Abaixo
reproduzo, com algumas modificações, um comentário que fiz em
resposta à coluna do Luiz Filho na última terça feira, dia
16.
Agradeço
aos amigos, em especial ao Rocco e a Leila, pela sugestão e
incentivo para postar o comentário, e ao Rocco, Gustavo e toda a
galera do Buteco pela gentil cessão do espaço. Obrigado a todos.
Espero
que gostem e principalmente que suscite boas discussões.
Em
relação à coluna do Luiz, acho que ela tem várias partes que
precisam ser analisadas de forma independente.
A
primeira, que diz que a bagunça dentro do campo é reflexo da
bagunça fora dele é exata, assim como a que diz que os erros de
arbitragens ocorrem no futebol para todos, um dia você é
prejudicado e no outro beneficiado. Ok.
Por
outro lado o complemento que urge o torcedor a se mostrar "grande",
não reclamar desses erros, ou o popular "mimimi" e se
mostrar útil, bem, nessa parte não concordo.
A
parte em relação a reclamar da arbitragem discordo integralmente:
arbitragem no Brasil é terra de ninguém e absolutamente suscetível
a pressões externas. Não adianta o Flamengo ficar nessa de que é
grande demais para reclamar, para entrar nesse jogo de pressão por
que a realidade é outra. Você não vai para um duelo de pistolas
com um estilingue, tem que dançar conforme a música e no futebol o
direito de reclamar é não só livre como por vezes necessário.
O
Flamengo precisa descer do salto de se achar o escolhido dos deuses,
o que tudo pode, o que apanha sem reclamar. Por sinal, não gosto da
frase chavão que muitos usam e usaram, a famosa "Isso aqui é
Flamengo, porra!". O que isso quer dizer? Eu acho uma frase sem
sentido, mais um brado para os deuses para que tentemos acreditar que
somos maiores do que somos no momento, como aquele milionário falido
que conta vantagens que não tem mais.
A
realidade do Flamengo hoje é que somos um clube estruturalmente de
segunda linha, ou terceira, como administração somos a piada do
Brasil e como time somos ordinários. Reclamar só não faria sentido
se alguém achasse que o Flamengo não é vencedor por que as
arbitragens impedem o Flamengo de obter algo maior, o que todo mundo
sabe não ser o caso.
Quanto
a ser útil, concordo, desde que fique claro o que é ser útil.
Acho
que no século XXI já deveria estar mais do que superada o que
considero um clichê que é esse mantra que fala que "lugar de
torcedor é no estádio", como se fosse uma guerra religiosa ou
algo assim (e não acho que o Luiz tenha dito isso, estou
extrapolando do ponto dele).
Penso
que o torcedor contribui literalmente como quiser, até por que,
salvo engano, ainda não temos estádios que caibam 40 milhões de
pessoas. Acho que o cara pode morar a 50 metros de distância do
Engenhão ou Maracanã e não querer ir ao jogo, preferir acompanhar
de outra forma, e outros podem sair de Rio Branco no Acre para
assistir e ambos são igualmente rubros negros e úteis.
Um
clube que tem Patrícia Amorim como dirigente, que é protagonista de
vexames semanais, não pode exigir literalmente nada de seu torcedor.
O torcedor ama o Flamengo, mas não é otário.
Acho
ainda que outro clichê que precisa entrar em desuso é o famoso e
antigo "nada do Flamengo, tudo pelo Flamengo". Eu não
estou disposto a ter uma relação assim, como torcedor. Exijo do
Flamengo ao menos respeito, digo mais, reconhecimento a mim como
torcedor, consumidor e frequentador, ainda que aleatório, dos
estádios, pois penso na minha relação com o clube como uma
relação de mão dupla, é dando que se recebe e o Flamengo de
hoje não nos dá nada.
O
ser humano discute Deus, religião, direito, justiça, relações
humanas, filosofia, enfim, basicamente tudo, mas deve aceitar as
coisas que acontecem no futebol de maneira impassível, automática?
Isso é ser torcedor, aceitar tudo por que se ama o clube? Alguém
faz isso em relação a qualquer coisa na vida?
Gostar
do Flamengo não significa que o sócio tenha a obrigação de sair
de Manaus, por exemplo, para vir ao Rio votar, que o torcedor tenha
que ir aos estádios sem acomodações mínimas, sem ter um time
minimamente decente, que tenha que aceitar tudo.
O
torcedor faz a sua parte tem tempo, cada um do seu jeito. Está mais
do que na hora do clube fazer a sua.
SRN.
Bcb.