Nesse período de férias forçadas do futebol do Flamengo não só é mais difícil achar assuntos interessantes para colocar em discussão mas também é muito ruim acompanhar o noticiário Rubro-Negro em geral. Sempre as mesmas discussões, notícias sobre o resultado da pelada entre os jogadores, a vida noturna de Adriano e Ronaldinho, declarações embaraçosas de dirigentes amadores e as mesmas tentativas de contratação de sempre de Ibson, Juan, etc...
Uma outra situação bastante complicada é o excesso de críticas a atual diretoria do clube. Por mais que ela seja uma interminável fonte de erros e decisões míopes e obtusas, é fundamental o cuidado para que as queixas e textos não assumam um caráter político e panfletário. Resumindo a idéia: não podemos deixar que nossas palavras se tornem munição para uma presidente que adora se fazer de vítima.
O tema que quero levantar é algo que chamou a minha atenção na "entrevista" da presidente em um programa de televisão na última sexta-feira. Durante uma vergonhosa sessão de perguntas que mais parecia um quadro de propaganda eleitoral, mostrando imagens da nadadora e vereadora, ela em um dado momento colocou em oposição sócios e torcedores ao dizer que a opinião destes últimos não importa tanto, já que não votam no clube. Ora, trata-se de uma declaração extremamente perigosa no meu entender. É como dizer que os consumidores de um produto não importam para empresa que o vende, já que não votam nas assembléias que escolhem a diretoria e aprovam os bônus para seus executivos.
Na coluna do dia 1o de abril, eu já havia levantado a bola de que o clube da gávea e a Nação Rubro-Negra há muito tempo já não comungam dos mesmos interesses. As palavras da mandatária e as medidas da diretoria atual apenas reforçam que a torcida e o futebol se tornam cada vez mais algo conveniente na hora de negociar direitos de televisão e inconvenientes na hora em que cobram resultados, profissionalismo e medidas que interferem no status quo e nas batalhas políticas internas dentro do clube. Assim, situações de crise são contornadas com a busca de ídolos antigos ou novos para aplacar os ânimos do torcedor comum ao invés de se buscar medidas pragmáticas que resolvam os problemas ou pelo menos o tornem menor. As colunas do Luiz Filho aqui do Buteco tem milhares de sugestões nesse sentido para todas as áreas do clube e de aplicação em curto, médio e longo prazos, por exemplo.
O problema maior, no meu entender, é que ao separar sócios e torcedores, Patrícia vai contra a história do clube, que se tornou popular justamente por não ser exclusivo, e enfraquece o sentimento de rubro-negrismo mundo afora, deixando claro o fato de que os torcedores não fazem parte real do Flamengo atual. Dessa forma o clube afasta e abre mão da participação e das idéias de milhares de rubro-negros inteligentes e comprometidos com o clube mas que não dispõem do dinheiro para as mensalidades do clube ou não têm como vir ao Rio apenas para votar a cada três anos. Pior desestimula a participação e o surgimento de novos torcedores que passam a ver o clube como algo distante, que faz questão de ignorar o que acontece fora de seus muros. Além disso, o que dizer de vários sócios que são torcedores e se associaram muito mais por amor ao clube do que para fazer uso das suas instalações?
Felizmente, já existem alguns grupos de torcedores que estão se associando e buscando uma participação mais ativa na vida política interna do Clube. Torço para que esses grupos sejam capazes de estimular uma mudança no estatuto para que nunca mais seja sequer sugerida uma oposição entre os sócios e os torcedores. Que as palavras da presidenta tenham o efeito contrário ao que ela espera e estimulem ainda mais torcedores a se associarem e mudarem a mentalidade do Flamengo. Somente com a participação da torcida o Flamengo vai voltar a ser realmente um clube que representa uma Nação!
SRN