Após
o inusitado episódio “Um Chupa Kabra nos Aflitos”, na
segunda-feira saí de João Pessoa com destino a Campina Grande. No
caminho, passei por Cabaceiras. Não é exatamente o caminho mais
curto (tanto que para chegar a Cabaceiras se passa por CG), mas é o
mais legal. Conhecer Cabaceiras, a cidade onde menos se chove no
Brasil, no sertão do Cariri, era algo que despertava minha
curiosidade fazia já algum tempo. O lugar foi cenário de várias
produções cinematográficas, além de novelas e minisséries.
Parece que toda vez que alguém precisa gravar alguma cena no sertão
Cabaceiras é a cidade escolhida.
Cajazeiras,
a Roliúde Nordestina, com seus Mandacarus e lajedos.
Além
disso tem forte produção artesanal de artigos feitos de couro de
bode, esse bravo e saboroso habitante da caatinga (como sabem, eu
prefiro cabras; mas não se pode negar que um bode guisado tem seu
valor). E entre conversas com os figurantes das muitas cenas ali
gravadas, uma cachaça da região, uma carne de sol assada com feijão
verde e macaxeira aprendi que o chapéu do sertanejo, ao contrário
da maioria de seus pares, não tem como finalidade principal a
proteção contra o sol, e sim contra os galhos espinhosos da
caatinga. Portanto está mais para um duríssimo capacete do que
para chapéu.
Lajedo
de Pai Mateus, e vista desde a grota onde vivia o próprio
E
entre uma cerveja e um bode assado com xerém (um creme de milho
verde) e purê de gerimum, soube que ali habitaram há muito tempo
atrás os índios cariris, e antes deles outros moradores que
deixaram muitas inscrições rupestres, desenhos e palmas de mãos
gravadas nas rochas da região. E assim passamos os dias, caminhando
por trilhas na caatinga, fotografando sua fauna, descobrindo
maravilhas. Dois dias e 4 kg depois deixamos o sertão para subir a
serra da Borborema de volta a Campina Grande a tempo do aquecimento
pré-jogo.
CK junto a registros pré-históricos, de olho nas cabras e vendo espetacular erosão eólica em rio seco.
Já
havia comprado um ingresso para a Dama que me acompanha por toda
terra que passo, portanto só faltava retirar o meu, cortesia do
marketing do Flamengo, no Bar do Cuscuz. O ingresso me foi dado pelo
Nunes, e foi muito legal chegar perto do ômi. Depois dos
protocolares agradecimentos pelas glórias e alegrias, a primeira
pergunta: “vc acha que o Hernane faz jus ao apelido Hernunes?” A
elegante resposta veio por tras de um incontido sorriso: “Ele é
novo ainda, tem um longo caminho a percorrer”. Em bom português
“tu tá maluco, o cara não sabe jogar bola!!!!”. Aí comentei
com ele que não é só meter gol que me impressionava e cativava nos
anos 80, mas aquela capacidade de abrir pelas pontas levando junto os
zagueiros, receber o passe e meter na cabeça do Zico que entrava
pela despovoada área. “Quantos gols desses você deu pro Zico?”
Aí o sorriso foi de orelha a orelha: “Vááários!!!” E
complementou: “mas ele me deu alguns também, então estamos
quites”. Muito, mas muito figura o Nunes. Isso enquanto tirava a
duocentésima quadragésima sétima foto com fãs (não sei colocar o
símbolo ordinal, por isso fui obrigado a gastar o verbo aqui).
Como
é, CK?? Hernanes joga mais que eu?? Tá fumando kabra vencida?
Detalhe
que o ingresso que me foi dado era para as cadeiras, de R$120. Como
eu havia sido informado que a torcida do Fla iria ficar nas
arquibancadas, comprei uma para minha esposa e aí tive que pedir um
downgrade no ingresso, embora agradecesse muito a gentileza. No
final, tinha torcida do Fla nas cadeiras, nas arquibancadas sombra,
nas arquibancadas sol, no poste dos refletores, nas marquises, no
alambrado, por todo canto.
Esse
é o setor dominado pela torcida do Mengão, e se chama Brasil.
Inteiro!
Fila
interminável mas extremamente ordenada para entrar, espaço para
todos dentro do estádio, saída relativamente rápida, tudo
tranquilo e na paz. O povo paraibano é extremamente gentil e
amável, em que pese a fama de bravos. Quanto ao jogo, vaiei e
xinguei o Renato o tempo todo, antes das faltas, na hora dos gols,
quando foi substituído, o tempo todo. O que não se faz por uma
colega de Buteco... Ao contrário da maioria gostei muito do Rafinha
e do Gabriel. Ele voltam muito para marcar, o tempo todo. Teve
contra-ataque que eles não participaram porque estavam lá na
bandeirinha de escanteio do campo de defesa. O Elias, também ao
contrário da opinião de muitos aqui, foi outro que marcou muito,
roubou muitas bolas e coordenou a cabeça da área. Hernane ao vivo
é muito, mas muito pior do que na TV. E o time do Campinense pode
ser arrumadinho, mas falta muita categoria para os jogadores.
Ninguém conseguia acertar um chute no gol, impressionante. Grossos
mesmo, extremamente grossos. Do goleiro ao ponta-esquerda, passando
pela xuxa do meio-campo. Por isso foi preocupante ver o Fla perder
tantos gols como perdeu. Era preciso, frente a tamanha disparidade
técnica e física, ter goleado impiedosamente a rapaziada
esforçadinha do Campinense, que dependendo de seu desempenho no
estadual pode participar da série D do Brasileirão.
Na
saída do estádio pegamos um táxi direto pro hotel, não sem antes
encarar um... bodinho guisado acompanhado por uma muito gelada
cerveja, que ninguém é de ferro.
CK