Tudo bem
que o estádio em questão é ainda mais longe que o Engenhão: fui com um grupo de
amigos de João Pessoa até Recife, assistir Náutico x Flamengo nos Aflitos.
Saí de casa
às 14h00 para poder chegar cedo em Recife, conseguir estacionar, etc. Fomos a um restaurante nas imediações do
estádio comer alguma coisa, e faltando 1h30 para o início da partida nos dirigimos
ao portão de entrada dos Aflitos. Ao
chegar no estádio, surpresa: o setor destinado à torcida visitante não
comportava sequer 1000 pessoas. Não se
podia passar pelo túnel de acesso, totalmente congestionado pela torcida do Fla
que não tinha para onde ir porque as arquibancadas estavam completamente
tomadas. Negocia daqui, negocia de lá, e
a PM decidiu abrir uma imensa área que servia de "separador de
torcidas", e finalmente conseguimos entrar, no atropelo, no
empurra-empurra. Depois eles acabariam
movendo o cordão separador um pouco mais e acomodaram toda a torcida. Mas caramba, eles não sabiam quantos
ingressos foram vendidos aos visitantes?
Por que não deixar tudo preparado antes, evitando um tumulto
desnecessário?
A posição
em que ficamos (digamos que não havia muita escolha) era próxima ao campo, mas
não dava para ter noção de profundidade, ou seja, não sabíamos se a bola estava
na intermediária ou no meio-campo. Ou
seja, não entendi nada do jogo (além de ver o RA e o Ibson voltando trotando
para uma defesa em polvorosa com o ataque adversário).
Cada
garrafinha de água custava R$5. Ficamos
o tempo todo de pé, e no final, já cansados, tivemos que esperar 1 hora para
sair do estádio, até que toda a torcida no Náutico saísse.
Cheguei em
casa às 23h00, depois da odisseia de 9 horas, com uma certeza: foi a última vez.
É uma
discussão interessante, essa da "elitização" do futebol, com todos os
seus prós e contras. Vou me ater aqui
aos prós, confiante que os butequeiros enriqueçam a discussão com os argumentos
contrários.
Num momento
em que se testemunha tanta inclusão social e econômica, em que as classes C, D,
e E passam a ser os alvos de diversos produtos e serviços antes jamais por elas
sonhados, devemos repensar algumas coisas.
Por exemplo, vemos e ouvimos diversos setores reclamando da falta de
mão-de-obra. Faltam operários da
construção civil, topógrafos, domésticas, etc.
Isso me leva a pensar que quem realmente quer trabalho consegue. E o nível de poder de compra desses empregados
tem aumentado. Antigamente dávamos nossas roupas velhas para nossas empregadas,
hoje elas tiram férias e vão de avião para Porto Seguro pela CVC.
Saudade dos
geraldinos? Aquele cara sem dentes,
feliz e fanático pelo Fla não existe mais, ou no mínimo está lentamente
deixando de existir. Houve uma divisão,
no meu ver, muito clara entre aqueles que entraram nessa "inclusão" e
os que por uma razão ou outra não entraram, mas estes estão longe de demonstrar
aquela alegria contagiante. Em outras
palavras, aquele cara da geral de antigamente ou está de dentadura nova, carro
popular na garagem, e comprando pacotes turísticos para Porto Seguro, ou está
na sarjeta fumando crack.
Ok, não é
tudo ou branco ou negro. Há vários tons
de cinza pelo caminho, mas é difícil negar a tendência e as transformações em
curso.
As camadas
mais pobres, evoé, não se sujeitam mais a serem tratadas como gado. Também querem o seu conforto,
preferencialmente financiado no carnê em 10 parcelas sem juros. Se as administrações dos estádios não
começarem a pensar urgentemente em oferecer assentos confortáveis, admissões
rápidas e eficientes para diminuir filas, lanchonetes e banheiros limpos, e
outros ítens para tornar a experiência de ir ao espetáculo o mais prazeirosa
possível, sem frustrações, acredito que o público tenderá a diminuir. O estádio perderá espaço para os PFC's, seja
em casa ou em bares e restaurantes, também na base da pirâmide econômica: é
questão de tempo.
O Estádio
dos Aflitos estava completamente lotado, mas creio que isso se deve em grande
parte ao porte do visitante e à excelente fase do Náutico jogando em seus
domínios. Esse cenário -- estádios
lotados -- começa a me parecer mais exceção do que regra.