sábado, 21 de dezembro de 2013

Presente de Natal: Crônicas Rubro-Negras









Irmãos flamengos,


Eu havia preparado uma coluna especial para este fim de ano, porém, diante dos últimos acontecimentos, achei melhor publicá-la ano que vem.

Sobre o Luiz Antônio: filho, pode arrumar suas malas. Para você é rua! Minha única preocupação é de que o Flamengo faça um bom negócio com seus direitos econômicos.

Sobre a última cafajestagem de um certo time tetrarebaixado, digo o seguinte: eu poderia gastar tintas e tintas da minha pena, escavando fundo o fosso sem fim dos atos imorais que têm sido perpetrados por eles.

Contudo, após bem refletir, busquei inspiração no espírito natalino e achei muito mais adequado não dar relevância a quem jamais conseguiu ombrear conosco, seja nos campos, quadras ou arquibancadas. Chega de disse-que-disse e fofoquinha, que isso é coisa de lavadeira.

Mais que me fiar em opiniões e bate-boca, prefiro ir diretamente aos fatos. E os fatos, nesse caso, não mentem.

Clube de Regatas do Flamengo: Hexacampeão Campeão Brasileiro; Tricampeão da Copa do Brasil; 32 Campeonatos Cariocas (desde 1912, quando foi fundado o departamento de esportes terrestres do clube); Campeão da Copa Mercosul; Campeão da Taça Libertadores da América; Campeão Mundial. 

Mais de 40 milhões de fanáticos espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Time brasileiro mais conhecido mundialmente.

Uma das únicas potências esportivas do mundo, formando atletas, desde a mais tenra idade, em múltiplas modalidades olímpicas. 

A Adidas, por exemplo, que está com eles há mais de quinze anos, pagando, se muito, nove milhões de reais por ano, procurou espontaneamente o Flamengo e ofereceu o melhor contrato de fornecimento de material esportivo da América Latina. Cifras em torno de quinhentos milhões de reais por dez anos. E isso depois de três anos desastrosos da administração que antecedeu a atual. Não é mecenato; é grandeza esportiva. 

Fluminense Football Club: quatro rebaixamentos nos últimos 18 anos, um dos quais para a Terceira Divisão, ou Série C, conquistando, agora em 2013, a sua honrosa terceira virada de mesa; Tricampeão Brasileiro; Uma Copa do Brasil; 25 Campeonatos Cariocas (contados a partir de 1912); e... só.

A torcida, com sorte, se aproxima da casa dos seis milhões.
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Fica fácil, até uma criança consegue, perceber a abissal distância que separa as duas agremiações no campo esportivo. Repito: no campo esportivo, porque em matéria de tapetão, não há dúvida: nós perdemos de goleada.

Mas, amigos, como eu lhes disse antes, não vou alimentar baixaria, ainda mais num ambiente tão especial como o Buteco do Flamengo. Seria estultice minha bater palma pra maluco dançar.

Até mesmo porque, com seus recentes atos, o certo time "da virada" alcançou tal nível de rebaixamento moral, que não há paralelo na escala das divisões subalternas do futebol brasileiro (Séries B, C, D e E). Teria de ser criada uma Série Z especialmente para eles.
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Enfim, em vez de dar um show de impropérios, darei aos irmãos butequeiros um belo presente de Natal: selecionei, com muito carinho, quatro crônicas espetaculares sobre o Flamengo. Todas, sem exceção, escritas por torcedores do...Fluminense.

E esses textos maravilhosos, podemos dizer com toda a convicção, comprovam, irrefutavelmente, o fascínio irresistível que o Clube de Regatas do Flamengo, o Mais Querido, exerce, mesmo em seus mais tradicionais rivais.

