Saudações flamengas a todos,
Hoje pretendo prestar uma última homenagem ao Blog da FlamengoNet, que infelizmente teve suas atividades encerradas na última semana. O espaço onde passei a interagir mais fortemente com as coisas flamengas, inicialmente como comentarista, depois como colunista, onde colaborei por cerca de quatro anos e meio.
Assim, quero deixar aqui o meu primeiro texto lá postado, os meus primeiros "Alfarrábios", datados do já longínquo setembro de 2008.
Boa releitura.
O dia em que dividimos a Fonte Nova
Corria o Campeonato Brasileiro de
1987 (podem chamar de Copa União, Módulo Verde etc, mas o que se disputava era
efetivamente o título nacional daquele ano). O grande favorito para a conquista
do título era o Atlético-MG de Telê, Luizinho, João Leite, Sérgio Araújo e
afins, que já vencera o primeiro turno e estava garantido nas semifinais. O
Flamengo, após um início bem vacilante, tinha trocado o treinador e parecia, na
reta final da disputa do segundo turno, ter encontrado sua formação titular, ou
“encaixado” a escalação, como se diz hoje. A equipe vinha de uma boa seqüência
de resultados e disputava a segunda vaga do grupo com o Palmeiras, em uma briga
ponto a ponto. A partida seguinte seria contra o temível Bahia e sua apaixonada
torcida.
Moro em Salvador desde pequeno.
Nos anos 80, jogo do Mengo pela TV era festa, normalmente a gente precisava se
virar pelo rádio, mesmo. Então, era evidente que eu tinha que ir à Fonte Nova.
Seria a única oportunidade de assistir ao Zico atuar profissionalmente ao vivo
(das outras vezes que o Flamengo ou a Seleção haviam jogado na Bahia, o Galinho
estava machucado, suspenso ou jogando no exterior).
Jogar contra o Bahia na Fonte
Nova era sempre complicado. A torcida gritava alucinadamente, comemorava até
arremesso de lateral, pressionava os adversários de forma sufocante,
independente de o time estar bem, mal, ter craques ou barangas no elenco. Uma massa
que eu já vi colocar 50 mil para torcer contra o Operário de Várzea Grande numa
quarta-feira à noite, em jogo periférico de Brasileirão. E para esse jogo os
baianos estavam especialmente animados, pois o time deles também vinha
melhorando e recentemente havia “aprontado” em cima do Palmeiras em pleno
Parque Antarctica.
E foi então que eu pude
presenciar do que o Flamengo e a sua torcida são capazes. Quando eu cheguei no
estádio, e à medida que o horário da partida se aproximava, percebi uma coisa
inimaginável para qualquer mortal: a Fonte Nova estava dividida! Faixas e
faixas, de diversas procedências (RJ, SE, RN, PB etc), e os tricolores, tão
ciosos de sua fanática torcida, tiveram que engolir a presença de mais de 30
mil rubro-negros no estádio! Atônitos, eles se perguntavam: de onde vem tanta
gente?
Houve momentos em que eu me senti
em casa, com uma inflamada galera rubro-negra abafando os gritos nativos, e ao
invés de ouvir o costumeiro “Baêa, baêa”, escutava o pulsante “Mengôôôôôô”
empurrando o Flamengo, mandando o time pra frente, como se no Maraca estivesse.
Nunca, em quase trinta anos acompanhando futebol, eu vi nada parecido acontecer
no templo do futebol baiano.
O jogo? O Mengão venceu sem
muitas dificuldades, com excepcionais atuações do trio Zico, Renato e Bebeto
que garantiram o placar de 2-0 e a continuidade da arrancada que o levaria ao
tetra. Mas a vitória que mais me marcou foi o triunfo no “duelo das torcidas”.
O dia em que o Flamengo obrigou a fanática torcida do Bahia a “chegar pro lado
e dar uma licencinha”.