Em conversas ao longo
dessa semana, debatemos aqui no Buteco a questão das torcidas organizadas, sua importância
e de que maneira os clubes, em especial o Flamengo, poderiam lidar com elas.
Esse assunto já havia sido
discutido naquela fase do início do ano, quando o time está de férias e não
temos muito sobre o que discutir. Numa dessas ocasiões, resolvi escrever um
esboço de projeto para um programa de relacionamento entre o Flamengo e suas
torcidas organizadas. Trata-se de um modelo de parceria que visa trazer ganhos
aos dois lados, baseado em um sistema de metas para o relacionamento com bonificações
e punições para que as organizadas se sintam incentivadas a representar cada
vez melhor o Flamengo e coibir ações de seus integrantes que possam pôr em
risco o clube e os torcedores não organizados.
Transcrevo a seguir o texto
completo, para levantar o tema para discussão e ser enriquecido pelos
comentários dos frequentadores do Buteco.
Programa de relacionamento
institucional entre o CRF e as torcidas organizadas do Flamengo
Função e importância das
T.O.s
Desde o surgimento da
Charanga Rubro-Negra, as Torcidas Organizadas se tornaram responsáveis pela
maior parte da festa nas arquibancadas dos jogos do Flamengo. Instrumentos de
música, cantos, papel picado, faixas, bandeiras, sinalizadores ajudaram a criar
a atmosfera que tornaram os jogos contra o Flamengo no Maracanã um pesadelo
para muitos clubes no Brasil.
Fundamentais na construção
da mística rubro-negra, as T.O.s tiveram papel decisivo em partidas históricas,
como no caso do cornetaço que desestabilizou o time do Vasco no primeiro jogo
da decisão do estadual de 2000. Ainda, sua presença constante quando o time
joga fora de casa, leva a outras regiões do Brasil o clima envolvente do
Maracanã, e reforçando o caráter
nacional, e as vezes internacional,
que só a torcida e do Flamengo tem, contribuindo para o crescimento e a
consolidação do valor da marca do CRF.
Comportamento ruim e
transtornos causados ao clube
Infelizmente, a partir dos
anos 90, principalmente, se intensificaram as brigas e as batalhas campais
envolvendo torcidas organizadas, especialmente as do Flamengo, que brigavam
entre si. Confrontos violentos, com armas e mortes se tornaram comuns e as
tardes de famílias no Maracanã se tornaram apenas uma doce memória.
Além do afastamento
natural do torcedor comum dos estádios e da conseqüente queda de arrecadação e
média de público, a violência das T.O.s acabou trazendo uma imagem negativa
para o Flamengo. Os jogos do clube se
tornaram sinônimos de brigas, vandalismo, confrontos com a PM, arrastões e todo
tipo de confusão. A prisão de torcedores organizados leva as marcas de
patrocinadores do clube aos telejornais e às páginas policiais, dificultando
negociações e afastando novos patrocinadores.
Além disso, a festa das
torcidas muitas vezes sai de controle, causando punições ao clube com perda de
mandos de campo que causam prejuízo financeiro e técnico ao time, que é forçado
a jogar em campos menores, fazer viagens desnecessárias com impacto no preparo
físico dos jogadores.
Estabelecer uma relação
ganha-ganha
O objetivo deste plano é
estabelecer normas para que haja uma relação institucional oficial entre o CRF
e as principais T.O.s, de modo que ambos
possam ganhar com isso.
O ganho para o clube seria
a garantia de presença e apoio em todos os jogos, especialmente fora de casa e
uma ajuda na fiscalização do público nos estádios, evitando brigas e atitudes
de torcedores que possam prejudicar o Flamengo, causando perda de mando de
campo e danos a sua imagem ou de seus patrocinadores.
O ganho para as
organizadas viria inicialmente na forma de ingressos para uma parcela de seus
membros, dentro das regras estabelecidas pelo clube e variável de acordo com o
desempenho dentro de critérios estabelecidos e fiscalizados pelo CRF. As
torcidas organizadas receberiam ainda auxílio logístico e de contatos para
realização de projetos especiais com apoio (não financeiro) do clube(ex. maior
mosaico do mundo, camisa gigante do Flamengo no dia do rubro-negro, homenagens
especiais, etc.).
