Já se vão alguns meses
desde o fechamento do Engenhão e da última vez em que o Flamengo jogou no Rio
de Janeiro. A volta à cidade Maravilhosa se dará em grande estilo, na primeira
partida feita pelo rubro-negro no estádio que foi construído no lugar de sua antiga
casa, o Maracanã. Será, também, a primeira oportunidade da torcida carioca de assistir,
in loco, o time de Mano Menezes e testar se no novo estádio existe ainda algum
traço da alma do anterior ou se essa foi completamente aniquilada pelo tal “padrão
FIFA”.
Os eventos testes
realizados até aqui, mostraram um estádio belíssimo, de padrão internacional e
com um gramado fantástico, mas rigorosamente idêntico a todos os outros usados
na copa do mundo. A não ser pela cor das cadeiras, é difícil distinguir um
campo do outro nas transmissões de TV, uma vez que até o formato das redes dos
gols foi padronizado. Da mesma forma, a pasteurização do futebol exigida pela
FIFA afetou também o público, obrigando todos a assistir jogos sentados, e
minando drasticamente o componente emocional do futebol. Fica até difícil ter
certeza sobre a acústica do novo estádio e sobre de que maneira ela pode ajudar
a torcida a incentivar o time e pressionar o adversário.
Vale considerar que o
público que foi ver os jogos do evento-teste da FIFA não é exatamente o mesmo
público acostumado a frequentar as antigas arquibancadas do velho o gigante de
concreto. Da mesma forma, com o retorno dos clubes aos estádios, as regras de
lugar marcado, proibição de assistir jogos de pé e outras restrições a cultura
do futebol brasileiro devem ser revogadas.
Por outro lado, os caríssimos
preços de ingressos praticados pelos clubes, contribuem para afastar – pelo bolso
- o torcedor comum das arquibancadas. Entendo isso como um grave prejuízo ao
espetáculo. Mesmo sendo sócio-torcedor no plano mais barato, um trabalhador
honesto (que não falsifica carteira de estudante) terá que desembolsar 240
reais para ver quatro jogos que o Flamengo faça no Novo Maracanã em um mês,
indo ao jogo sozinho, sem levar a família, sem consumir nada e sem considerar o
gasto com transporte.
Na busca pelo aumento do
ticket-médio, clubes e administradores do estádio optam por sacrificar o
espetáculo, preferindo poucos torcedores que paguem muito à incrível atmosfera
do estádio lotado. O último evento teste realizado domingo passado, demonstrou o
estrago que os preços altos podem fazer na frequência do público. Quem assistiu
ao jogo pela TV, teve a impressão de que o jogo estava vazio, e isso causa um
enorme prejuízo a imagem dos clubes em questão.
No caso do Flamengo, após jogar
com estádio lotado em Brasília – apenas uma vez como mandante - contra Santos,
Coritiba e Vasco qual seria o prejuízo de imagem ao jogar com um Novo Maracanã
aparentemente vazio? Especialmente num momento em que a intenção é
internacionalizar a marca e mostrar o enorme potencial do clube, me parece, no
mínimo, uma demonstração de falta de conexão com a torcida local.
Veremos no domingo, como o
Novo Maracanã vai receber a torcida do Flamengo e como será a nova relação
entre time, torcida e estádio. Se a alma do velho Maraca ainda estiver por lá,
os ecos dos grandes feitos rubro-negros desde 1950 farão a Nação se sentir
novamente em casa.
abraços a todos e SRN!