terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Um Momento Na Eternidade



Trinta anos. Exatos trinta anos. Pensei muito no que escrever. Deu um branco. Imaginei que seria fácil, que não faltariam as palavras, mas elas agora me escapam, furtivas. Sobra a emoção. Ao fitar essas imagens, vêm as memórias de um guri de doze anos de idade, que tinha como referências na vida o pai e esses atletas. Definitivamente, não era um time de fanfarrões, de boêmios ou notívagos inveterados. Aquele pessoal era formado na Gávea e quem veio de fora era como se nela nascido fosse. A gente confundia aquelas pessoas com a camisa, com o Manto Sagrado. Parecia uma coisa só. Era diferente.


Naquele tempo, não havia internet; as informações chegavam por rádio, jornal ou televisão. O Regime Militar já não era o mesmo, mas ainda faltava um bocado para acabar. A América do Sul era sombria e o Flamengo foi o terceiro clube brasileiro a conquistá-la, a duras penas, levando pedradas e pontapés, graças a esses atletas. Faltava o mundo. A sua frente o gigante da época, o maior campeão daquele tempo na Europa, do Futebol Inglês que dominava aquele continente - de 1976 até 1984, os ingleses só não venceram uma temporada, e dessas oito o adversário do Flamengo, o Liverpool, conquistara nada menos do que a metade.


É difícil descrever o tamanho do orgulho por ser o segundo clube brasileiro a conquistar o mundo, afinal de contas, antes do Flamengo, apenas o Santos de Pelé havia conquistado esse feito. Depois vieram outros clubes brasileiros, animados com a conquista rubro-negra, mas certamente tiveram seu caminho facilitado pelo verdadeiro abre-alas que foi a conquista de 1981.

Seria de uma injustiça simplória, portanto, descrever essa conquista simplesmente tomando como parâmetro o tamanho do título, pela circunstância de ser um mundial. Foi o segundo título mundial de um clube brasileiro, conquistado numa época sombria do continente sul-americano, por uma equipe que se notabilizou pela magia e pela arte de seu futebol, bem como pela dignidade de seus atletas, em sua grande maioria formados dentro do próprio clube, em suas divisões de base. Que outro clube no mundo teria condições de repetir tamanha proeza?


O Flamengo pode, e todos esperamos que isso aconteça, vir a conquistar vários títulos mundiais, mas nenhum será capaz de superar em importância, simbolismo e qualidade o título de 1981.


Dizer obrigado a esses atletas é pouco. O Buteco do Flamengo gostaria, de alguma forma, de tentar expressar todo o sentimento de gratidão e toda a emoção que nós, torcedores, sentimos ao falar daquele tempo e dessa conquista. Foi um tempo em que o futebol fazia as pessoas se confraternizarem e dançar nas ruas. Numa época em que o governo cerceava o direito de reunião e de livre manifestação do pensamento, era a arte, a qualidade e a beleza do futebol do Flamengo um alento que as permitia sonhar e experimentar a liberdade. O título de 1981 foi provavelmente o ponto mais alto disso tudo.


Valeu, pessoal. Vocês são Eternos e serão eternamente lembrados. Muito obrigado.


Bom dia e SRN a todos.