Irmãos rubro-negros, saboreiem a leitura:


Flamengo Sessentão


 “Corria o ano de 1911. Vejam vocês: — 1911! O bigode do kaiser estava, então, em plena vigência; Mata-Hari, com um seio só, ateava paixões e suicídios; e as mulheres, aqui e alhures, usavam umas ancas imensas e intransportáveis. Aliás, diga-se de passagem: — é impossível não ter uma funda nostalgia dos quadris anteriores à Primeira Grande Guerra. Uma menina de catorze anos para atravessar uma porta tinha que se pôr de perfil. Convenhamos: — grande época! grande época!

Pois bem. Foi em 1911, tempo dos cabelos compridos e dos espartilhos, das valsas em primeira audição e do busto unilateral de Mata-Hari, que nasceu o Flamengo. Em tempo retifico: — nasceu a seção terrestre do Flamengo. De fato, o clube de regatas já existia, já começava a tecer a sua camoniana tradição náutica. Em 1911, aconteceu uma briga no Fluminense. Discute daqui, dali, e é possível que tenha havido tapa, nome feio, o diabo. Conclusão: — cindiu-se o Fluminense e a dissidência, ainda esbravejante, ainda ululante, foi fundar, no Flamengo de regatas, o Flamengo de futebol.

Naquele tempo tudo era diferente. Por exemplo: — a torcida tinha uma ênfase, uma grandiloqüência de ópera. E acontecia esta coisa sublime: — quando havia um gol, as mulheres rolavam em ataques. Eis o que empobrece liricamente o futebol atual: — a inexistência do histerismo feminino. Difícil, muito difícil, achar-se uma torcedora histérica. Por sua vez, os homens torciam como espanhóis de anedota. E os jogadores? Ah, os jogadores! A bola tinha uma importância relativa ou nula. Quantas vezes o craque esquecia a pelota e saía em frente, ceifando, dizimando, assassinando canelas, rins, tórax e baços adversários? Hoje, o homem está muito desvirilizado e já não aceita a ferocidade dos velhos tempos. Mas raciocinemos: — em 1911, ninguém bebia um copo d’água sem paixão.

Passou-se. E o Flamengo joga, hoje, com a mesma alma de 1911. Admite, é claro, as convenções disciplinares que o futebol moderno exige. Mas o comportamento interior, a gana, a garra, o élan são perfeitamente inatuais. Essa fixação no tempo explica a tremenda força rubro-negra. Note-se: — não se trata de um fenômeno apenas do jogador. Mas do torcedor também. Aliás, time e torcida completam-se numa integração definitiva. O adepto de qualquer outro clube recebe um gol, uma derrota, com uma tristeza maior ou menor, que não afeta as raízes do ser. O torcedor rubro-negro, não. Se entra um gol adversário, ele se crispa, ele arqueja, ele vidra os olhos, ele agoniza, ele sangra como um césar apunhalado.

Também é de 1911, da mentalidade anterior à Primeira Grande Guerra, o amor às cores do clube. Para qualquer um, a camisa vale tanto quanto uma gravata. Não para o Flamengo. Para o Flamengo, a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte: — quando o time não dá nada, a camisa é içada, desfraldada, por invisíveis mãos. Adversários, juizes, bandeirinhas tremem então, intimidados, acovardados, batidos. Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.”

Nelson Rodrigues.

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O Flamengo Não se Explica


 “De volta para casa, quando a multidão deixava o estádio, na ruidosa comemoração de mais uma vitória do Flamengo, eu que sou Fluminense, vinha pensando no estranho fenômeno que é a doença rubro-negra. É algo que não se explica, cujas origens ninguém conhece, qualquer coisa parecida com religião, feitiçaria, ou auto-hipnose coletiva.

Ser Flamengo não é sentimento de amor clubístico, de paixão esportiva, de predileção pela camisa, pelas cores, pela história deste ou daquele.

Ser vascaíno, se explica, de alguma forma, com as raízes sentimentais do clube da Cruz de Malta, raízes cravadas na história portuguesa. O botafoguense é como o tricolor, um quase aristocrata da torcida, o americano é devoto de um credo quase particular de um bairro, o São Cristóvão tem seus remanescentes, o Bonsucesso, o Bangu, o Campo Grande, o Olaria se explicam pelos próprios nomes, que são de seus bairros, de seus subúrbios.

