Depois de uma proposta do BCBFla, para que eu tentasse dissecar a arrecadação de um possível estádio próprio, tentei fazê-lo, estou tentando. É bem difícil, mas vamos lá: “Gostaria que o Luiz Filho utilizasse de sua expertise para elaborar um faturamento hipotético do Flamengo em 4 anos em uma de suas colunas. Por favor, torture os números para chegarmos ao menos em 500 milhões. Mas é uma boa pauta, não?”. Respondi - “Difícil, hein? A pauta é boa, sim. O problema é que eu não tenho parâmetro algum para medir, comparar algo como receitas de bares, lojas, condomínio, apenas algo sobre direitos de nome, placas, assentos, coisas ligadas a vendas diretas e da marca”.
Mesmo assim divaguei sobre o assunto.
Existem muitos itens a ser considerados, alguns destes posso ter esquecido ou não ter conhecimento. Ressalto que os números que exponho aqui são estimativas, considerando 30 eventos no ano (25 partidas em casa mais 5 eventos extras). As estimativas apresentadas são relativas aos ganhos totais, não a lucros. Vou utilizar aqui alguns dados de posts meus escritos anteriormente sobre um estádio para o Flamengo (http://www.butecodoflamengo.com/2013/04/financiamento-construcao-e.html e http://www.butecodoflamengo.com/2013/04/o-valor-da-casa-propria.html), um estádio para aproximadamente 60.000 pessoas.
Estimativa de ingressos devem ser calculados os tipos de ingressos e quanto eles poderiam render hipoteticamente com todas as variáveis inclusas como setorização no estádio, tipo de venda e alocação (Camarotes, ST/carnê, Matchday, “cativa”/concessão por período, ida ao jogo e “revenda”...). A distribuição das poltronas do estádio se daria em quatro setores (Leste, Oeste, Norte, Sul) e dois níveis (inferior e superior) com os camarotes no meio diferenciando as posições. Considerando que parte dos assentos seriam comercializados com a concessão de cadeiras cativas por um período para financiamento de sua construção, se reduz em 15% os assentos comercializáveis totais.
Posição
|
Capacidade
Estipulada
|
Assentos
Comercializáveis
|
Norte
Inferior
|
4.000
|
3.400
|
Sul
Inferior
|
4.000
|
3.400
|
Norte
Superior
|
7.500
|
6.375
|
Sul
Superior
|
7.500
|
6.375
|
Leste
Inferior
|
6.000
|
5.100
|
Leste
Superior
|
12.000
|
10.200
|
Oeste
Inferior
|
6.000
|
5.100
|
Oeste
Superior
|
9.775
|
8.308
|
Total
|
56.775
|
50.128
(+15% 58.975)
|
Digamos que 50% dos ingressos totais fossem comercializados com um programa de sócio torcedor (ST) e de carnês anuais (CA), sobrariam 35% dos ingressos para Matchday por preços um pouco maiores, assim como os ingressos disponíveis para troca e revenda. As revendas são um acréscimo ao Matchday dos ingressos comercializados com as “desistências” dos ST e dos assentos locados para a construção (comumente chamados de cadeiras cativas), divididos igualmente com os donos dos assentos (50-50), um prêmio a quem compra com antecedência, prática normal nos grandes clubes europeus. A margem por jogo que utilizarei para possível repasse é de aproximadamente 10% de revenda dos ingressos de ST + ingressos de Cativas. Os valores para Matchday e revenda são integrais.
Posição/Tipo
|
Norte/Sul
Inferior
|
Norte/Sul
Superior
|
Leste/Oeste
Inferior
|
Leste/Oeste
Superior
|
Totais
|
Capacidade
|
8.000
|
15.000
|
12.000
|
21.775
|
56.775
|
Cativas
15%
|
1.200
|
2.250
|
1.800
|
3.266
|
8.516
|
ST/CA
50%
|
4.000
|
7.500
|
6.000
|
10.887
|
28.387
|
Restantes
35%
|
2.800
|
5.250
|
4.200
|
7.621
|
19.871
|
Revendas~10%
|
520
|
1.875
|
1.500
|
2.721
|
6.616
|
Preço
ST/CA
|
10
R$
|
15
R$
|
25
R$
|
20
R$
|
-
|
Preço
integral
|
40
R$
|
60
R$
|
100
R$
|
80
R$
|
-
|
Valor
por Setor (R$/jogo)
|
40.000
+ 132.800
|
112.500
+ 427.500
|
150.000
+ 570.000
|
217.740
+ 827.360
|
2.477.900
|
Valores
Anuais (25 jogos) (R$)
|
4.320.000
|
13.500.000
|
18.000.000
|
26.127.500
|
61.947.500
|
Nota-se que somente com os ingressos normais, sem contarmos com os camarotes do estádio, seria possível uma captação máxima de R$ 62 MI. Em um estádio próprio, se pagaria inclusive o financiamento do mesmo (Um estádio custaria aproximadamente R$ 600.000.000,00). Os números se fazem com a arrecadação máxima, lotação completa dos jogos como mandante na temporada, estimei em 25 partidas como mandante, o que não seria fácil, mas possível num plano de venda confortável.
