Sábado cinzento no Rio e a enfadonha ida ao salão já tinha ganho a pauta do dia. Antes, porém, uma olhadinha básica no twitter e lá estava o Arthur (@mengãohepta) anunciando o jogo dos meninos da base. Fla x Flu aqui perto pra ver a garotada da Copinha, não precisei de muito tempo pra chutar o salão pra escanteio. Demorou.
Na ida, nas redondezas da São Salvador, devidamente trajada com o Manto, uma voz grave e alta se dirige a mim sem o menor pudor. O elogio eloquente ao manto, junto com olhares e sorrisos durante o trajeto, já aflorou todo meu orgulho flamengo. Mais adiante, já nas proximidades da floricultura, me deparo com uma cena inusitada, um basset trajado de flu kkk. Gargalhei internamente e pensei, tudo a ver.
Finalmente, lá chegando busquei uma melhor visão do campo, sentando no degrau mais alto da arquibancada. Minhas atenções ficaram divididas entre o jogo e alguns personagens ali presentes, inseridos num agradável ambiente familiar.
Logo abaixo, marido, mulher e filho. Ela rubro-negra, ele tricolor e o filho, claro, Mengão. Não tive como deixar de notar o adjetivo que ela usou ao se referir a ele: "é um desviado".
Encostado em uma das pilastras, vendo o jogo todo de pé, um autêntico rubro-negro que, com sua voz possante, incentivou o time o tempo inteiro. Pensei tratar-se de um integrante de organizada, mas que nada, era "apenas" o Beto, um grande torcedor que faz questão de estar presente e levar seu pequeno consigo. Olha a dupla aí do lado.
Vi o jogo ao lado de uma torcedora e lá pelas tantas fico sabendo tratar-se de nada mais nada menos do que a mãe do Lucas, Jaqueline. Melhor ainda, pois mesmo antes de conhecer o fato, já havia elogiado o jogador. Simpaticíssima, foi emocionante assistir a partida ao lado de alguém que, além de torcedora, é mãe. Sentada depois dela, Vanda, a mãe de outra promessa e autor do nosso gol de pênalti, o camisa 10 Pedrinho (na foto ao lado, a de camisa vermelha é a Jaqueline e a de jaqueta preta a Vanda).
Agora, imaginem vocês o que é torcer pelo Flamengo e por um filho ao mesmo tempo. Até aonde vai a adrenalina e a tensão dessas verdadeiras guerreiras. Sei que eu, mera torcedora, quando abrimos o placar, fiquei com o braço todo arrepiado. Então, toda vez que estiver mega estressada com algum jogo, vou pensar nessas mães flameguistas, que sofrem em dobro e seguram o rojão. Parabéns pra elas.
Sobre o time e os jogadores em si, confesso que fiquei encantada com o futebol do Lucas, pra mim o melhor do jogo. Apesar de ser atacante e finalizador, o que notei é que o Lucas tem algo raro em jogadores dessa posição: visão de jogo. Ele sabe jogar a bola no vazio criando espaços e desconcertando a defesa adversária. Parece um camisa 10 atuando perto da área. Também percebi que raramente perde pra seus marcadores. Quando cai pela ponta, vai pra cima e, com velocidade e bom drible, leva muito perigo ao adversário.
Conversando com a Jaqueline ela me disse que o Lucas já está no Flamengo há 13 anos. Revelou também como foi sofrido o processo de lidar com as lesões. Nos últimos tempos, ele teve uma lesão muscular grau 1, que evoluiu pra grau 2 e chegou a grau 3. Ciente da informação que era apenas o 2o jogo, após um grande período de afastamento, confesso que fiquei ainda mais entusiasmada com o potencial do jogador.
Em não muito tempo acredito que teremos uma excelente opção vinda da base. Muita calma, no entanto, já que a posição é das mais cobradas e atrai os maiores holofotes. Céu e inferno têm limite tênue nesse caso, mas tal fato também não deve impedir o desenvolvimento natural do atleta. Sou capaz de afirmar que, em 2012, ele já estará preparado pra treinar com o grupo de cima.
Algo que chama a atenção no time é a ausência de volantes botinudos. O time jogou com 3 volantes (formação que não gosto), mas tendo qualidade no passe. A distinção com o profissional não é pequena. Dentre os volantes, me chamou atenção o Vitor Hugo, que passa bastante segurança dentro de campo.
Já no 2o tempo, incompreensivelmente, o treinador tirou o Lucas pra colocar o Adryan. Logo de início o que se nota não é o futebol, mas sim o cabelo (um moicano loiríssimo) e as chuteiras caneta marca texto. Preocupante demais.
A habilidade do jogador com a bola é diferenciada, mas não foi suficiente pra mudar os rumos da partida. Jogar de forma mais coletiva também não pode ser esquecido. Numa das faltas que bateu, a melhor opção era cruzar e não bater direto. Acredito que o Adryan ainda não está pronto pra subir. Precisa sobretudo de foco, sem o qual seu grande futebol periga ficar diminuído. O técnico também não ajudou ao colocá-lo no lugar do Lucas, como 2o atacante. Ninguém entendeu nada.
Por falar nisso, nossa promissora base merecia um técnico de melhor qualidade. São erros grosseiros como o descrito e notei que há uma certa deficiência também na organização do time. Apesar das habilidades individuais, nem sempre o time está bem postado em campo. Volta e meia a bola ficava presa em uma das laterais do campo, com o setor completamente congestionado, não resultando em nada.
Por outro lado, chama a atenção como os jogadores jogam com raça, nunca dando uma bola por perdida.
Ao final do jogo, já na calçada, dei de frente com o Lucas e me agradou demais a postura dele. Visivelmente chateado com o empate (na casa do adversário) ele me disse, mas o próximo vamos vencer.
Será que hoje, os profissionais terão essa mesma postura? Espero sinceramente que sim. De preferência, sem Renato Abreu e Willians em campo. Vendo a 'new generation', fica claro que os botinudos estão completamente ultrapassados.