Saudações flamengas a
todos,
E cá
estamos, pela OITAVA vez nos últimos quinze anos, falando de fuga de
rebaixamento, atiçando a ansiedade dos rivais, preocupados com os
resultados de equipes do quilate de Criciúma e Ponte Preta.
A
situação, que era preocupante mas andava razoavelmente mantida sob
certo controle, voltou a ganhar contornos ameaçadores após a
inexplicável, incompreensível e inaceitável, sob todos os aspectos colocados à luz dos olhos até
aqui, renúncia de Mano Menezes ao comando técnico do time do
Flamengo.
Temos,
para as quinze rodadas finais, uma equipe limitada e insegura e um
treinador interino.
E estamos
a dois pontos da Zona de Rebaixamento, com a maioria dos adversários
diretos ensaiando reação.
A
pergunta: como evitar o desastre maior?
Não
tenho essa resposta, mas arrisco uma palavra. Simplicidade.
Simplicidade
em aceitar que a equipe é limitada e não pedir mais do que um
futebol aplicado e aguerrido de seus jogadores, simplicidade em
manter os jogadores motivados, simplicidade em trazer a torcida para
junto da equipe, simplicidade em aceitar erros e discutir alternativas com outras vozes.
E acima
de tudo simplicidade na forma de fazer os jogadores renderem.
A mesma
simplicidade que nos salvou em praticamente todas as outras ocasiões.
Senão,
vejamos.
1998
Sem
ambiente, Joel Santana cai, a diretoria efetiva o pouco experiente
Toninho Barroso, que, sem estofo para administrar um elenco de
jogadores manhosos, afunda na zona do rebaixamento e é demitido no
(tristemente) famoso jogo do dinheiro devolvido, contra a Portuguesa.
Chega o experiente Evaristo de Macedo, que estabelece uma relação
“olhos nos olhos” com as principais lideranças, monta um esquema
tático simples e eficiente e rapidamente consegue resultados. A
reação é tão positiva que, de virtual rebaixado, o Flamengo por
pouco não consegue uma classificação histórica às fases finais.
2001
Um elenco
caro, desunido e completamente descompromissado vai se mantendo de
forma persistente na zona de rebaixamento por todo o campeonato.
Apático e sem esboçar qualquer reação, o veterano Zagallo
finalmente capitula após duas derrotas seguidas (0-2 Portuguesa e
1-3 São Paulo), que praticamente decretam a queda da equipe. Assume
Carlos Alberto Torres e seu “vamuláporra”, alguns jogadores são
barrados, o clube resolve ir para o alçapão de Juiz de Fora, e à
base de extrema transpiração, o Flamengo consegue, após duas
vitórias dramáticas (1-0 Internacional e 2-0 Palmeiras) escapar na
última rodada. Com direito à ascensão do desconhecido garoto Felipe Melo.
2002
Ao
contrário de 2001, o time é barato e extremamente limitado. Sob o
comando de Lula Pereira, vai se arrastando na zona do rebaixamento
enquanto mostra visíveis sinais de que não resistirá aos rigores
da temporada. Após uma derrota para o Gama (1-2), Lula Pereira é
demitido e Evaristo de Macedo novamente contratado com a missão de
“salvar o time”. E novamente consegue, após reformular a forma
de jogar da equipe e dar mais confiança a seus líderes. A estreia é
emblemática, uma estrondosa goleada (5-2) no Fluminense de Romário.
Mesmo assim, o time oscila e somente se salva na penúltima rodada,
após um polêmico empate (1-1) com o Palmeiras, no Parque
Antarctica.
2004
Abel
Braga não resiste ao trauma da perda da Copa do Brasil e rapidamente
é demitido, deixando uma equipe extremamente limitada e soterrada na
zona de rebaixamento, como efeito colateral das rodadas abandonadas
em prol da outra competição. Chega PC Gusmão, que esboça reação,
mas abandona o clube após uma desavença com um diretor. Entra
Ricardo Gomes, que não se mostra ainda à altura do desafio de
trabalhar sob pressão extrema. Uma derrota para o Juventude (0-1) em
Caxias sela a saída do treinador. Assume, mais uma vez, Andrade, que
já vinha exercendo a interinidade em outras ocasiões. No entanto,
dessa vez se decide dar uma chance ao jeito simples do ex-auxiliar,
que, apesar de algumas derrotas contundentes, consegue extrair bom
rendimento de um grupo farto de treinadores excessivamente teóricos.
O Flamengo engata uma sequência de cinco jogos sem derrota, e com
uma goleada contundente e inesperada (6-2) sobre o Cruzeiro, escapa
do desastre.
2005
Na mais
improvável das escapadas, o Flamengo chega a ocupar a lanterna da
competição e, a poucas rodadas do fim, especialistas cravam mais de
90% de chances de rebaixamento. Tendo à disposição um dos piores
elencos de sua história, o rubro-negro inicialmente é dirigido por
Celso Roth, que é duramente criticado por fazer a equipe atuar de
forma retrancada e é demitido na primeira sequência negativa.
Novamente Andrade é chamado, mas dessa vez não consegue superar os
problemas extracampo e as recorrentes brigas entre alguns jogadores
do elenco. Após duas derrotas seguidas, já na reta final (sendo uma
humilhante goleada pro São Paulo), é afastado e substituído pelo
moribundo Joel Santana. Contra todos os prognósticos, Joel pacifica
o vestiário, impõe um esquema de simples assimilação, prega
tranquilidade e, em uma arrancada espetacular (dez jogos invicto),
tira a equipe da zona de rebaixamento, salvando-a com duas rodadas de
antecedência (no famoso gol de Obina contra o Paraná).
2010 e 2012
Nesses dois casos a solução foi algo diversa e passou pela opção por treinadores de melhor currículo. Contudo, apesar do perfil dos treinadores ser
diverso, as receitas foram similares. Em 2010, a entrada de
Luxemburgo, um técnico rodado, experiente e “escolado”, deu a
uma equipe esfacelada por vários problemas extracampo uma margem de
reação, uma fagulha que durou algumas rodadas, mas foi o suficiente
para evitar a queda. E em 2012 a virada se deu quando Dorival
percebeu que não conseguiria implantar suas ideias a curto prazo e
adotou uma solução mais pragmática, colocando a salvação nas
costas dos líderes do elenco.
Enfim, agora não é o momento de investir tempo, aguardar respostas a longo prazo, nada disso. O time tem que vencer, e é agora. Precisa-se adquirir um mínimo de confiança que apenas os resultados positivos trazem. Afastar o fantasma do rebaixamento, eliminar o risco do desastre maior, que existe e é vivo.
É possível sair, e até com tranquilidade. Mas é preciso admitir que existe, e trabalhar para eliminá-lo.
Com simplicidade.
Boa semana a todos.