O jogo final se
aproxima.
A consumação de uma
temporada dura, dolorida, marcada por crises e pela inesgotável capacidade
flamenga de ressurgir das cinzas, alimentando-se do caos e da terra arrasada, estapeando
as apressadas previsões de cassandras sequiosas por seu perecimento.
Porque, contra todas as
expectativas, o Flamengo está na decisão.
Decide o título contra
um adversário que, inicialmente, dispõe de um favoritismo largo, amplo, desses
que não se admitem discussão ou análises mais lúcidas. É o provável campeão e
pronto. Até há certo fundamento. Seu time é jovem, impetuoso, vertical, e
conseguiu montar um sistema ofensivo mortífero, capaz de marcar gols em cachos.
Tudo sob o comando do já experiente líder, anos e anos de clube, acostumado a diversas
batalhas.
O Flamengo possui um
time em construção, conjugando jovens da base, reforços baratos, apostas e
remanescentes de outras gerações, sob a batuta de um treinador em início de
carreira. Um time que vai sendo forjado no ardente fogo das incessantes
intempéries que permeiam sua trajetória. Uma penca de vezes é tido como eliminado
antes mesmo da peleja, somente para desafiar a lógica e seguir vivo.
Um time que tem fome.
Fome de mostrar seu
valor, fome de tornar as verborrágicas e estridentes críticas prévias tão ocas
e vazias como a maldosa mente da maioria dos que detrataram um time que carrega
a maravilhosa sina de carregar a mais pesada camisa do futebol brasileiro, a
única camisa capaz de tirar do imobilismo qualquer torcedor de qualquer equipe,
uma camisa que não admite tons enviesados, onde a distância do éden ao limbo é um
gol.
Todos dão o favoritismo
ao adversário, que não hesitará em esmagar o claudicante time flamengo já no
início das finais, decidirá o título antes do jogo final. E, no entanto,
estamos aqui. O Flamengo está a um 0-0 do título, da glória. Anulou
meticulosamente o poderoso ataque adversário, suas tão decantadas peças pouco
produziram, seu líder cansou e sentiu o ritmo do jogo. Em nenhum momento seu
plano de jogo foi seriamente ameaçado. Inteligente, determinado e com muita fome,
o Flamengo, se não reverteu o favoritismo decretado pelos que sempre lhe
enxergam largos defeitos, ao menos dispõe de uma pequena, mas não desprezível
vantagem.
O Maracanã estará
lindo. Irá lotar de torcedores flamengos ansiosos pelo grito de campeão. O jogo
será tenso, nervoso. Mas, inteligente, o Flamengo saberá seguir neutralizando a
força de um adversário que agora já não ostenta a mesma confiança. Mais, no
tempo certo trará a sua torcida para dentro do campo, fará sua Nação empurrar
seus heróis para, enfim, impor sua força e, num golpe fatal, subjugar em
definitivo o inimigo e, altivo, exercer o papel ao qual foi talhado, o papel de
vencedor, protagonista, doutrinador.
Assim sentirão na carne
os jovens Mauricinho, Geovani, Mazinho e Romário. Assim perceberá, novamente, o
experiente Roberto Dinamite. Assim ansiarão Bebeto, Jorginho, Aldair, Zé
Carlos, Marquinho. Assim se desenhará o capítulo final do Campeonato de 1986.
Assim seremos,
novamente, campeões.