O meu dileto freguês!
Rodrigo Romeiro
Saudações Caros Butequeiros Rubro-negros. Obviamente nasci flamenguista. Mas ainda pequeno, decidi tratar essa paixão com seriedade e abri um pequeno negócio no meu coração. Começou, como todo bom negócio familiar, com uma portinha, e depois foi crescendo, crescendo, crescendo, até ficar grande e difícil de administrar. Ao longo dessa jornada, fui fazendo parceiros e conquistando fregueses. Tenho consideração por todos eles, mas esse meu negócio chamado Flamengo, tem um freguês especial e de inesquecíveis lembranças.
Nunca nenhum outro me deu tantas alegrias futebolísticas e pessoais como o Sport Club Cortinthians. Foi tão fiel, que passou a manifestar, recorrentemente, a notória freguesia. Não foram vitórias apenas nos gramados, mas também na vida. Apostador contumaz que sou, não me furtava a desafiar um corinthiano em praça pública para uma aposta. Ah Caros Butequeiros, e como tomei cerveja às custas deles.
O primeiro clássico das multidões que tenho na memória foi o da Copa União de 1987 (http://www.youtube.com/watch?v=Ag_CCk0868k). Curiosamente, não foi uma vitória e sim um empate. Mas foi naquele jogo que o Flamengo começou a arrancada para a conquista do seu quarto título brasileiro. Depois veio o confronto pela Copa do Brasil de 1989 (http://www.youtube.com/watch?v=Q-Bs9YM1Vi4), em que despachamos o freguês novamente e rumamos para mais um título. Na seqüência veio a Libertadores de 1991 (http://www.youtube.com/watch?v=xr3Y1hYTPIw), na qual demos um baile no Pacaembu, comandados pelo maestro Junior, e a gambazada inconformada protagonizou o que ficou conhecida como a noite das garrafadas. Nessa época meu negócio já se habituava a conviver com a freguesia corinthiana.
Doce é a lembrança do dia dos Três Reis Magnos, pelo Campeonato Brasileiro de 1994 (http://www.youtube.com/watch?v=Y-lrZqsBLxk). O presidente da época, Luiz Augusto Veloso, fez questão de vender a preço de banana quase todos os craques da magnífica geração campeã da Copa São Paulo de Futebol Junior de 1990. O time era fraco, não tínhamos contratado quase ninguém e os meninos que sobraram não passavam confiança. A vitória do Corinthians era dada como certa. Mas naquela tarde brilhou a estrela do jovem atacante Magno, que marcou logo três. Magno não emplacou na carreira e quem fechou a conta do freguês naquele jogo foi outro jovem atacante: o Anjo Louro da Gávea, Sávio.
Dali em diante comecei a perceber que as vitórias sobre o Corinthians poderiam render muito mais do que os três pontos. Iniciei minha carreira de apostas com os corinthianos e minhas alegrias só foram aumentando. Meu primeiro grande freguês foi meu grande amigo Kiko. Éramos colegas de faculdade e de república, talvez no melhor período da história corinthiana; a metade final da década de 90. Meu caro amigo pagou muitas cervejas e micos. Em 1998 (http://www.youtube.com/watch?v=MG76GEhxBrU), o pobre teve que passar o dia com a camisa do Flamengo na faculdade. Em 1999 (http://www.youtube.com/watch?v=z9Xx_3LtpPc), desembolsou uma caixa de cerveja. Em 2000 (http://www.youtube.com/watch?v=ooNo0rBiA2E), já enfadado, decidi tomar dinheiro mesmo. Passei a ver o freguês como alguém da família, bonzinho, obediente e sempre disposto a colaborar.
Já na minha segunda faculdade conheci outro grande corinthiano. Esse não gostava de apostas. Nunca apostava, ou melhor, quase nunca. Éramos um grupo de amigos que apostavam até se a próxima Brahma que viria era de Agudos ou de Jaguariúna. O único que afirmava categoricamente que não gostava de apostas, e delas não participava, era o meu caro amigo Anselmo. Disciplinado e firme nas suas posições, dificilmente arredava pé. Mas diante do inconformismo com a condição de freguês, Anselmão rompeu sua promessa apenas duas vezes na vida; ambas foram comigo.
Desesperado com o rebaixamento iminente, o bravo Anselmo, para surpresa de todos, bradou que topava apostar comigo no confronto pelo campeonato brasileiro de 2007 (http://www.youtube.com/watch?v=UU_oVGvdhYU). Como todos sabem, o Mengão foi impiedoso, o Corinthians caiu e meu amigo Anselmo acabou tendo que passar uma ensolarada tarde de domingo, em dos lugares mais movimentados de Campinas, com o Manto Sagrado. Bom pra ele, que sentiu o peso de uma grande camisa, e pra mim, que mantive a freguesia feliz e bem vestida.
Mas Anselmão não se conformou com aquilo; no campeonato brasileiro de 2009 quebrou sua promessa mais uma vez. Enquanto eu apostava com palmeirenses e são-paulinos, no início do campeonato, sobre quem terminaria na frente o campeonato brasileiro de 2009, Anselmão não se conteve e interveio: “quero apostar uma caixa de cervejas contigo, que o Corinthians termina o campeonato na frente do Flamengo”. Dei aquele sorriso de canto de boca, e já vislumbrei as geladas sendo destampadas uma a uma sobre a minha mesa. Ainda avisei: caro Anselmo, com essa aposta vamos acabar é ganhando o título. Não deu outra, e quase vi meu Mengão ser campeão na minha terra natal e sobre o meu dileto freguês (http://www.youtube.com/watch?v=G7sy4-M8Fg0). Meu camarada Anselmão disse, terminantemente, que nunca mais apostaria na vida.
Por fim, ano passado, depois de uma mega engenharia para conseguir um ingresso, fui ao Pacaembu ver o meu Mengão cumprir sua sina e despachar o Corinthians de mais uma competição. Dessa vez da Libertadores, simplesmente a obsessão corinthiana. O Corinthians completou a primeira fase como o melhor time, já o Mengão ficou com a última vaga. Porém, freguês bom é ordeiro, volta sempre e nunca se esquece da sua predestinação (http://www.youtube.com/watch?v=SKvhtRN5ym4). Deu Mengão, é claro!
Hoje, estarei mais uma vez no Pacaembu. Levarei minha caderneta e esperarei os noventa minutos, para que ao final o freguês dê mais uma das suas assinaturas de praxe, principalmente quando trata-se de jogo decisivo. O que posso dizer a você, dileto freguês, é que continue voltando sempre, pois em negócios rubro-negros, prá você, a vitória é a serventia da casa!