terça-feira, 2 de abril de 2013

Casa, Amor, Reais


Seria fundamental para o aumento de receitas e do patrimônio do Flamengo a construção de um estádio próprio. O Grêmio já construiu e o Palmeiras está terminando seu estádio com recursos próprios (ambos); Internacional, Corinthians, Náutico, Atlético-PR irão se aproveitar da passagem da copa do mundo pelo Brasil; São Paulo, Santos, Vasco, Sport, Coritiba, Figueirense e Avaí tem projetos para a modernização e/ou a construção, gerando receita a seus cofres; Atlético-MG tem o Estádio Independência e o Cruzeiro o Mineirão. Todos” caminhando e o Flamengo esperando por um Maracanã que terá custos altos após sua reconstrução.

Com os clubes alijados da licitação, se transformado em “meros produtos”, sem ser “sócio” do empreendimento, dois aspectos ficam óbvios: o Flamengo deve ter sua casa e capitalizar com todos os recursos que um estádio moderno pode trazer, mas com cuidado, a licitação (e a interdição) do Engenhão corroboram com o que eu digo. Um estádio NOSSO para 60.000 pessoas ficaria de ótimo tamanho já que o estádio é um dos pilares econômicos do futebol e isso obriga a quem não tem sua casa a se organizar de alguma forma, melhorar a gestão para uma construção que nunca é fácil, rápida e barata.


Achei estranha a saída do Flamengo da licitação do Engenhão, em 2007, exatamente por estar de olho no Maracanã, como agora, coisa que ainda não se concretizou e não sabemos se um dia se concretizará. Penso que teríamos uma boa situação em relação ao planejamento, até porque duvido que houvesse tanta reclamação se o estádio fosse do Flamengo (não se sabia que o estádio recem construído se tornaria uma bomba). Não estaríamos sofrendo bullying por nunca encher ao estádio (Botafogo) e muito dessa situação existe por uma propaganda negativa sobre o estádio. A boa temporada no estádio da Portuguesa, na Ilha do Governador em 2005, serve como contraponto e com todas as dificuldades possíveis o público era melhor. Não quero aqui dizer que o estádio do Botafogo seja cinco estrelas, mas poderia ser melhor tratado por todos.


O futebol italiano serve de parâmetro em muitos sentidos, inclusive para a reconstrução em andamento no futebol brasileiro. O Calcio está perdendo espaço para o futebol alemão, mais organizado, rentável (a média de ocupação dos estádios alemães é de 85%). Fora de campo os italianos não são mais exemplos de modernidade administrativa, ao contrário dos alemães atualmente que hoje só estão atrás dos ingleses. O primeiro clube a perceber isso e se movimentar foi a Juventus de Turim, desembolsando R$ 276.000.000,00 num estádio para 41.000 pessoas. O clube mais popular da Itália se encontra no Top 10 dos mais rentáveis do mundo, sendo único de seu país nas quartas de final da Liga dos Campeões da Europa, com seu estádio trazendo retorno técnico e comercial e preenchendo a lacuna das velhas arenas italianas. É possível se construir um estádio rubro-negro para 60.000 pessoas ao custo de R$ 600.000.000,00 incluindo-se a compra de um terreno (explicarei com mais detalhes no próximo post).

Estádio
Local
Publico
Custo (R$)
Assento (R$)
Juventus
Itália
41.000
276.000.000
6.732
Mainz 05
Alemanha
45.000
135.000.000
3.000
Emirates
Inglaterra
60.000
1.287.352.400
21.456
Engenhão
Rio de Janeiro
46.000
400.000.000
8.696
Palestra
São Paulo
47.000
420.000.000
8.936
Grêmio
Porto Alegre
60.540
600.000.000
9.910
Dunas
Natal
43.000
413.000.000
9.600
Castelão
Fortaleza
67.037
518.600.000
7.736
Maracanã
Rio de Janeiro
78.838
869.100.000
11.024
Itaquerão
São Paulo
45.000
820.000.000
18.222

Um caso peculiar e parecido com o nosso é o do Arsenal (Inglaterra) que tinha um estádio velho, obsoleto e que o prejudicava comercialmente, o Highbury Park. Com isso sediou partidas da Liga dos Campeões no velho Wembley, pela capacidade maior. No final da década de 1990 foi decidido que se sairia da casa tradicional e com as candidaturas de Londres para os Jogos olímpicos, ficou decidido que Wembley seria modernizado. Surgiu então, a possibilidade da gestão compartilhada entre Arsenal e Tottenham, exatamente como “esperam” Flamengo e Fluminense no Maracanã.

