Todo mundo sabe que jogar no Flamengo não é para qualquer um. A frase
continua valendo, mesmo que nos últimos anos tenhamos visto de Wellinton
a Walter Minhoca envergonhando o manto sagrado. Não foram poucos os
jogadores, consagrados ou desconhecidos, que sucumbiram à pressão de
jogar no clube de maior torcida do mundo.
Algumas das maiores vítimas acabam sendo garotos que sobem da base, nem
sempre bem preparados física, técnica e emocionalmente. Por conta disso
só vão estourar quando saem do clube e encontram locais com mais paz
para trabalhar, sendo, provavelmente, o exemplo mais recente o do
Adriano, que foi de vaiado pelas arquibancadas do Maraca a imperador na
Itália.
A questão da melhor forma de fazer a transição dos garotos da base para
os profissionais sempre suscita debates interessantes e, por vezes,
inflamados. Existem muitas opiniões mas poucos fatos que corroboram uma
ou outra teoria sobre a melhor forma de fazer. No Brasil de hoje,
destacam-se Santos, Inter e o SP com bons trabalhos que acabam rendendo
uma ou outra boa venda para o exterior. Mas é cada vez mais difícil, eu
diria altamente improvável, vermos surgir uma geração de grandes
jogadores, para diversas posições em um mesmo clube como já houve no
Flamengo de outros tempos.
Os motivos são diversos e vão desde a opção por jogadores mais fortes ao
invés de mais técnicos até a falta de coordenação entre o estilo de
jogo das equipes de base e profissionais. Vejo como resultado direto
dessa política a escassez de jogadores criativos no meio de campo e
laterais que saibam atacar e defender. Em ambas as posições, os
jogadores brasileiros em geral ou defendem e não acertam passes ou criam
e não marcam, o que fica evidente principalmente na seleção brasileira.
Mas um outro ponto, que eu gostaria de trazer para o debate nesta
sexta-feira diz respeito a forma encontrada pelo Flamengo para contornar
esse problema da pressão sobre os garotos da base. A filosofia de
austeridade financeira adotada pela direção do clube não permite a
tradicional opção por caros medalhões para dar "estofo" ao time e
segurar a pressão das arquibancadas. A alternativa escolhida tem sido
apostar em desconhecidos que se destacaram no último campeonato
brasileiro e nos estaduais deste primeiro semestre.
É uma política que vem sofrendo muitos questionamentos, principalmente
quanto ao uso que se faz dos poucos recursos de que dispõe o clube.
Muitas das apostas são jogadores novos e que disputarão posição com os
"pratas da casa" quase em igualdade de condições em termos de
experiência, desenvolvimento físico e emocional. Estariam esses novos
contratados "roubando o espaço" das promessas do Flamengo? Ou serviriam
para ocupar esse espaço enquanto nossos garotos são emprestados para
ganhar experiência e maturidade em outros clubes e voltarem mais
preparados para realmente ajudar o Mais Querido no futuro?
É uma discussão complexa, na qual não existe muito o certo e o errado
absolutos. Talvez a questão chave seja o planejamento, especialmente
para o campeonato brasileiro, quando a questão da briga contra o
rebaixamento pode fazer toda a diferença no desempenho dos jogadores.
Ano passado mesmo, quando a coisa apertou, Dorival Jr. optou pelos
medalhões do elenco para estancar a crise quando a garotada parou de dar
resultado.
Sendo a transição um problema que aflige vários clubes, encontramos
Brasil afora uma gama interessante de soluções adotadas, com bons
resultados em algumas delas. Por exemplo, recentemente o Fluminense teve
bastante êxito com um jogador que foi emprestado ao Figueirense e que
voltou tendo sido um dos destaques do campeonato. De sua parte, as
equipes paulistas têm tido bons resultados contratando os destaques dos
times do interior do estado, tendo alguns deles inclusive chegado à
seleção brasileira, casos de Ralf, Paulinho e do próprio Elias.
E você, amigo do Buteco, o que acha da filosofia da diretoria
rubro-negra? O melhor para este Flamengo da era da austeridade é apostar
nos desconhecidos ou na prata da casa?
Abs e SRN e bom final de semana a todos!