domingo, 24 de novembro de 2013

Alfarrábios do Melo

O jogo final se aproxima.

A consumação de uma temporada dura, dolorida, marcada por crises e pela inesgotável capacidade flamenga de ressurgir das cinzas, alimentando-se do caos e da terra arrasada, estapeando as apressadas previsões de cassandras sequiosas por seu perecimento.

Porque, contra todas as expectativas, o Flamengo está na decisão.

Decide o título contra um adversário que, inicialmente, dispõe de um favoritismo largo, amplo, desses que não se admitem discussão ou análises mais lúcidas. É o provável campeão e pronto. Até há certo fundamento. Seu time é jovem, impetuoso, vertical, e conseguiu montar um sistema ofensivo mortífero, capaz de marcar gols em cachos. Tudo sob o comando do já experiente líder, anos e anos de clube, acostumado a diversas batalhas.

O Flamengo possui um time em construção, conjugando jovens da base, reforços baratos, apostas e remanescentes de outras gerações, sob a batuta de um treinador em início de carreira. Um time que vai sendo forjado no ardente fogo das incessantes intempéries que permeiam sua trajetória. Uma penca de vezes é tido como eliminado antes mesmo da peleja, somente para desafiar a lógica e seguir vivo.

Um time que tem fome.

Fome de mostrar seu valor, fome de tornar as verborrágicas e estridentes críticas prévias tão ocas e vazias como a maldosa mente da maioria dos que detrataram um time que carrega a maravilhosa sina de carregar a mais pesada camisa do futebol brasileiro, a única camisa capaz de tirar do imobilismo qualquer torcedor de qualquer equipe, uma camisa que não admite tons enviesados, onde a distância do éden ao limbo é um gol.

Todos dão o favoritismo ao adversário, que não hesitará em esmagar o claudicante time flamengo já no início das finais, decidirá o título antes do jogo final. E, no entanto, estamos aqui. O Flamengo está a um 0-0 do título, da glória. Anulou meticulosamente o poderoso ataque adversário, suas tão decantadas peças pouco produziram, seu líder cansou e sentiu o ritmo do jogo. Em nenhum momento seu plano de jogo foi seriamente ameaçado. Inteligente, determinado e com muita fome, o Flamengo, se não reverteu o favoritismo decretado pelos que sempre lhe enxergam largos defeitos, ao menos dispõe de uma pequena, mas não desprezível vantagem.

O Maracanã estará lindo. Irá lotar de torcedores flamengos ansiosos pelo grito de campeão. O jogo será tenso, nervoso. Mas, inteligente, o Flamengo saberá seguir neutralizando a força de um adversário que agora já não ostenta a mesma confiança. Mais, no tempo certo trará a sua torcida para dentro do campo, fará sua Nação empurrar seus heróis para, enfim, impor sua força e, num golpe fatal, subjugar em definitivo o inimigo e, altivo, exercer o papel ao qual foi talhado, o papel de vencedor, protagonista, doutrinador.

Assim sentirão na carne os jovens Mauricinho, Geovani, Mazinho e Romário. Assim perceberá, novamente, o experiente Roberto Dinamite. Assim ansiarão Bebeto, Jorginho, Aldair, Zé Carlos, Marquinho. Assim se desenhará o capítulo final do Campeonato de 1986.


Assim seremos, novamente, campeões.