Buon Giorno, Buteco! Começamos 2012 como terminamos 2011: mesmo elenco, sem reforços de qualidade para as posições carentes do time, e estamos prestes a estrear na fase qualificatória para a competição mais importante do ano. Resolvi então escrever essa primeira coluna de 2012 fazendo um raio x do elenco do Flamengo, do futuro grupo (assim esperamos!) e dos demais grupos da competição. O ideal, claro, seria fazer a análise dos grupos após passarmos pelo Real Potosí, da Bolívia; contudo, o Estadual então já estará a pleno vapor, o time jogando, e provavelmente faltaria espaço para uma análise mais aprofundada e detalhada. Então, peço aos amigos que não tomem essa análise do "futuro grupo do Flamengo" como um exercício de arrogância; tenho a consciência de que o futebol que a equipe apresentou na reta final do Brasileiro é suficiente para deixar todos bastante preocupados com o confronto com o Potosí. Vamos começar então pelo elenco.
Elenco
Goleiros - Estamos bem servidos com Felipe, na minha opinião. Desde Júlio César temos bons goleiros e Felipe, ao meu ver, está no mesmo patamar do Bruno, quando em seu auge. Paulo Victor foi seguro nas partidas em que atuou pelo Brasileiro/2011, mas talvez fosse ideal um reserva mais experiente. Esse contudo, é o menor dos nossos problemas, ao meu ver.
Laterais - para mim, aqui reside o maior problema do Flamengo, talvez maior até do que a zaga. Os nossos laterais têm deficiências na parte defensiva, sendo que, no caso do Leonardo Moura, a idade talvez esteja cobrando o seu preço, embora, ofensivamente, ele ainda tenha o que mostrar. O reserva de Leonardo Moura é um jovem que padece do mesmo defeito - Galhardo. Na lateral esquerda, o problema com Júnior César é menos acentuado, ao meu ver, devendo ainda ser ressaltado em seu favor que, ao contrário de Leonardo Moura, que tem a ajuda de Willians (volante pelo setor direito), Júnior César, obviamente, não tem a ajuda de Renato Abreu (volante pelo setor esquerdo), que não marca nem a própria sombra. O reserva de Júnior César, o recém contratado Magal, chegou afirmando ser melhor na parte ofensiva do que na defensiva, além de ser um jogador com experiência apenas em clubes pequenos e, portanto, em competições de minúsculo porte.
Zaga - temos um zagueiro confiável: Alex Silva. Os outros dois, Welinton e David Braz, causam pesadelos à torcida. Não têm condições de serem titulares em uma Libertadores da América. Acho também que jovens zagueiros recém promovidos da base, como é o caso de Frauches, devem ser primeiro testados no Estadual e não na maior competição da América Latina. Até o momento a Diretoria flertou com um zagueiro que o Internacional, duas vezes campeão da competição nos últimos dez anos, não traz em seus planos. A situação, aqui, preocupa, e muito.
Meio de Campo - em tese, o setor no qual estamos melhor servidos. Alguns bons jovens volantes, como Muralha e Luiz Antônio, advindos de uma geração especial da base, e outros que ainda podem ser aproveitados, como é o caso de Victor Hugo. Contudo, o treinador demonstra predileção por jogadores mais experientes. Até aqui, em tese, o treinador teria alguma dose de razão por conta do fator experiência; o problema se apresenta quando se constata a diferença abissal de qualidade entre os volantes reservas e os titulares, e também que esses jogadores titulares não são bons passadores e por isso travam a evolução da equipe dentro de campo.
Willians é um jogador que carrega a bola em demasia e frequentemente a perde, sendo que, ultimamente, tem apresentado problemas fora de campo que influenciaram negativamente em sua maior qualidade, que é a capacidade de marcação. Renato Abreu está com idade avançada, é lento, e só consegue dar bons passes, propiciando uma boa saída de jogo, quando é escalado recuado, em uma linha de dois volantes, e não com a dupla função de defender e se adiantar para armar o jogo. Quando o adversário "fecha a marcação" e reduz os espaços, não sabe o que fazer com a bola. Jogando recuado, não suporta o ritmo de um jogo mais pegado, com maior força na marcação, e de sua parte não consegue mais marcar, por conta da idade. Aírton é uma bomba relógio prestes a explodir dentro de campo. Analisando a sua atuação em partidas como o primeiro tempo contra o Grêmio, constata-se o porquê de muitos terem esperanças em seu futebol. Com a cabeça no lugar, marca bem e tem até uma boa saída de bola. Seria um bom primeiro volante, mas basta ver as suas explosões de raiva, presentes nos dois Fla-Flus do Brasileiro/2011, ou na partida contra a Universidad de Chile pela Sul-Americana, para constatarmos verdadeiro perigo de o termos na equipe titular em uma Libertadores da América, onde as arbitragens não costumam ser condescendentes com os brasileiros.
O elenco conta ainda com alguns jogadores de alto nível técnico para a função de meia, como é o caso de Ronaldinho Gaúcho, Thiago Neves, Thomaz e Bottinelli. Acredito que o problema maior seja tático e todos sabemos o quanto o Destreinador é apegado as suas ideias fixas.