Elegibilidade
Para dar início ao
programa, o CRF convidará as maiores torcidas organizadas para uma reunião onde serão apresentadas as
condições e avaliado o interesse de cada T.O. em participar. As condições
necessárias são:
- Não ter membros ativos
com condenações transitadas em julgado.
- Ter presença comprovada
em pelo menos 70% dos jogos fora de casa do Flamengo na última temporada.
- Ter presença comprovada
em 100% dos jogos em casa do Flamengo na última temporada.
- Apresentar uma lista
completa de todos os seus membros filiados para checagem de ficha criminal e
processos na justiça.
- Apresentar uma média de
freqüência de seus membros ao longo da última temporada.
Metas/Desempenho
Os critérios para
avaliação de desempenho das torcidas organizadas seriam:
1. Presença: Manutenção de uma média de freqüência baseada em
números inicialmente apresentados pela própria torcida e, posteriormente,
aferidos pelo CRF através do GEASE.
2. Comportamento: Não devem ocorrer brigas e confusões
envolvendo membros daquela torcida organizada.
3. Apoio: As T.O.s devem encontrar uma forma de somar seu apoio
ao time do Flamengo e nunca cantar para atrapalhar o canto de outra T.O.
4. Criatividade: As torcidas serão incentivadas a levar
bandeirões, mosaicos ou realizar ações positivas que estimulem a presença do
torcedor comum ao estádio, como churrascos ou rodas de samba pré-jogo, por
exemplo.
5. Tradição: Cantos como
“Conte Comigo Mengão”, o hino do Flamengo e o tradicional grito de “Mengo!!” devem
fazer parte do repertório de todas as T.O.s em todos os jogos dentro e fora de
casa.
Incentivos/Punições
A. Incentivos:
As torcidas que mantiverem
os índices de desempenho igual ou acima do esperado, terão aumentos percentuais
em sua cota de inrgressos até um limite de 75% da freqüência média.
B. Punições:
Para o bom andamento do
programa, é fundamental que as punições sejam severas e corretamente aplicadas.
O GEASE será responsável por elaborar relatórios sobre o andamento de cada
partida e sobre a aplicação e o cumprimento das punições. São elas:
B1. Não cumprimento das
metas estabelecidas: Redução da carga de ingressos proporcionalmente até a
exclusão do programa por 1 ano.
B2. Casos especiais:
Briga: A torcida que se
envolver em brigas reportadas pelo GEASE terá redução imediata de sua carga de
ingressos pela metade. A reincidência acarreta na exclusão do programa. Em caso
de uma terceira briga reportada, a Torcida será banida dos jogos do Flamengo,
com pedido enviado á PM para que impeça a entrada de qualquer material que faça
referência àquela T.O.
Prisões de membros de
T.O.s: Se algum membro for preso, acarreta na exclusão imediata daquela torcida
no programa e seu banimento dos jogos do clube por 1 ano. Em casos de
reincidência a pena será dobrada a cada caso.
Cambistas: Os ingressos
cedidos as torcidas serão marcados com o nome da torcida a que foram
destinados. Em caso de flagrante ou relatório do GEASE apontando para venda
destes ingressos, a torcida terá sua cota reduzida pela metade. A reincidência
acarretará na exclusão do programa.
Mecanismos de controle
Para controlar o
desempenho das torcidas dentro dos parâmetros estabelecidos no programa, será
reinstituído o GEASE, que deverá ter estrutura capaz de realizar esta tarefa.
Este departamento deverá fazer relatórios a cada partida informando o transcorrido
antes, durante e depois do jogo, incluindo relatórios da PM ou reportagens que
envolvam o nome do Flamengo e/ou de seus patrocinadores.
Os ingressos para T.O.s deverão ter identificação especial e acesso aos estádios em que o Flamengo mandar seus jogos em entradas separadas dos torcedores comuns para evitar filas e confusões.
Finalmente, deverão acontecer reuniões entre o GEASE, os representantes do CRF e os presidentes das T.O.s a cada 3 meses para acompanhamento dos resultados do programa.
Abs e SRN!