A acusação de clubismo feita
contra a Procuradoria da Fazenda Nacional pelo presidente de um dos nossos rivais foi uma das coisas mais estapafúrdias
surgidas nos últimos tempos. Para a maioria de nós, que vive falando e discutindo sobre futebol,
é até comum presenciar afirmações desse tipo, em conversas de bar ou no intervalo para o cafézinho no trabalho. Mas ver um presidente de clube
chorando ao dar entrevista, acusando um órgão federal e incitando sua torcida,
extrapola qualquer limite do bom senso.
Naturalmente, fazem-se necessários alguns
esclarecimentos com relação ao Flamengo e a renegociação de suas dívidas que levaram a suspensão das penhoras das receitas e a consequente obtenção das CNDs.
Em primeiro lugar, a
penhora que o CRF estava sofrendo era por conta de dívidas recentes, criadas
por diretorias que recolhiam, mas não pagavam o INSS e IRRF entre outros
impostos. Dívidas posteriores ao acordo da timemania, que previa o parcelamento
de débitos antigos com a fazenda nacional.
Após inúmeros atrasos de
diversos clubes em todo o Brasil e após a modernização de seu sistema de controle e cobrança, a
PFN endureceu com os devedores e fez um alerta no íncio deste ano: Que todos ficassem
cientes de que seriam excluídas do programa de repactuação aqueles que
atrasassem os pagamentos por 3 ou mais meses. O Flamengo, graças a nova
postura implementada pela diretoria eleita no fim do ano passado, tratou de
pagar suas parcelas, ao contrário do que fizeram, por exemplo, as
diretorias de Botafogo e Fluminense que, como consequência, tiveram suas
dívidas executadas através de penhoras.
Em segundo lugar, o acordo
feito pelo Flamengo é infinitamente mais pesado que aqueles propostos pelos
outros clubes do RJ. Diferentemente de seus rivais,
a nova diretoria do Flamengo ao assumir o clube, resolveu enfrentar
diretamente o problema, dando total prioridade ao pagamento das obrigações
tributárias. Imediatamente, a quase totalidade das novas receitas, provenientes
dos contratos firmados no início do ano, foram direcionadas ao pagamento das
dívidas que causavam as penhoras e asfixiavam o clube. Assim, o Mais Querido conseguiu
não apenas aliviar sua situação emergencial, mas demonstrou com uma atitude
pró-ativa, a mudança de mentalidade e a real intenção de resolver as pendências
com o fisco.
O restante da dívida foi parcelada com aumento progressivo do
valor das parcelas. Enquanto isso o Fluminense entrava com liminar na justiça
pedindo liberação de verba penhorada para pagamento de funcionários e o Vasco
procurava meios para burlar a penhora e ficar com o dinheiro da venda do
zagueiro Dedé, por exemplo. Vale ressaltar que, ao
menos na história recente, nenhum clube brasileiro pegou um valor da
ordem de 40 milhões de reais e direcionou de uma única vez para pagamento
de dívidas, sem que tal quantia tivesse sido bloqueada por medida judicial.
Mas o Flamengo foi além, não
apenas procurou uma solução para as dívidas que estavam sendo executadas,
como foi atrás das certidões negativas diversas nas três esferas, federal, estadual
e municipal. Isso permitiu, entre outras coisas, que o Mengão enviasse
projetos de captação de recursos para custear seus programas olímpicos fazendo
uso das leis de incentivo ao esporte, gerando mais dinheiro novo e
permitindo que esses recursos possam custear nossos atletas sem riscos de novas
penhoras e sem onerar o futebol, que não é mais o único responsável
pela receita do clube.
Hoje o Flamengo paga todo mês
algo próximo a 5 milhões de reais em impostos atrasados, resultado dessas
renegociações, além de quase 2 milhões em impostos correntes. Somente no
primeiro semestre de 2013, o clube já pagou mais de 70 milhões de reais, além
de ter tido requisitados pelo governo, como garantias das renegociações, o CT
George Helal, o Ninho do Urubu e o imóvel de São Conrado.
Cabe a reflexão: Algum
outro clube fez algo desse tamanho na busca da reconstrução de sua credibilidade?
Nosso rival que se queixa
de não receber do governo tratamento semelhante contou nos últimos anos com o
maior patrocínio do Brasil ao seu lado. Mesmo tendo uma enorme dívida a pagar, escolheu priorizar a montagem de times
fortes, para disputar o campeonato brasileiro, a libertadores e etc.. Ao acusar os procuradores de falta de isonomia, esquecem que é muito fácil manter um custo altíssimo para estar no topo, ignorando o fato de ser um dos maiores devedores e contando com anistias e leniência por parte do governo.
Mas é preciso muito
trabalho e esforço para reestruturar um clube com uma dívida gigantesca, tendo
que manter um time de custo inferior e sofrendo com a pressão e as críticas de
uma torcida exigente e acostumada a conquistas. Chorar e jogar para a torcida
são atitudes que não cabem mais num futebol cada vez mais profissional. O tempo
dos dirigentes folclóricos e personalistas vai, cada vez mais, ficar no
passado.
Após décadas congelado no tempo, remoendo seu passado glorioso, o
Flamengo resolveu se levantar e caminhar com suas enormes mas (ainda)
atrofiadas pernas. Seus rivais fariam bem em seguir o exemplo e avançar ao seu
lado, ajudando a reeguer o outrora grandioso futebol carioca. Ao invés disso,
insistem em perder tempo com muxoxos queixosos, dignos de crianças mimadas que
não conseguiram o que queriam.
abraços a todos e SRN
P.S.: A coluna desta semana nasceu da sugestão de um amigo do Buteco do Flamengo indignado com as insinuações feitas pelo presidente de uma agremiação rival. Por motivos pessoais, nosso colaborador pediu para permanecer anônimo.