As duas propostas foram votadas pelos sócios e a construção de uma nova casa foi a opção vencedora, muito por conta da pressão e visão de Arsene Wenger, treinador do Arsenal até hoje. Durante a fase de projetos e captação de recursos a empresa Aérea Emirates, entrando no mercado europeu, se interessou e comprou literalmente o projeto de construção do estádio, ficando com o direito de nome por 20 anos e patrocinador principal por 10 anos. Com o custo de 420 milhões de Libras era o “projeto certo, na hora certa”. Como as empresas aéreas do Oriente Médio encontraram a América do sul, quem sabe, hein?

Nos últimos campeonatos brasileiros a média de público do Flamengo tem ficado na casa das 12.000 pessoas, 26,5%% da carga total do Engenhão, onde tem mandado seus jogos, pessimamente administrado quando o Flamengo, já que tem a capacidade para 46.000 pessoas. Por questões de segurança geralmente são distribuídos algo em torno de 40.000 ingressos para que o publico fique em no máximo de 44.000 presentes. Para chegarmos a média de público do Atlético-MG o “Campeão” do ano passado o Flamengo teria que “colocar” no estádio 34000 pessoas por jogo, numa cidade maior e onde nossa torcida tem algo em torno de Três Milhões de torcedores, mas esbarramos na falta de promoção do clube, em seus jogos, relacionamento com o torcedor, que é péssimo e no preço dos ingressos. Uma família com quatro pessoas que desejava ir ao estádio gastava aproximadamente R$ 250,00 (Brasileiro de 2012):

Ingredientes” da diversão Custo
Ingressos (dois adultos) R$ 120,00
Adolescentes (meia entrada) R$ 60,00
Bebidas – quatro refrigerantes R$ 20,00
Cachorro-quente (pão e salsicha) - quatro R$ 20,00
Gasolina (cinco litros) R$ 15,00
Estacionamento R$ 15,00
Total R$ 250,00



Logicamente não é o preço do ingresso que conta, mas é a parte que sensibiliza diretamente ao (imaginário do) torcedor, que é rotativo nos jogos. O serviço ao torcedor é que deveria ser a parte mais importante, assim seria mais fácil um cliente sair de casa, já que dificilmente um grupo de torcedores irá a todos os jogos de um campeonato, ainda mais sem a venda de carnês. A ocupação média e público pagante do Flamengo foi frágil, apenas 8.800 pagantes, 25% de ocupação é um absurdo e pior fica quando constatamos ter a melhor média de público como visitante. Com preço médio de 20 reais e uma renda de R$ 226.740,00 para 11.598 pagantes, que ainda pode ser dividida, penhorada e paga aos quadros móveis, aluguéis e outros, exatos 29% de ocupação do estádio, melhor seria termos 34.000 torcedores/por jogo (85% ocupação) mesmo a um preço médio de R$ 12,00, além do estadio cheio para consumir aos produtos do clube, e isso não é simples, reconheço.

Esta era a realidade em 2012, mas como relata a matéria do site “Estádios e Arenas”, machday rende muito mais para o dono da casa e o Flamengo NUNCA se utilizou deste “artifício”, se o fez foi muito mal, senão teria continuidade, renderia mais aos cofres do clube. O dia de jogo gera renda direta com bilheteria e imagem, porque estádio vazio não é bom, e talvez a propaganda negativa relacionada ao Engenhão seja seu maior inimigo. Todas as propriedades possíveis de um novo estádio como bares, lojas, e diversas outras formas de arrecadação, receitas com shows e eventos, direito de nome, facilitam a capitalização do clube com um estádio moderno e adaptado a nossa (nova) realidade. Grande parte da torcida e a direção do clube querem o Maracanã, e é inegável seu peso sentimental e histórico para nós, mas jamais será igual, será outro “lugar”, mas penso eu que o Flamengo voltaria ao seu destino mais rapidamente com a construção de um novo estádio, um caminho seguro, por mais incrível que possa parecer.

FLAMENGHIEUBIQUE!

P.S.: A foto acima é do blogueiro Thiago Gonçalves, que "inseriu" o estádio Independência em Minas Gerais, dentro da Gávea, mostrando que é possivel um estádio pequeno para o Flamengo, enquanto não se resolve a situação do Maracanã ou de uma casa nova em dimensões maiores. Muito Obrigado pelas imagens Thiago!

P.S.2: Uma outra solução, já publicada aqui, seria a construção de um estádio tubular, temporário na Gávea, para 25.000 pessoas. http://www.butecodoflamengo.com/2012/02/um-novo-campo-para-o-flamengo-parte-ii.html