Buongiorno, Buteco! Joel Santana teve os quatro jogos que pediu. Na verdade, teve cinco. Será que podemos dizer que houve significativa mudança em relação ao time de Vanderlei Luxemburgo? Sinceramente? Penso que não. A formação é a mesma: estão lá Aírton recuado, como primeiro volante, Willians e Renato Abreu, o primeiro pela direita, o segundo pela esquerda, como segundos volantes responsáveis por defender e armar o jogo. A diferença, que acabaria também vindo a ocorrer com Vanderlei Luxemburgo, em razão da saída de Thiago Neves e a chegada de Vagner Love, é o recuo de Ronaldinho Gaúcho e a escalação de dois atacantes, sendo o outro Deivid. O time parece mais leve, como se o clima estivesse mais "desanuviado", mas isso, creio eu, é reflexo do bom relacionamento que Joel tem com o elenco e do péssimo momento que Luxemburgo vivia com o mesmo elenco. Prova disso é que, quando Patrícia Amorim avisou oficialmente os atletas que Luxemburgo seria demitido, eles jogaram um bom primeiro tempo contra o Real Potosí no Engenhão. Acredito que todos nos lembremos disso. O futebol apresentado na ocasião talvez tenha sido até superior ao demonstrado pelo time de Joel até aqui.
Um dos argumentos mais lidos e escutados para justificar a contratação de Joel Santana foi o de pôr um basta nos, digamos, obscuros interesses, ou investidas, como queiram, de Luxemburgo, via interpostas pessoas, em direitos federativos de atletas do clube, segundo noticiou um blog recentemente, fato amplamente divulgado no meio dos blogs rubro-negros. Penso que o argumento não pode nem de longe ser desprezado. O que "pega" pra mim, após esses cinco jogos do Flamengo sob o comando de Joel Santana, e compilando todas as críticas que eram feitas (inclusive por mim) a Vanderlei Luxemburgo, é a grande peça que o destino nos pregou, e a ironia que vejo nesse quadro. Aos fatos:
1) Criticávamos o losango, mas ele continua lá, com uma pequena variação, porém com os mesmos jogadores que criticávamos e sem as variações que o Luxemburgo eventualmente fazia, ora escalando o time com jogadores abertos pelas pontas, ora num 4-4-2 com meias ofensivos, já que, com Joel, o esquema é sempre monocórdio, defensivo e repleto de volantes, e a variação que existe é para tornar o time ainda mais defensivo, com quatro volantes, como ocorreu contra o Lanús em Buenos Aires.
2) Criticávamos Vanderlei Luxemburgo por preterir os jovens da base, especialmente os mais talentosos da geração campeã da Copa São Paulo de Juniores/2011, mas a verdade é que, com Joel Santana, apenas Negueba e Luiz Antonio tiveram chances, e com o segundo a paciência parece que já acabou. Por mais incrível que pareça, jogadores como Diego Maurício, Muralha e Thomaz, indiscutivelmente alvos de perseguições e grandes injustiças com Vanderlei Luxemburgo, tinham mais chances e apareciam mais, e com Joel parecem tender a cair no mais completo ostracismo, pois ele agora tende a dar preferência a jogadores mais velhos, como Maldonado.
3) Renato Abreu não só continua intocável, como o Willians ganhou o mesmo "status".
4) Ronaldinho, bem ou mal, e embora às vezes por motivos inconfessáveis e por pura disputa de poder político, era questionado, mas agora reina absoluto.
É sempre muito bom puxar pela memória e lembrar que Joel Santana sempre foi um técnico que trabalhou, de fato, com o menor número de jogadores possível. Eu sempre chamei isso de "panela". Não é um técnico que goste de usar todos os jogadores do elenco. Ele tem sua filosofia tática, que todos conhecemos, escolhe seus soldados que a ela se adaptam melhor, e busca a menor variação possível. É claro que, com ele, o ambiente está mais leve e desanuviado, pois os demônios e os vícios de Vanderlei Luxemburgo cedo ou tarde comprometem irremediavelmente tudo que o cerca, tal como ocorreu no Flamengo e em todos os clubes nos quais trabalhou nos últimos tempos. Ao mesmo tempo, porém, é inevitável reconhecer que o destino nos pregou uma tremenda peça e provou que o velho ditado segundo o qual "nada é tão ruim que não possa piorar" é absolutamente real e atual, ao menos no que toca ao nosso sonho, tão acalentado, de ter um time ofensivo, talentoso e formado com o aproveitamento (não necessariamente como titulares) dos melhores jogadores da base vindos de uma geração vitoriosa.
Uma questão de prioridade
Outro medo que Joel Santana provoca é a priorização do Estadual em detrimento da Libertadores. Quando penso no "colégio eleitoral" que levou Patrícia Amorim ao poder, realmente fico com medo que esse pensamento provinciano, pequeno e medíocre, que combina perfeitamente com o perfil de Joel Santana, possa prevalecer, ainda que tentem disfarçar e não venham a reconhecer explicitamente o plano. Para ser bem sincero, acho que o discurso da "tem que conquistar a vaga na Libertadores", adotado por Patrícia Amorim na reta final do Brasileiro/2011, era apenas uma deixa para demitir Vanderlei Luxemburgo antes, acaso a vaga não viesse, pois se ela, a vaga, fosse tão importante assim, a preparação para a competição teria sido feita de outra forma, sem as presepadas e a guerra política suja, em detrimento da pré-temporada, conforme tivemos o desprazer de assistir.
Ocorre que, com todo o torcedor com quem converso, a resposta é a mesma: ninguém se dará por satisfeito com mais um estadual. Está todo mundo cansado de ganhar estadual. Ninguém quer é continuar a mais de três décadas sem ganhar a competição mais importante do continente, pois, afinal de contas, estamos falando "apenas" do clube de maior torcida do mundo.
A presidente de um clube de tamanha grandeza deveria ter consciência de tão elementar aspiração de sua torcida e saber conduzir o clube para atingi-la. Se não sabe, não está à altura da função para a qual foi eleita.
Bom dia e SRN a todos.