Durante todo o tempo em que o Flamengo ficou só treinando após a
eliminação do campeonato carioca, me peguei várias vezes recordando a
situação semelhante pela qual o time passou na temporada passada.
Naquela ocasião, foram aproximadamente 40 dias entre a eliminação do
campeonato carioca e da Libertadores e a estréia no campeonato
brasileiro e findo o período de "treinos" o time parecia ainda pior do
que antes.
A fraca apresentação diante do Campinense aumentou consideravelmente as
dúvidas sobre a capacidade do Jorginho de dar uma cara a esse time,
apesar da evolução que aconteceu nos jogos anteriores. O problema é que,
após duas semanas dedicadas, teoricamente, a treinos táticos, físicos e
de fundamentos, o time se mostrou menos eficiente em tudo, com exceção
da disposição em campo.
O time não mostrou a mesma compactação que vinha apresentando nos
últimos jogos, ficou um espaço enorme entre os volantes, a defesa bateu
cabeça e o ataque não teve nenhuma criatividade. Neste setor, prevaleceu
a partida ruim do Gabriel e do Rafinha, algo normal por se tratarem de
garotos e também pelo fato de o time não ter uma sequência
de jogos. Me chamou atenção também o posicionamento confuso no meio de
campo, tanto com o Amaral quanto com o Luiz Antonio correndo de um lado
para o outro, sem nenhuma organização na marcação.
A falta de criatividade do time permanece um problema crônico e agravado
pela falta de jogadas ensaiadas. Os jogadores do Flamengo demonstram
não fazer idéia de para onde correr, como se posicionar ou que tipo de
jogadas buscar para atacar o adversário. O jogo do time se baseia em
inversões de bola de um lado para o outro e, ocasionalmente, nas
escassas arrancadas do Leo Moura pela direita.
Na falta de um camisa 10 - não só ao Flamengo, mas ao futebol brasileiro
em geral - torna-se fundamental a organização de jogadas de ataque pelo
treinador e sua repetição exaustiva nas sessões de treinamento. Não
precisam ser 10 jogadas sensacionais, com inversões ou deslocamentos
complexos. Bastam duas ou três jogadas simples que o time possa buscar
executar durante os jogos levando perigo ao adversário. Uma tabela entre
o Rafinha e o Leo Moura envolvendo o lateral adversário e cruzando
tendo o Hernane e o Renato Abreu fechando pelo meio, por exemplo, já
seria alguma coisa. De novo, não precisa ser complexo, mas precisa ser
executada e bem, durante o jogo. Basta lembrar que o Grêmio do Felipão
chegou ao mundial de clubes com Paulo Nunes e Arce cruzando para o
Jardel empurrar pro gol.
Para encerrar, sei que vou mexer num vespeiro mas não tem
como não falar do ataquezinho do Renato ao ser substituido. Não quero
discutir se o cara vinha jogando bem ou não nem a importância que tem
para o grupo, sua história no clube etc, etc, etc. Independente da gana,
da vontade de vencer e do fato de ninguém que joga bola gostar de ser
substituído, um profissional de futebol não pode se comportar daquela
maneira. Se o Renato ainda quer ser visto como o líder do grupo, que
tipo de exemplo ele deu para o Rafinha, que foi substituido junto com
ele e estava quietinho, sentado ao seu lado no banco de reservas?
A postura do Jorginho ao esvaziar a importância do fato nas coletivas
após o jogo foi muito inteligente, desarmando imediatamente um foco que
provavelmente seria explorado pela imprensa, ávida por crises no
Flamengo. Ótimo, que o assunto seja resolvido internamente, como sempre
devem ser tratadas todas as questões referentes ao comportamento dentro
do departamento de futebol. É fundamental, no entanto, que o jogador
seja punido para que sirva exatamente de exemplo para que outros não
resolvam dar ataques quando forem substituidos.
abs e SRN!