Ataque - outro setor em que a preocupação é grande. Nosso "melhor atacante" é Deivid, que teve um desempenho bom no Brasileiro, se contarmos o número de gols marcados e que nenhum deles foi de pênalti, mas ficou aquém dos artilheiros que brigaram pela ponta, nenhum deles sendo um grande craque, diga-se de passagem. Em seu favor, sem dúvida, pode ser contado o esquema tático que o deixa isolado na frente e a subida de rendimento que sempre demonstrou com os esquemas mais ofensivos, mas todos sabemos que, após a contusão que o vitimou quando ainda estava na Turquia, jamais foi o mesmo, tendo protagonizado lances bizarros dentro de campo. A relação custo/benefício não é boa, pelos gols marcados, futebol apresentado e o salário pago. Deivid brigará por posição, pelo jeito, com Itamar, que veio do futebol mexicano, e que apenas com os jogos poderemos constatar se o DVD é um sucesso de produção ou de fato reflete a realidade. Já Diego Maurício provavelmente continuará como jogador que entra pelos lados, apesar de ter todas as características para ser testado como centroavante centralizado. Negueba, da mesma forma, rende bem quando aberto pela direita, tendo inclusive protagonizado importantes viradas da equipe na campanha do Brasileiro/2011.
Bem, o elenco é esse. Preocupa-me especialmente o setor defensivo. Talvez chegue um zagueiro. Já vi equipes mais modestas irem longe na Libertadores e disputar título, porém um problema muito maior do que as deficiências do elenco seja a concepção de trabalho do Destreinador e seus critérios obscuros para definir a escalação e o esquema tático, além de indicar os reforços. Tudo indica que teremos, mais uma vez, a equipe formada em torno da incapacidade defensiva de Renato Abreu. Até onde podemos chegar com essas ideias?
Real Potosí
É obrigação do Flamengo passar pelo Real Potosí. Sim, eu sei que o primeiro jogo será disputado fora de casa, a 4000m de altitude, talvez em condições climáticas extremas, tal como da última vez. Porém, vejam o nosso elenco e, mesmo sem conhecer os jogadores bolivianos, com todo o respeito, e mesmo sem os reforços ou as alterações táticas que gostaríamos, não é tolerável nada menos do que a classificação para a fase de grupos.
Vou então partir dessa premissa. Sei que o futebol pequeno e medíocre exibido na fase final do Brasileiro/2011 assusta, mas ainda assim o Flamengo tem essa obrigação e vou, por isso, partir da premissa de que irá se classificar.
Na fase de grupos o futuro ganhará (?) contornos reais de incerteza.
O Grupo 2
O Lanús, da Argentina, será o primeiro adversário. É um time de bairro, longe de ser um dos mais populares ou maiores daquele país. Contudo, classificou-se para a Libertadores pela média de pontos no campeonato argentino nas últimas temporadas, tendo sempre sido um dos que mais pontuou. Acredito que somente por esse fato já podemos considerá-lo como um adversário difícil. Nenhuma equipe consegue se manter entre as primeiras no campeonato argentino sem demonstrar regularidade e competitividade.
O Olímpia, do Paraguai, volta à Libertadores após alguns anos de ausência, e, antes da mais nada, exibe a condição de tricampeão da competição. Tem camisa, tem tradição. Tem time? Veremos na prática, mas é bom respeitar. É bom lembrar que, até uns cinco anos atrás, o Flamengo estava terminando um período parecido, que graças a Deus ficou para trás, e nunca, em momento algum, foi saudável desprezar o Flamengo. Time grande é time grande e o Olímpia, na América do Sul, é grande.
O Emelec, do Equador, será provavelmente o fiel da balança. Da mesma cidade da LDU (Quito), é figura carimbada na Libertadores, porém nunca conseguindo passar da primeira fase, ao contrário da rival. Ao seu favor terá a altitude. Resta torcer para que os dias de preparação em Sucre sejam úteis para o confronto em Quito. Quem perder mais pontos para o Emelec, entre Flamengo, Lanús e Olímpia, correrá maior risco de não passar para as oitavas-de-final.
Os Outros Grupos
Nossos "coirmãos" Fluminense e Vasco da Gama enfrentam grupos tão ou mais difíceis do que o do Flamengo. O Fluminense pega um grupo com Boca Juniors e, provavelmente, Arsenal de Sarandi (que deverá passar pelo Sport Huanacayo, do Peru). Já o Vasco da Gama pega o Nacional do Uruguai e, provavelmente, o Libertad do Paraguai (que eliminou o Fluminense ano passado e deverá passar pelo El Nacional, do Equador, na Pré-Libertadores). Nacional e Libertad são times que sempre passam da primeira fase, disputando frequentemente oitavas e quartas-de-final nas Libertadores que disputam.
O Corinthians deverá disputar o primeiro lugar do grupo, sem sustos, contra o Cruz Azul, do México, e o Santos poderá pegar o Internacional, cuja classificação, conduto, é incerta, pois pega o Once Caldas, da Colômbia, pela Pré-Libertadores, o mesmo time que eliminou o Cruzeiro ano passado. O Santos deverá disputar o primeiro lugar do grupo com um desses dois adversários.
Finalmente, muito equilíbrio no Grupo 8, sem brasileiros, com Universidad de Chile, Peñarol (que deverá eliminar o Caracas, da Venezuela), Godoy Cruz (Argentina) e Nacional de Medellín.
É isso, amigos. Vamos ver se virá ao menos um zagueiro decente.
Bom dia e SRN a todos.