Precifiquei os ingressos com valores próximos dos praticados atualmente (antes e depois dos “estádios da copa”). Contando com descontos para os sócios torcedores e os possíveis bilhetes para a temporada, o custo para cada partida seria de 25% em relação aos ingressos avulsos, ou seja, se um sócio torcedor comum, paga os R$ 40,00 do Nação Rubro Negra, este poderia perfeitamente assistir a mais partidas do Flamengo por valores de R$ 10,00 a R$ 25,00 por partida, dependendo da localização no estádio. De alguma forma isto aproxima um pouco as camadas de menor renda, principalmente a comprar um season ticket, que sairia por R$ 50,00/mês. É um valor considerável, não tão alto, mas competitivo. Numa temporada o ST pagaria ao clube de R$ 600,00 a R$ 780,00 por ano para assistir aos jogos do Flamengo na temporada. Uma parcela deveria ser separada para um extrato mais baixo da população. Para isso seriam necessárias outras ações do clube que se chegasse a esta parcela. Proporia, sem ganância que o clube reservasse de 5% a 15% dos ingressos de Matchday para que sejam realmente populares, o Flamengo é um clube do povo (de 2 a 3 mil ingressos por R$ 10,00).
Com um programa de pontos não se impediria de o valor mais baixo do Sócio Torcedor sair prejudicado contando tempo de adesão e assiduidade no estádio. Esse fator também poderia encarecer o valor do ingresso isolado para as partidas em um momento posterior. Como comparação o Real Madrid em 2010 arrecadou só com bilheteria 150 milhões de euros (R$ 435.000.000,00) e o Corinthians em 2012 no Pacaembu arrecadou ~R$ 36 MI de reais, em bilheteria. Um sonho de médio prazo e uma meta alcançável com relativa facilidade.
Outros
Setores
|
Capacidade
|
Camarotes
|
2.600
|
Cadeirantes
|
150
|
Acompanhantes
(cad.)
|
150
|
Imprensa
Individual
|
1.000
|
Imprensa
Cabines
|
1.225
|
Tribuna
de Honra
|
100
|
Camarotes
O ideal é que em seu inicio o Flamengo, como no caso da concessão das cadeiras “cativas por período”, por conta da construção do estádio não receba pelos camarotes, apenas pela manutenção dos mesmos e das taxas de condomínio, mas quando acabar o período de concessão (de três a cinco anos), haja uma nova rodada de licitação para a concessão destes camarotes (melhor por leilão eletrônico) ou o clube precifique e venda as entradas individualmente. Com 150 camarotes e capacidade para 2600 pessoas calculo direito a 30 eventos por ano (25 partidas do Flamengo e cinco shows), capacidade do local (nº de pessoas) e o valor estipulado para o ingresso, diferenciados de acordo com a capacidade. O Flamengo poderia arrecadar anualmente R$ 32 MI com os seus 150 camarotes.
Capacidade
|
Aluguel/pessoa (R$)
|
Evento/ano
|
Total (R$)
|
Camarotes
|
Total Setor
|
10 pessoas
|
500
|
30
|
150.000
|
50
|
R$ 7,5 MM
|
15 pessoas
|
450
|
30
|
202.500
|
40
|
R$ 8,1 MM
|
20 pessoas
|
400
|
30
|
240.000
|
30
|
R$ 7,2 MM
|
30 pessoas
|
300
|
30
|
315.000
|
30
|
R$ 9,45 MM
|
A Estimativa de faturamento dos bares comuns - 52 bares/lanchonetes – tem como modelos os bares do estádio de Nacional de Brasília e os restaurantes do Emirates Stadium. Em Brasília na partida contra o Coritiba foi arrecadado pelo Flamengo aproximadamente 300 mil reais nos 54 bares do estádio (valor especulado, impreciso, sem qualquer conferência. Ouvi no rádio do carro, desculpem-me pela falta de fontes mais confiáveis). Não sei qual foi o acordo firmado pelo clube, mas se o Flamengo consegue em média R$ 200.000,00 por jogo, em 30 jogos em casa em uma temporada, se obtém R$ 6.000.000,00 no ano. Com os bares temáticos e restaurantes, o calculo seria um pouco diferente.
