O Mês do Cachorro Louco
Rodrigo Romeiro
Saudações Caros Butequeiros Rubro-Negros. Depois de mais uma belíssima vitória, a prosa de hoje é um pouco sobre ela e sobre o mês do cachorro louco. Hoje é mais um dia de comemoração e de gozar mais uma vitória maiúscula. Temos que manter a confiança, mas um pouco de prudência sempre é bom para não sermos pegos no contra pé. Mantendo a seriedade, o profissionalismo e contando com a proteção de São Judas Tadeu esse caneco é nosso e ninguém tasca.
Caros Butequeiros, o mês de agosto não é apenas mais um. Ao longo dos tempos muitos foram os fatos históricos negativos que demonstram isso. Vejamos que no dia primeiro de 1914 teve início a primeira das grandes guerras mundiais e com ela a destruição da Europa. Hitler assumiu o poder no segundo de 1938 e quase nos tirou todos os demais meses de agosto. Em 5 de 1962, Marilyn Monroe, linda e loira, deixou o mundo mais triste e menos belo. Em 06 e 09 de 1945 bombas atômicas terroristas assolaram covardemente Hiroshima e Nagazaki. Alguns dizem que no 16 de 1977 ele se foi, mas muitos dizem que Elvis não morreu. Juscelino morreu de acidente no 22 de 1976, Jânio renunciou no 25 de 1961 e Getúlio saiu “da vida para entrar na história” em 24 de agosto de 1954.
Porém, o mais marcante e triste fato do mês de agosto aconteceu na noite do dia 29 de 1985. Um infeliz e medíocre zagueiro praticou o maior crime de lesa-pátria da história da nação. Por uma entrada insana de um inominável banguense o nosso messias quase teve a carreira encerrada. Zico voltou a jogar em grande nível, mas os estragos provocados por tamanha brutalidade nunca mais permitiram que Ele emplacasse uma sequência de grandes atuações.
Eu aprendi com a minha avó a deixar as barbas de molho no mês de agosto. Na época em que nem barba tinha, lembro dela gritando, enquanto eu saia pelo portão com a bola embaixo do braço: é o mês do cachorro louco menino, cuidado! Não sabia exatamente o que ela queria dizer, mas entendia que deveria ficar mais esperto com os vira-latas e não deveria ficar de bobeira diante de situações inusitadas. Como um bom latino, yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.
Ressabiado nato com o mês de Agosto, percebi que nesse ano ele será protagonista de uma infeliz ocorrência gerada pela bagunça do nosso calendário futebolístico. Desde que é disputado no sistema de pontos corridos, o Brasileirão tem um mês em que rodadas acontecem seguidamente nos finais e meios de semana. Em condições normais esse mês é o de Julho, mas nesse ano será o fatídico Agosto. Reparei também que nos últimos anos o rendimento do Mengão caiu durante o mês da maratona.
Em 2008 jogamos 8 vezes em Julho e tivemos um aproveitamento de 37,5%. No ano seguinte, 2009, foram 7 pelejas em julho e um honroso aproveitamento de 57,14%. Vale e muito lembrar que naquele ano fomos campeões com 58,77%. Ano passado, por conta da Copa do Mundo, o mês crítico foi setembro. Nele disputamos a bagatela de 9 partidas e tivemos o vergonhoso aproveitamento de 29,26%.
Muitos foram os fatores apontados como responsáveis por essa queda de rendimento. Alguns defenderam que a infraestrutura precária do clube prejudica a dinâmica de treinamento e por isso os jogadores têm dificuldades de suportar fisicamente uma grande maratona de jogos. Outros afirmaram que a grande vilã foi a saída de jogadores importantes, combinada com a demora à reposição. Por fim, uns e outros disseram que a falta de um elenco forte e homogêneo gerou a comprometedora perda de performance.
Neste ano a maratona começou em julho e vai se estender até o final de Agosto. Foram quatro rodadas seguidas no final de Julho pelo Brasileirão e agora teremos mais sete em Agosto. Prá deixar a situação ainda mais complicada no mês do cachorro louco teremos dois jogos pela Sulamericana. Ou seja, serão 13 jogos em 41 dias, praticamente um jogo a cada 3 dias. Nada que assuste o bonde sem freio do Mengão, mas sem um bom planejamento e sem revezamento de jogadores não há time que resista.
A principal alternativa que vislumbro - além é claro de um bom planejamento de recuperação física, coisa que imagino que os profissionais rubro-negros já devem ter realizado - é jogar a Sulamericana com o time reserva. Temos muitos jogadores da base precisando ganhar experiência, outros jogadores necessitando de ritmo, como Alex Silva e Gustavo Geladeira. Tais aspectos nos garantem um time competitivo e podem contribuir também para termos um elenco forte no Brasileirão. Se formos passando de fase, lá na frente, já com o Brasileirão praticamente garantido, colocamos o bonde sem freio prá ganhar mais essa taça. Sei que a Sulamericana dá vaga à Libertadores, mas na atual conjuntura não vejo a menor possibilidade de não ficarmos entre os quatro primeiros do Brasileirão.
Passado o recado, vamos falar do que mais interessa, a grande vitória de ontem. Foi uma vitória de um time maduro e preparado para ser campeão. Mesmo não fazendo uma partida de encher os olhos, o time conseguiu controlar bem o jogo e segurar o resultado quando foi pressionado. O Luxemburgo esteve bem e quando o Cruzeiro mais ameaçava fez uma substituição (entrada de Fierro no lugar de Deivid) que parecia questionável naquele momento. Mas com essa substituição o time ganhou novamente o meio campo, voltou a controlar a partida, criou chances de gol e só voltou a ser ameaçado no abafa no final da partida. Desta vez a atuação de Luxemburgo foi irrepreensível.
O jogo de ontem deixou algumas lições. A primeira delas é que nossa defesa é inexpugnável com Airton em campo. São cinco jogos e nem uma mísera bola ousou balançar nossas redes. A segunda é que Ronaldinho não vive mais de altos e baixos; são só altos agora, pois vem jogando muita bola há algumas partidas. A terceira é que temos elenco. Há muito tempo não conseguíamos jogar com consistência defensiva sem o Willians em campo e ontem tivemos um paredão preparado para não ceder em nenhuma hipótese. A quarta e última é que não há tabu que resista ao bonde sem freio do Mengão Invicto. Derrubamos esse incomodo tabu e na casa das marias. Mais uma vez foi uma vitória inquestionável.
Caros Butequeiros, o Mengão embalou e estamos cansados de saber que deixou chegar fudeu. Começamos a dita maratona com vitórias incríveis. Estamos apresentando um ataque poderoso e uma defesa sólida. Até o momento o temido sapato alto não passou nem perto da Gávea. Como prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém, vamos manter o sapato sem salto e não esquecer de cumprir as tarefas básicas de um planejamento de time campeão. Se continuarmos assim e cruzarmos o mês do cachorro louco intocáveis, podemos começar a procurar um espaço na sala de troféus da Gávea para guardar mais uma taça e dessa vez ganha de forma inesquecível.