Mas o Flamengo, não. É o nome de um bairro, sim, porém muito rubro-negro convicto pensa que o bairro nasceu do clube. 

É uma paixão como um rio, que tivesse nascido como fio d’água numa cordilheira e rolasse por um continente, crescendo, avolumando-se num monstruoso curso d’água – de paixões, de esperanças, de vibrações, de mágoas, de decepções. Assim é o mistério do Flamengo. Sua torcida é a maior do Brasil embora seu quadro social seja dos menores entre os grandes

O Scassa explicaria facilmente, dizendo que o Flamengo salta nas manchetes dizendo que dá um bilhão por Pelé – o Flamengo não está arrotando peru. 

Se duvidarem aquele povinho moreno, humilde, sofrido, deixa de jantar, deixa de beber, as escolas de samba contêm suas despesas, os operários fazem misérias de economia – mas se deixarem, se o Athiê vender, se o crioulo de ouro quiser, o dinheiro aparece e o Flamengo compra Pelé. Esse um bilhão de cruzeiros será mais exatamente um bilhão de esperanças e de jejuns sagrados.

Mas o jogador ou o técnico não se constituem nas peças essenciais do Flamengo. Nem mesmo as diretorias que passam, o Dragão Negro que fica, nada disso é decisivo na história do clube.

Embalado por um vento que ninguém sabe de onde vem, o time que estava por baixo, que perdia descaradamente, que se desmoralizava em terras de Espanha, que caía de quatro ante um Mandacaru Futebol Clube lá nos confins-do-judas, esse time de fantasmas, um time sem nomes, quase sem craques, sem que se saiba como, de repente se levanta em campo e parece levado de roldão por mãos invisíveis, por um clamor inaudível que vem das arquibancadas e mais ainda das gerais.

É o 12º jogador que está de fora, na torcida do campo, na torcida em casa, é o apelo em massa de milhões de preces, porque sempre que o Flamengo joga por um título é para um rubro-negro como o Brasil jogando pela Copa do Mundo.

E se o Flamengo perde, o torcedor humilde não enrola a bandeira, não rasga a carteira, só volta para casa, quase sempre um cortiço, uma favela, um subúrbio, guarda o pavilhão humilhado para a próxima vitória – que há de chegar, que às vezes chega, que ontem chegou.

E então é aquele festival de noite e de sangue no ar, sangue de alegria, noite de festa rubro-negra. Vá você explicar uma coisa dessas! Vá dizer que o Flamengo é a alegria do pobre, que o Flamengo é o ópio do povo, que o Flamengo é isto ou aquilo, que é mistura de carnaval, Flamengo é macumba, Flamengo é cachaça, Flamengo é esperança, Flamengo é reza, samba, trem da Central, sinuca, caixa de fósforo, asfalto, Flamengo é pandeiro, bandeira alegre, bandeira triste, palavrão, superstição, decepção, bofetão, frangeiro é a mãe, rabo-de-arraia, capoeira, briga no barbeiro, tudo isto um Flamengo que se um fluminense quiser explicar – acaba maluco e a família não sabe.”

David Nasser.

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Ser Flamengo


 “Ser Flamengo é ser humano e ser inteiro e forte na capacidade de querer. É ter certezas, vontade, garra e disposição. É paixão com alegria, alma com fome de gol e vontade com definição.

É ser forte como o que é rubro e negro como o que é total. Forte e total, crescer em luta, peleja, ânimo, e decisão.

Ser Flamengo é deixar a tristeza para depois da batalha e nela entrar por inteiro, alma de herói, cabeça de gênio militar e coração incendiado de guerreiro. É pronunciar com emoção as palavras flama, gana, garra, sou mais eu, ardor, vou, vida, sangue, seiva, agora, encarar, no peito, fé, vontade. Insolação.

Ser Flamengo é morder com vigor o pão da melhor paixão; é respirar fundo e não temer; é ter coração em compasso de multidão.