No Emirates existem 8 bares voltados para as famílias e um público mais ligado ao ambiente do que o jogo em si, mesmo que este possa ir à ponta deste estabelecimento que tem visão do campo, para assistir a parte do jogo. Resolvi comparar a um restaurante popular no Brasil para exemplificar, o Outback. Cada restaurante tem em média um faturamento anual de R$ 5.000.000,00/ano (o gestor receberia 8% do valor do negócio, que pode girar em torno de R$ 400.000, daria aproximadamente R$ 5 MI/Ano) Seriam oito restaurantes dentro do estádio que alcançariam uma marca de R$ 40 MI. Se o lucro for da ordem de 20% teremos R$ 8 MI/ano.
Para comparação da estimativa de estacionamento, temos o Terminal Garagem Menezes Côrtes S.A., no centro do Rio de Janeiro pode servir como referência para aferir os ganhos com estacionamento. Lá existem 3.500 vagas. No estádio que proponho seriam no mínimo 5.000. Com uma média de ocupação diária de 50% e de período médio de 2 horas, que custariam aproximadamente R$ 40,00, teríamos no final de um ano o valor aproximado de R$ 44.000.000,00 contando mensalistas e vagas VIPs. Em um calculo rápido, não consideraria os mensalistas ou as diárias, que certamente contrabalanceariam os dias de menor movimento.
A Estimativa de receita de Lojas seria obtida dos aluguéis condominiais e talvez porcentagem do lucro. Não tenho como precisar, mas posso descrever que a “venda de lojas” (cessão por período) também estariam inclusas como receita de construção do estádio e se dariam como ocorrem nos shopping centers: 50 lojas, 100 m² por R$ 10.000,00 o m² com a receita total de R$ 50.000.000,00. Não incluirei como receita por não ter como precisar.
Os cálculos de estimativa dos Naming Rigths pelos primeiros 15 anos do estádio, estes giram em torno de R$ 15 MM/ano a R$ 20 MM/ano, como ocorreu recentemente nas Arenas Itaipava (Fonte Nova e Pernambuco). No Rio de Janeiro e atrelado com a Marca Flamengo, acredito que giraria na casa dos R$ 20 MI/ano por 10 anos (R$ 200 MI no total). Acho interessante que parte dessa receita seja para o financiamento da construção, mas é uma verba que considerarei.
Merchandising, placas fixas e eletrônicas dentro do estádio e no campo de jogo, publicidade telões e televisores do estádio/camarotes – Nestas propriedades o Flamengo poderia arrecadar aproximadamente R$ 10 MI/ano.
Bilhetagem, Eventos, Conferências e Banquetes, Tours e Museu, Catering (fornecimento em geral, serviços, principalmente comida) e Megaloja todos estes serviços podem arrecadar aproximadamente R$ 15 milhões por ano, com a concessão e percentagem destes serviços, mas como também não tenho dados e subsídios,
Com a contagem de todos os valores que o Flamengo poderia arrecadar em um ano, sem que se contem os custos, não alcançaríamos a marca de R$ 500.000.000,00 em 4 anos pensada pelo BCBFla, não neste momento, mas seria melhor do que os R$ 70.000.000,00 estimados por Rodrigo Tostes, para 2015, e isso certamente tem a ver com o “contrato-experiência” de 6 meses celebrado com o consórcio administrador do Maracanã. A marca de R$ 197.000.000,00 por ano certamente deve ser uma meta de médio prazo dos azuis. Logicamente não tenho, como disse números aprofundados, mas seriam próximos dos relatados aqui. Com os custos duvido que um estádio para 60.000 pessoas, do Flamengo na cidade do Rio de janeiro ficaria por menos de R$ 100.000.000,00 ao ano para o clube, seja ele na Barra, na zona portuária, em qualquer outro lugar, desde que tenha conforto, respeito ao torcedor e as tradições do clube, com espaços para se torcer de pé e com nossos bumbos e bandeiras.
FLAMENGO HIC ET UBIQUE!