O Flamengo que jogou
contra a Ponte Preta na última quarta-feira foi praticamente a antítese
completa daquele time que empatou com o Santos três dias antes. Se no jogo
passado o time se mostrou compacto, bem distribuído em campo e ligado durante
quase todos os noventa minutos, ontem o cenário foi bem diferente. Linhas
espaçadas com jogadores distantes entre si e, na frente, um time disperso, com
dificuldades nos passes e quase sem nenhuma criatividade, o que foi piorado
pela marcação forte e bem postada do time adversário. Em comum, as duas
exibições apenas mostraram que a equipe deste ano parece ter uma enorme
dificuldade com o objetivo máximo do jogo: Fazer gols, preferencialmente em
número maior que o adversário.
Creio que o grande
problema aqui não é nem o fato de o time ter jogado mal, o que é perfeitamente
possível de acontecer e, se não é agradável deve ser, ao menos, compreendido.
Mas é assustador que o time alterne maneiras tão distintas de se portar em
campo, como se tivesse uma crise de personalidade. Não é que eles não consigam
executar o que foi planejado, eles simplesmente jogam de outra maneira. Contra
o Santos, o Flamengo buscava as laterais, trocava passes em velocidade e
marcava as triangulações e as diagonais matando os passes em profundidade.
Contra a Ponte, o Flamengo afunilava as jogadas, a marcação era feita homem a
homem e os volantes e até mesmo os zagueiros tentavam armar as jogadas. No fim
das contas, uma dessas situações, acabou resultando no segundo gol, em um contra-ataque
após um passe errado do González, depois da linha do meio do campo.
Em suas entrevistas,
Jorginho tem sempre enfatizado muito o lado tático da equipe, falando de
posicionamento, movimentação e compactação. Tradicionalmente isso é um problema
com jogadores brasileiros, que costumam ter dificuldade para guardar posição e
marcar por zona ao invés de individualmente. E com um time de baixo custo e,
consequentemente, sem grande qualidade, se tornam ainda mais importantes a
disciplina tática e o cumprimento do que foi planejado à risca.
Essa pequena sequência
antes da Copa das Confederações dá um bom parâmetro do que a falta de treinos
pode causar a um grupo de jogadores que ainda não conseguiu assimilar a mudança
de mentalidade de jogo. Por esse motivo, é importante que o time treine muito
mas jogue também, a intervalos regulares, sendo testado em situações reais
dentro de campo. Durante a parada para a competição da Fifa, o Flamengo precisa
marcar amistosos, de preferência em gramados bons, contra adversários que
ofereçam alguma dificuldade. Caso o time não consiga assimilar a forma de jogar
e se posicionar, a sequência de jogos às quartas e domingos tende a ser fatal,
especialmente com desfalques e mudança de peças constante. Dorival Junior
sofreu com isso ano passado e seria bom que já houvesse um planejamento para
que isso não se repita na atual temporada.
Fica, portanto, a dúvida
sobre qual Flamengo vai entrar em campo amanhã, fora de casa, contra o
Atlético-PR. Saímos no lucro de não enfrenta-los na Arena da Baixada, onde só
vencemos uma vez, num jogo que nada valia. Como jogam com o mando de campo e o
Flamengo não vem impondo muito respeito aos adversários, espero um jogo com
mais espaço para nosso ataque. Se o time entrar na versão organizada e compacta
vejo boas chances de vitória mesmo contra mais um adversário tradicionalmente
chato. Mas para isso, esse time vai precisar (re)aprender a fazer gols.
abraços a todos e SRN!