terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Carlinhos, a Referência


Carlinhos, um homem de fala mansa, simples e direta, que lembro bastante, de uma memória afetiva da infância, uma infância vencedora, foi um mestre de gerações de craques rubro-negros. Excelente na armação de equipes, os esquemas de 87 e 92, são excelentes para análise e utilização de craques e jogadores com personalidade forte. Não sinto exista hoje o verdadeiro reconhecimento de seus feitos, um grande trabalho no futebol brasileiro, no futebol do Flamengo, porém nós rubro negros, o reverenciamos. Esta não será uma coluna sobre o MELHOR FORMADOR DE JOGADORES que passou pelos portões da Gávea (que vi, certamente), sim um post sobre as categorias de base no Flamengo (minha singela homenagem).

Base é para formar atleta, não para ganhar títulos na força e, talvez, a mais fantástica geração formada por nós, a geração de 92, campeã da copinha de 1990, seja a prova disso. Não adianta falar em geração Zico, porque os atletas da geração 81 foram formados em anos diferentes (posso estar completamente enganado), não em uma mesma equipe, com algumas exceções, logicamente. Essa “geração de ouro” subiu definitivamente em 92, mesmo tendo vencido a copinha em 90, o que já explica muito. Boa parte daqueles jogadores saíram de forma estranha do Flamengo, exceto Marquinhos, e no máximo em 1996 já eram campeões em outros lugares, com destaque e títulos relevantes. Jr. Baiano, Paulo Nunes, Marcelinho e Djalminha foram os principais jogadores do êxodo, mas outros se deram bem, numa geração bem feita e com excelente transição para a equipe profissional.

Segundo o BCB: “O problema da base do Flamengo é institucional, não é dos atletas que são a ponta do iceberg. A marra, a falta de fundamentos, de competitividade, de responsabilidade, a auto suficiência, o deslumbramento precoce, enfim são vários os defeitos que nossos atletas apresentam sistematicamente tem uns bons 15 anos, não é coincidência. Precisa mudar muita coisa, por que talento bruto os jogadores tem, falta só todo o resto. Acho que o setor precisa de uma mudança de pessoas e especialmente de filosofia. Urgente!” Tem como discordar? Ressalto que precisamos de uma melhor estrutura, que está sendo cuidada, demandando tempo para a finalização do espaço para a base, abandonada no clube por gestões passadas. A mudança deve ser completa, com melhor seleção e aprimoramento, investimento nos profissionais que lá trabalham e em ex-atletas que poderiam ser olheiros do Flamengo. O BAP falou sobre isso.

O Barcelona me impressiona e é o grande modelo a ser seguido. La Masía, o centro das “canteras”, é um prédio “quase comercial” gerido como uma empresa, que depois se integra ao futebol profissional, numa espécie de Holding esportiva. Mas por que a geração de Fabregas, Messi, Iniesta, Piqué e Busquets conseguiu tantas vitórias (na base e no profissional)? Porque eles estavam lá, juntos desde os 12 anos e começaram a ser FORMADOS na "nova escola" implantada pelo Cruiff no final dos anos 90 e a partir dos 16 anos de idade começaram a "ganhar tudo". Com 17 anos o Manchester United comprou o Piqué e o Arsenal comprou o Fábregas (ambos voltaram ao Barça), mas a semente estava plantada, principalmente com o Xavi, lider de uma geração dentro de campo, um pouco mais velho e uma nova política de contratações que revolucionou o futebol europeu. Chegou Ronaldinho e todos conhecem o resto.

Visitei ao site do Flamengo e de outros clubes procurando saber como funcionam estruturalmente, de quantos profissionais precisa um clube para operar em alto nível desportivo e empresarial atualmente. Nas paginas eletrônicas de Corinthians, Cruzeiro, Bayern de Munique, Real Madrid, Arsenal, Chelsea entre outros e constatei o óbvio: quem não profissionalizar ficará para trás. Sempre digo que o Flamengo tem o porte de uma multinacional do esporte e deveria ser tratado como tal. Fiz um esboço simples, de profissionais e suas funções, e penso que o mínimo para operar dentro do que o futebol de base exige é isso:

  • Diretor-executivo (Pelaipe), Gerente, Supervisor, cinco assessores (um para cada equipe, sub-21, sub-18, sub-16, sub-14, sub-12), especialista em logística, especialista em Marketing;
  • Comissão Técnica (um profissional para cada equipe): Diretor técnico (Treinador), um auxiliar técnico, treinador de goleiros, um treinador de ataque e finalização, um treinador de defesa e posicionamento, cinco observadores técnicos (olheiros);
  • Comissão Médica: Coordenador do Departamento Médico da Base, fisioterapeutas, médicos (cardiologista, ortopedista, dentista, nutricionista, psicólogo), dois enfermeiros, assistente social;
  • Comissão Atlética: três preparadores físicos, fisiologista, dois especialistas em biomecânica;
  • Comissão de preparação para alto desempenho e formação: especialistas em tecnologias (tipos de treinamento, gravação e edição de jogos e treinos, etc.), especialistas de desempenho, especialista em infraestrutura, cinegrafista, especialistas em estatística, especialista em TI e especialistas em softwares;
  • Administrador do CT da base, auxiliares administrativos e estagiários para todo o departamento de futebol (profissional e base);
  • Outras funções: massagistas, roupeiros, assessoria de imprensa, podólogos, almoxarife;

Posso até ter exagerado um pouco, mas algumas funções que descrevi sequer existem atualmente, em outros clubes, sim, e alguma deve ter escapado na descrição. Devemos começar (implantar) nossa escola de jogar futebol desde seu inicio, pensando no futuro do clube, com o mínimo de influências externas, muito trabalho, sem cobranças imediatas da torcida, o clube vai se preparar aos poucos para este passo maior. A eliminação na copinha foi dolorida, e infelizmente comum, exceto 2011, a formação deve ser mais cuidadosa, sem muita atenção com os resultados (o resultado é importante, não o principal).

Atualmente os atletas saem das categorias de base do Flamengo sem formação e um time B ajudaria na transição para o profissional lapidando, como acontece em grandes clubes da Europa. Acho muito melhor observar “em casa”, numa distância controlada, que ficar emprestando para clubes pequenos, com uma vantagem significativa: esta equipe poderia viajar pelo Brasil e pelo mundo quando o time principal não puder ir. O fundamental agora é confiar na nova diretoria e esperar a realização do trabalho e das promessas de modernização do clube, porque formar demora e uma "geração Flamenga" decente só deve aparecer no final da década. Paciência. 

Obrigado por tudo, Mestre Carlinhos! 

Ubique, Flamengo!

P.S.: Uma boa ideia, vinda do Butequeiro Thiago Amado, poderia ser adotada pelos azuis: O CT Carlinhos "Violino", que daria nome para a área dedicada ao módulo das categorias de base. Aliás, foi ele (Carlinhos) que passou suas honradíssimas chuteiras à nosso ídolo maior, Zico.