terça-feira, 29 de maio de 2012

O Exemplo Alemão



Nesta fase de preguiça e falta de tempo e motivação para escrever, influenciado positivamente pelo texto do Mauro, no pedrada sábado, reli um artigo escrito por mim na faculdade, em matéria eletiva (História Comparada do Futebol Brasileiro). Como já havia realizado um projeto anterior sobre a Alemanha, me foi permitido apresentar este trabalho de tema livre. Ele era sobre a recuperação social, econômica e esportiva da Alemanha do pós-guerra em comparação a esta recuperação do pós-copa do mundo de 2006, de título: "O milagre de Klinsmann", um trocadilho com o milagre de Berna, em 1954. O texto escrito em 2008, tem total relação com o Flamengo atual, quem diria. Se trocarmos as palavras, Alemanha por Flamengo e fizermos analogias diretas com a política do clube veremos semelhanças. Pode ser nossa salvação ou a derrocada total. Podemos fazer o mesmo, desde que haja união em torno do clube. O trecho abaixo é um fragmento do trabalho apresentado:

"Vigorou durante a construção da Copa do Mundo de futebol, em 2006 e vigora atualmente a necessidade de se revisar instituições, personalidades e histórias familiares durante o período nazista na Alemanha. Clubes de futebol como o Herta Berlim e o Bayern de Munique fazem uma releitura de sua História em um movimento de reconstrução da memória social alemã. Se as instituições alemãs não foram influenciadas pelo nazismo, no mínimo elas foram favorecidas pelo regime e, por isso se fez necessário o revisionismo. Diversos fatores estão incluídos, dentre os quais: Turismo, surgimento dos grupos neonazistas (e sua repulsa) e união nacional e a incorporação dos estrangeiros que vivem na Alemanha (a possibilidade de se viver pacificamente). Estes projetos, em grande parte, foram patrocinados ou incentivados pela DFB (Federação Alemã de Futebol) e um exemplo é a produção do filme “O milagre de Berna”.

Um dos fenômenos do período anterior a realização da Copa foi a proliferação de pesquisas históricas revisionistas do período nazifascista. Os historiadores Nils Havemann e Klaus Hildebrand fizeram uma pesquisa encomendada para a Copa do Mundo de Futebol e também pelo centenário da DFB. Havia a necessidade de uma visão mais critica da posição da DFB, durante o período nazifascista no país. No estudo intitulado “Futebol sob a suástica” – a DFB entre o esporte, a política e o comércio" tenta esclarecer as relações entre esporte e política na Alemanha, segundo a TV Deutsche Welle, no mesmo estudo é relatado que o time do Bayern de Munique que resistiu ao nazismo salvando seus atletas, combatendo o anti-semitismo1. Há também um movimento contrario e negativo aos valores nacionais, uma reposta que nem sempre ocorre baseada na violência, repressão. Por exemplo, a ampliação dos mercados no modelo neoliberal se reflete nos contratos dos jogadores de futebol; no caso da violência, temos o hooliganismo, movimento às vezes ligado a partidos políticos de direita na Europa e a relação dual e dicotômica entre pobreza e as classes médias e altas que se unem na América latina (na violência ligada às torcidas de futebol); entre outros exemplos de relações sociais que aparecem no esporte2.

O projeto construído entre DFB, Governo alemão, FIFA e o comitê organizador da Copa do mundo de 2006 teve um efeito pacífico e positivo sobre a população, dissolvendo as tensões internas na Alemanha. A comunidade do futebol é criadora de afinidades e aumenta a integração e as relações entre os países. Uma copa “de todos para todos” (os povos) na Alemanha veiculada com a mensagem “tempo de fazer amigos”, uma mensagem agregadora, e agradável, tanto para quem mora na Alemanha e não se sente integrado totalmente por aquela sociedade, quanto para quem desejava viajar para assistir as partidas da Copa do Mundo. 3

As três ideias juntas ("Alemanha - O País das Ideias", “tempo de fazer amigos” e “o mundo entre amigos”) são o mote para as ações concretas na ideia de pertencimento ao projeto nacional, além da decisiva ação integrada, em reação à segurança (governo alemão, OTAN, Polícias secretas de Inglaterra, França e Estados Unidos contra o Hooliganismo e contra o terrorismo). Outro ponto fundamental foram as ações coordenadas de marketing e as instituições sociais alemãs que convidaram estrangeiros (legais) a viverem na Alemanha, a estudarem na Alemanha e, principalmente, a produzirem na Alemanha (este de maneira implícita, indireta), com a realização de convênios entre universidades e empresas do mundo todo agregando outros estudantes e profissionais de diversos países, principalmente os habitantes da União Europeia.

Os resultados foram positivos. Contagiaram ao povo alemão que diretamente desvinculou o nazismo de seus símbolos nacionais; depois, agregou os estrangeiros que se sentiram à vontade em um país multifacetado e forte político economicamente (aberto pelo menos durante o período da copa do mundo); e em terceiro lugar, abafou os movimentos neonazistas que crescem na Europa (principalmente à partir da década de 1990), com inteligência, repressão e o funcionamento da política aplicada, pois o povo teve orgulho de ser alemão mesmo com sua seleção nacional não se sagrando campeã.Um evento desse porte promove investimentos dentro do país sendo catalisador, um acelerador econômico, com a Alemanha na Copa do Mundo de 2006, aparecendo para o mundo, como um exemplo de marketing positivo, união em prol da nação, motivação de toda uma nação e investimentos essenciais à produção nacional. Enfim as expectativas foram efetivamente concretizadas, inclusive com a imagem da Alemanha sendo desnazificada e ficando ligada ao Mundial." 4

1 - Futebol sob o signo do nazismo. Alemanha 15.09.2005. Página eletrônica da TV alemã Deutsche Welle. Disponível em: http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,1711081,00.html. Acesso em 17.01.2008..
2 - Sobre violência no esporte e principalmente no futebol ver em: ALABARCES, Pablo (Org.). Futbologías: Fútbol, identidad y violencia en América latina. Colecto Grupos de Trabajo de deportes y sociedad. Buenos Aires. CLACSO. 2003.
3 -  O diplomata: Wolgfang Ischinger. In: Revista Deutschiland: Fórum de política, cultura e economia. Frankfurt. Societäts-Verlag, Ministério das Relações Exteriores. Nº 5. Out-Nov. 2006. P. 36-39.
4 - Economia alemã cresceu com o Mundial, diz ministro. Disponível em: http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Arquivo/0,,AA1232815-5187,00.html. Acesso em: 10.04.2008.

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