começou a descobrir que existem duas coisas nesse mundo. Uma,
é o futebol. A outra, é o Fla-Flu. Descobriu que esse adversário odiado é mais
do que um simples time de futebol. É um time de futebol seguido por uma horda
de loucos fanáticos, que se agrupam e fazem gol. Entram em campo e fazem gol.
Fazem o segundo, o do empate e o da virada.
Numa
única tacada ele descobriu o medo e o respeito que se deve ter dessa
instituição e desse jogo, clássico de apelido garboso, colorido interminável e
lotado de almas fanáticas. É coisa para gente grande. É jogo para quem tem o
coração tingido dessas cores. De grená, verde, preto, vermelho e do branco que
acompanha esse arco-íris.
O ar
que se respira no estádio é diferente, a atmosfera é diferente. Tudo muda quando
você chega na Praça da Bandeira ou cruza a Zona da Leopoldina em direção àquela
maçaroca de concreto. Um aglomerado velho e obsoleto, sem conforto ou
segurança. Mas que vicia. Nos deixa dependentes dele e de seus mistérios e
dogmas.
É. O
Maracanã tem dogmas. E não são poucos. São sérios o suficiente para fazerem de
seus jogos eternos eventos com ares de seita. Com rituais próprios, cânticos
específicos, liturgia. E consagração. Lá a gente aprende desde cedo que o jogo
só termina quando acaba (it is not over until it is over, dizia o astro do
baseball, Yogi Berra). E eu andava meio esquecido disso. Logo na chegada,
quando descíamos o Oduvaldo Cozzi a pé, com o calor escorchante se despregando
do asfalto, eu senti a atmosfera oblíqua.
Olhei
pelo viaduto abaixo, me desviando de cambistas e flanelas, e enxerguei o
capitão Belini erguendo a taça. Sempre cercado pelo burburinho da esperança. A
meia hora do pontapé inicial, cada um nós se aproxima do portão com esperança
saltando pelos poros. O menino de sete anos beijava o seu cordão sagrado, com a
camisinha tricolor dependurada num barbante preto sebento. Olhávamos um tumulto
nas bilheterias e a Raça Rubro Negra chegando pelo lado da Radial Oeste. Gente
por todos cantos. O gesto dos punhos cerrados e cruzados ao alto e o prenúncio
de arrastão. Esse é o grande contraste dessa minha vida de pequeno burguês.
Pequeno burguês até na escolha do time de coração. Time que provoca
engarrafamento no Rebouças, quando enche o Mario Filho, e fila nos restaurantes
da Zona Sul depois dos seus jogos.
É só
nesse dia de Fla-Flu que eu enxergo o contraste que existe entre as patricinhas
sem sutiã da torcida tricolor e a tropa de marginais guerreiros da Raça Rubro
Negra e da Torcida Jovem. Um abismo social. Do ambiente de clubinho direto para
a vida-como-ela-é. Um pânico de mais de trinta anos. A língua incha dentro da
boca e o medo me surrupia a nesga de esperança. A baixa-estima da elite quando
se perde em meio ao nada. Ir a esse clássico é estar perdido no meio do nada.
Subir
a rampa nos Fla-Flus é sempre um constrangimento. Um exercício de mau gosto.
Mudar de lado por ser menos numeroso. Por ter sido invadido em priscas eras,
quando tomaram nosso lugar à força e nos mandaram para o lado direito das
cabines de rádio. Explicar para um menino o porquê de naquele dia - só naquele
dia, em mais nenhum outro - ter que virar para a esquerda, no sentido horário,
é sempre uma pequena revolta. Ter que ver o jogo sentando naquelas faixas de
concreto que abrigam bundas vascaínas é falta de higiene. Um desgosto que me
acompanha desde criança, quando fui rampa acima ver o meu primeiro Fla-Flu, em
1977 (1x1).
Ontem,
os deuses desse jogo se alojaram naquelas arquibancadas desde cedo. Pintaram e
bordaram com as duas nações. Com 19 minutos do segundo tempo eu estava trepado
na divisória entre as cadeiras amarelas e as brancas (o módulo central, que
mistura as duas torcidas), fazendo o sinal de acabou com os braços, chamando um
cara do outro lado de corno e entoando o famoso “ela, ela, ela, silêncio na
favela”. Era o terceiro gol do gigante Rodolfo.
Doze
minutos depois, a favela vinha abaixo com seus gritos de guerra. E eu descia a
rampa em ritmo acelerado, com um nó na garganta, cumprimentava o grande Belini
e entrava no primeiro táxi que vi pela frente. O menino pedia para ficar. Se
lembrava de um jogo com o Santos em que saímos 1 minuto antes e o time cavou um
empate fantasma aos 48 do segundo tempo. Eu olhava fixo para a Avenida Maracanã
de dentro daquele Santana velho. O taxista insistia em dizer que achava o
estádio muito perigoso e que não gostava de futebol. Mas pedia detalhes do jogo
e mantinha diálogo com a frustração escancarada do meu pequeno Daniel.
Eu
nunca tive medo dessa trupe. Nunca mesmo. Mas que é diferente, é. Os outros
sempre foram fregueses. Sempre foram engolidos. Mas esses não. Peguei os piores
momentos da história desse jogo, quando tínhamos que ir a campo ver Artur
Antunes, Leovegildo, Leandro, Tita & Cia. Chegamos a enfrentar isso aí com
times absolutamente medíocres, de zezés, galaxes e robertinhos. E eu nunca tive
medo.
Mas
sempre existiu uma coisa que me deixa perambulando entre o mistério e o pânico.
Aliás, não é “coisa” coisa nenhuma. É metafísica. É o Sobrenatural de que
tratava Nélson. É perturbante. É aquela massa uniforme pulando do outro lado.
23 minutos, 1x3, e eles não paravam de pular; ninguém saía do seu aperto;
ninguém ia embora. Eles nunca vão embora. Eles nunca arredam o pé. Eles não se
sentam, não param de gritar. Eles não sossegam. Me perseguem, me sufocam, me habitam
os pesadelos e me causam pânico. Quando eu olho para o outro lado é isso que eu
sinto.
Eles
acreditam mais do que os outros. Mais do que eu e todos os outros juntos. E
disso, meus caros, eu me borro de medo. Eles jogam com 12. E jogar com 12
deveria ser proibido. Deixar Felipe andando de um lado para o outro, desfilando
o seu repertório de categoria e classe, foi uma imprudência. E o jogo foi um
jogo para a história. Dentro do táxi, uma frase de uma criança de sete anos
ficou estalada no meu tímpano: “papai, eu tenho nojo deles”. Eu também tenho. É
só o que posso dizer hoje. Mas se não fossem eles essa mágica não existiria.
Cláudio Lambert
...
Irmãos flamengos,
desejo a todos, e às suas famílias, um Feliz Natal e um ótimo Ano Novo!
Abraços, Saudações
Rubro-Negras e bom fim de semana.
Uma vez Flamengo, sempre
Flamengo.