Ser Flamengo é ousar, é contrariar norma, é enfrentar todas as formas de poder com arte, criatividade e malemolência. É saber o momento da contramão, de pular o muro, de driblar o otário e de ser forte por ficar do lado do mais fraco. É poder tanto quanto querer. É querer tanto como saber; é enfrentar trovões ou hinos de amor com o olhar firme da convicção.

Ser Flamengo é enganar o guarda, é roubar o beijo. É bailar sempre para distrair o poder e dobrar a injustiça. É ir em frente onde os outros param, é derrubar barreiras onde os prudentes medram, é jamais se arrepender, exceto do que não faz. É comungar a humildade com o rei interno de cada um.

É crer, é ser, é vibrar. É vencer. É correr para; jamais correr de. É seiva, é salva; é vastidão. É frente, é franco, é forte, é furacão. É flor que quebra o muro, mão que faz o trabalho, povo que faz país.”

Artur da Távola

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Flamengo 4x3 Fluminense (Campeonato Carioca de 2004)


 “Foi dose. Nós fomos até lá. Estávamos lá dentro, naquele calor infernal. Ontem o meu filho Daniel começou a descobrir que existem duas coisas nesse mundo. Uma, é o futebol. A outra, é o Fla-Flu. Descobriu que esse adversário odiado é mais do que um simples time de futebol. É um time de futebol seguido por uma horda de loucos fanáticos, que se agrupam e fazem gol. Entram em campo e fazem gol. Fazem o segundo, o do empate e o da virada.

Numa única tacada ele descobriu o medo e o respeito que se deve ter dessa instituição e desse jogo, clássico de apelido garboso, colorido interminável e lotado de almas fanáticas. É coisa para gente grande. É jogo para quem tem o coração tingido dessas cores. De grená, verde, preto, vermelho e do branco que acompanha esse arco-íris. 

O ar que se respira no estádio é diferente, a atmosfera é diferente. Tudo muda quando você chega na Praça da Bandeira ou cruza a Zona da Leopoldina em direção àquela maçaroca de concreto. Um aglomerado velho e obsoleto, sem conforto ou segurança. Mas que vicia. Nos deixa dependentes dele e de seus mistérios e dogmas. 

É. O Maracanã tem dogmas. E não são poucos. São sérios o suficiente para fazerem de seus jogos eternos eventos com ares de seita. Com rituais próprios, cânticos específicos, liturgia. E consagração. Lá a gente aprende desde cedo que o jogo só termina quando acaba (it is not over until it is over, dizia o astro do baseball, Yogi Berra). E eu andava meio esquecido disso. Logo na chegada, quando descíamos o Oduvaldo Cozzi a pé, com o calor escorchante se despregando do asfalto, eu senti a atmosfera oblíqua.

Olhei pelo viaduto abaixo, me desviando de cambistas e flanelas, e enxerguei o capitão Belini erguendo a taça. Sempre cercado pelo burburinho da esperança. A meia hora do pontapé inicial, cada um nós se aproxima do portão com esperança saltando pelos poros. O menino de sete anos beijava o seu cordão sagrado, com a camisinha tricolor dependurada num barbante preto sebento. Olhávamos um tumulto nas bilheterias e a Raça Rubro Negra chegando pelo lado da Radial Oeste. Gente por todos cantos. O gesto dos punhos cerrados e cruzados ao alto e o prenúncio de arrastão. Esse é o grande contraste dessa minha vida de pequeno burguês. Pequeno burguês até na escolha do time de coração. Time que provoca engarrafamento no Rebouças, quando enche o Mario Filho, e fila nos restaurantes da Zona Sul depois dos seus jogos.

É só nesse dia de Fla-Flu que eu enxergo o contraste que existe entre as patricinhas sem sutiã da torcida tricolor e a tropa de marginais guerreiros da Raça Rubro Negra e da Torcida Jovem. Um abismo social. Do ambiente de clubinho direto para a vida-como-ela-é. Um pânico de mais de trinta anos. A língua incha dentro da boca e o medo me surrupia a nesga de esperança. A baixa-estima da elite quando se perde em meio ao nada. Ir a esse clássico é estar perdido no meio do nada. 

