O confronto com o Milan foi a primeira partida que vi com
atenção do Barcelona após a saída de Guardiola e fiquei realmente desapontado.
Não pelo resultado, que realmente não me interessa, mas pela postura dos
jogadores. Ao invés do toque de bola envolvente, o que assiti foram os
habilidosos meias do barça forçando jogadas e enfiadas de bola e tentando abrir
a retranca italiana com arrancadas pelo meio que obviamente não surtiam efeito.
Me lembraram em vários minutos o que víamos Ronaldinho tentando fazer no
Flamengo, invariavelmente com resultado sofrível por conta da sua péssima
condição física. Olhando novamente a escalação da equipe durante o jogo, me
perguntei o que havia feito o estilo de jogo da equipe ficar tão diferente. O
Barcelona continua trocando passes exaustivamente e valorizando a posse de
bola, mas eles não saem mais com a mesma velocidade, de primeira como nos
tempos de Guardiola.
Refletindo um pouco mais, cheguei a conclusão de que talvez,
um bom técnico possa realmente modificar não apenas o comportamento da equipe,
mas mesmo a forma de jogar individual dos jogadores. O trabalho de fundamentos,
de posicionamento com e sem a bola acabam sendo sempre os destaques principais
quando se analisa a contribuição daqueles treinadores considerados top.
Sujeitos como Guardiola e mesmo Bielsa e Sampaoli vão um pouco além,
trabalhando reflexo condicionado e o raciocínio dos jogadores, para que ajam
com instinto, decidindo uma jogada em fração de segundos. Um passe inesperado,
um drible ou um chute bem colocado dependem bastante do talento nato de cada
um, mas despertar no jogador a capacidade de interpretar e selecionar a melhor
jogada é algo que pode, e deve, ser trabalhado por um bom treinador.
Continuando o raciocínio, foi inevitável pensar na
transformação que aconteceu no time do Flamengo do ano passado para cá. Creio
que a evolução do time tem muito a ver com a definição de um esquema de jogo,
com proposta bem definida de como se postar no ataque e na defesa, ainda que
esta última precise de um pouco mais de trabalho. É claro que influi muito a mudança de alguns
nomes do time titular, substituídos por jogadores mais jovens, mais rápidos e
habilidosos. Lembro, porém, que já vimos em muitos clubes exemplos de times que
funcionavam bem mesmo sem estrelas graças apenas a organização em campo e
comprometimento tático. E isso hoje é claramente visível no time do Flamengo
mesmo nos jogadores mais antigos.
Naturalmente, me perguntei se algum dia teríamos a
oportunidade de ver uma transformação ainda mais profunda no time,
provavelmente não com Dorival, mas com um outro treinador, com uma outra
mentalidade. Se realmente a mudança de filosofia trazida pelo grupo que assumiu
a direção do clube foi a causadora dessa guinada no comportamento do time de
futebol, talvez seja necessário apenas um pouco mais de ousadia para trazer um
desses treinadores revolucionários para comandar o Flamengo e levá-lo de volta
ao topo do mundo.
Abs e SRN!