A entrevista de ontem do vice-presidente do Fla-Gávea deixou um monte de
gente indignada e outros tantos de cabelo em pé ao mostrar de maneira
clara porque a re-eleição da diretoria atual é dada por muitos como
certa. O fato é que o grupo que hoje administra o clube se aproveitou da
divisão entre os caciques do futebol para ganhar a eleição e, uma vez
no controle, manteve o foco em garantir o apoio daqueles que os
elegeram, ou seja, os sócios e frequentadores do clube, que nem sempre
são torcedores do Flamengo.
Mas o Flamengo pertence aos sócios e frequentadores do clube ou aos milhões
de apaixonados que formam a Nação? Sempre que se aproximam as eleições
no clube a pergunta volta e, dessa vez, provavelmente mais forte do que
nunca. Pela primeira vez em muito tempo, o clube tem uma diretoria que
não tem como foco principal o futebol. Na internet correm protestos,
queixas e indignações que não se refletem na política da direção do
clube, que segue incólume, rumo à continuidade.
O lado positivo dessa questão é que finalmente parece ter caído a ficha
de que ainda que a entidade Flamengo pertença à nação, os donos do clube
são os sócios. E eles podem escolher, como fizeram da última vez,
alguém que não se importe se o time é campeão brasileiro ou se vai
cair para a segunda divisão, desde que a piscina esteja limpa e todos os
funcionários estejam felizes. Finalmente, a torcida parece entender que
precisa participar de maneira presente das decisões do clube ou então
somente vai poder reclamar na internet e levar faixas de protesto nos
estádios.
O outro ponto que eu achei interessante da entrevista diz respeito a uma
questão polêmica e de difícil solução, que é o estádio do Flamengo. O
dirigente sugere que o grupo atual pretende, caso continue na direção, fazer uma revitalização e ampliação do velho Bastos Padilha,
o nosso estádio da Gávea. Sei que muitas pessoas são contra por
acreditarem que o estádio do Flamengo é o Maracanã por direito, outros
pensam que o Flamengo deve planejar um estádio grande para comportar o
tamanho da sua torcida. E temos outros tantos que são contra só por
serem contra, especialmente, essa gestão atual, que tem o dom de
estragar até as boas idéias que surgiram nos últimos três anos.
Acontece que a cidade do Rio de Janeiro já possui um estádio de grande
porte, o Maracanã, administrado (bancado) pelo estado e um de médio
porte, o Engenhão, administrado pelo Botafogo. Nos dois casos, o
Flamengo é a principal fonte de renda, já que é o que leva mais público.
Por esse motivo, creio que dificilmente os governantes dariam
autorização ao Flamengo para construir um estádio para 60 mil pessoas que permitisse que ele não precisasse mais jogar no Maracanã. Sem os jogos do Rubro-Negro, esses estádios tendem a se tornar inviáveis economicamente.
Outro fato é que, ainda que sonhemos em ter médias de público como o
Barcelona e os clubes alemães e ingleses, em pelo menos metade do ano,
as médias de público costumam ser inferiores a 15 e as vezes 10 mil
pagantes. Apenas como referência as médias de público presente e pagante
do Flamengo no campeonato carioca 2012 foram de 8937 e 6688 torcedores,
segundo o site da FFERJ. Mesmo no campeonato brasileiro, jogos de
quartas e quintas à noite contra times menores dificilmente dão bons
públicos exceto quando o time está bem.
Um estádio menor aumenta as chances de lotação e permite ao clube elevar
o preço do ingresso em determinados momentos, como vem sendo feito pelo
Corinthians, que vende os bilhetes de alguns setores do pacaembu a 300
reais. Isso sem contabilizar vendas de camarotes, naming rights e todas
novas receitas que um estádio gera que tantas vezes foram mencionadas e
debatidas aqui no Buteco. Com um planejamento bem feito, é possível
inclusive aumentar a parcela de sócios do clube que sejam torcedores,
oferecendo vantagens e benefícios, como um setor exclusivo por exemplo.
Por esses motivos, eu penso que revitalizar e ampliar o estádio da gávea
para algo em torno de 15 a 20 mil pessoas é uma excelente idéia.
Lamento que esse plano seja lançado e executado por uma gestão que errou
em quase tudo que tentou no que diz respeito ao futebol. Por outro lado,
inegavelmente, os dois melhores departamentos do clube hoje são
justamente o de Patrimônio e o Fla-Gávea, o que pode diminuir a chance
de fracasso.
abs e SRN!