Subir a rampa nos Fla-Flus é sempre um constrangimento. Um exercício de mau gosto. Mudar de lado por ser menos numeroso. Por ter sido invadido em priscas eras, quando tomaram nosso lugar à força e nos mandaram para o lado direito das cabines de rádio. Explicar para um menino o porquê de naquele dia - só naquele dia, em mais nenhum outro - ter que virar para a esquerda, no sentido horário, é sempre uma pequena revolta. Ter que ver o jogo sentando naquelas faixas de concreto que abrigam bundas vascaínas é falta de higiene. Um desgosto que me acompanha desde criança, quando fui rampa acima ver o meu primeiro Fla-Flu, em 1977 (1x1).

Ontem, os deuses desse jogo se alojaram naquelas arquibancadas desde cedo. Pintaram e bordaram com as duas nações. Com 19 minutos do segundo tempo eu estava trepado na divisória entre as cadeiras amarelas e as brancas (o módulo central, que mistura as duas torcidas), fazendo o sinal de acabou com os braços, chamando um cara do outro lado de corno e entoando o famoso “ela, ela, ela, silêncio na favela”. Era o terceiro gol do gigante Rodolfo. 

Doze minutos depois, a favela vinha abaixo com seus gritos de guerra. E eu descia a rampa em ritmo acelerado, com um nó na garganta, cumprimentava o grande Belini e entrava no primeiro táxi que vi pela frente. O menino pedia para ficar. Se lembrava de um jogo com o Santos em que saímos 1 minuto antes e o time cavou um empate fantasma aos 48 do segundo tempo. Eu olhava fixo para a Avenida Maracanã de dentro daquele Santana velho. O taxista insistia em dizer que achava o estádio muito perigoso e que não gostava de futebol. Mas pedia detalhes do jogo e mantinha diálogo com a frustração escancarada do meu pequeno Daniel. 

Eu nunca tive medo dessa trupe. Nunca mesmo. Mas que é diferente, é. Os outros sempre foram fregueses. Sempre foram engolidos. Mas esses não. Peguei os piores momentos da história desse jogo, quando tínhamos que ir a campo ver Artur Antunes, Leovegildo, Leandro, Tita & Cia. Chegamos a enfrentar isso aí com times absolutamente medíocres, de zezés, galaxes e robertinhos. E eu nunca tive medo.

Mas sempre existiu uma coisa que me deixa perambulando entre o mistério e o pânico. Aliás, não é “coisa” coisa nenhuma. É metafísica. É o Sobrenatural de que tratava Nélson. É perturbante. É aquela massa uniforme pulando do outro lado. 23 minutos, 1x3, e eles não paravam de pular; ninguém saía do seu aperto; ninguém ia embora. Eles nunca vão embora. Eles nunca arredam o pé. Eles não se sentam, não param de gritar. Eles não sossegam. Me perseguem, me sufocam, me habitam os pesadelos e me causam pânico. Quando eu olho para o outro lado é isso que eu sinto. 

Eles acreditam mais do que os outros. Mais do que eu e todos os outros juntos. E disso, meus caros, eu me borro de medo. Eles jogam com 12. E jogar com 12 deveria ser proibido. Deixar Felipe andando de um lado para o outro, desfilando o seu repertório de categoria e classe, foi uma imprudência. E o jogo foi um jogo para a história. Dentro do táxi, uma frase de uma criança de sete anos ficou estalada no meu tímpano: “papai, eu tenho nojo deles”. Eu também tenho. É só o que posso dizer hoje. Mas se não fossem eles essa mágica não existiria.

Cláudio Lambert

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Irmãos flamengos, desejo a todos, e às suas famílias, um Feliz Natal e um ótimo Ano Novo!

Abraços, Saudações Rubro-Negras e bom fim de semana.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.