Buon Giorno, Buteco! Amanhecemos essa segunda-feira mais felizes, vencendo um Fla-Flu violentíssimo, com alto número de faltas, algumas violentas, de ambas as partes, e na vice-liderança na tabela. A equipe tem 70,4% de aproveitamento na competição e, das cinco vitórias, atingiu sua quarta seguida; tem o ataque mais positivo, a quarta melhor defesa e o segundo melhor saldo de gols do campeonato. Ah, e está invicta, valendo lembrar que, até agora, e já estamos quase na metade do primeiro mês do segundo semestre do ano, só perdeu uma única vez. Ulysses Guimarães costumava se referir a um fato irrefutável, infenso a qualquer controvérsia, como "Sua Excelência, o Fato". Pois nós gastamos o nosso tempo reclamando do Deivid, do Welinton, do esquema de três volantes, e de um tanto de coisas mais, mas será que não estamos contrariando "Sua Excelência, o Fato"? Reparem que, no primeiro semestre, o argumento era o estadual e sua consabida inaptidão para servir como boa referência do nível de competitividade da equipe, mas agora estamos prestes a completar a décima rodada do campeonato mais difícil e competitivo do país. E então? Qual é a justificativa?
O mais legal conversar a respeito de futebol é a imprevisibilidade e a dificuldade de se fazer diagnósticos. Acredito que isso se deva ao fato de que há vinte e dois seres humanos simultaneamente em disputa (número altíssimo de contendores, ainda que apenas duas sejam as equipes), havendo ainda um trio de arbitragem que pode influir nos rumos da partida. De qualquer modo, e aterrisando dessa elocubração, que está mais para uma "viagem", é isso que faz desse esporte esse fenômeno de popularidade. Sendo então bem direto, eu acho que o Flamengo, apesar dos excelentes números, tem muito o que melhorar com o Luxemburgo. E o engraçado é que, "Sua Excelência, o Fato", por mais incrível que pareça, parece me dar razão.
Vou logo ao ponto, que é o esquema de três volantes: não houve um jogo até agora em que tenha sido utilizado e no qual o Flamengo não tenha melhorado a olhos vistos quando alterado por outro mais ofensivo. Aliás, as viradas contra os mineiros Atlético e América e o gol salvador de "El Pollo" Bottinelli contra o São Paulo só foram marcados graças a essa alteração tática. Muito embora seja verdade que, ao contrário dos dois primeiros jogos referidos, contra o São Paulo a equipe se portou bem com três volantes e dominou a partida, é inegável, em contrapartida, que o rendimento melhorou, e muito, perceptivelmente, quando Negueba, o "Neguinho Infernal", e depois o Bottinelli entraram. Mais: na maioria dos jogos, e na partida de ontem, contra o Fluminense, não foi diferente, os três volantes não impediram o Flamengo de ser pressionado, envolvido e em algumas oportunidades de sair atrás do placar. Ontem, o Fluminense não abriu o placar por pouco e no segundo tempo teve duas chances claras de empatar.
É então bem difícil compreender o sentido de se adotar um esquema que não propicia o domínio das ações no meio de campo e nem impede o adversário de chegar em sua área com chances claras de marcar. Menos sentido ainda faz deixar a armação do time para Willians e Renato Abreu, podendo ela ser feita por Ronaldinho Gaúcho, Thiago Neves ou Dario Bottinelli. E mais: quando adota a formação ofensiva, o Flamengo costuma sufocar o adversário e ter muito maior percentual de posse de bola. Sintomaticamente, a maior parte do alto número de gols marcados, tornando-o o ataque mais positivo do campeonato, foi obtida com a formação ofensiva, a qual tomou menos gols do que a mais defensiva.
Sua Excelência, o Fato. Ou, tudo é relativo, diria um certo físico europeu... Os números, isoladamente, dizem muita coisa, mas não tudo.
O Fla-Flu
O Flamengo jogou ontem com três volantes a partida inteira. Conseguiu dominar as ações no meio de campo apenas nos quinze minutos finais do primeiro tempo. No restante da partida o Fluminense dominou o meio e criou mais chances, algumas bem claras, tornando a atuação do goleiro Felipe destacada. O Flamengo melhorou no segundo tempo quando teve escape nos contra-ataques pela direita com Negueba e, aí sim, poderia ter ampliado o placar.
O ponto realmente negativo foi o completo desequilíbrio emocional do volante Aírton, algo que remonta ao passado e já se esperava ter sido superado, especialmente com os títulos já conquistados e a experiência em gramados europeus. Corre o risco de pegar um gancho longo. Luxemburgo arriscou ao deixar Aírton em campo. A rigor, Deivid não precisava ter saído, mas Aírton sim.
A Janela e a Sul-Americana
A dez dias do fechamento da janela, o Flamengo ainda não anunciou oficialmente qualquer reforço para as posições mais carentes. Longe de mim pretender fazer qualquer "sangria desatada", mas para quem criticou o Zico por deixar as coisas para cima da hora, bem, não parece recomendável fazer o mesmo um ano depois.
Quero crer que os amigos concordarão comigo em que é de absoluta temeridade irmos até o final da temporada apenas com o Deivid de centrovante (considerando que o Luxemburgo realmente não parece inclinado a testar o Diego Maurício na posição), pois a novela Kleber Gladiador, que já passou do ponto de ser chamada de chata, chegando ao ponto de ser qualificada como completamente insuportável, não termina e não lemos ou ouvimos qualquer alternativa que arrefeça nossa ansiedade.
Por outro lado, o drible que o nosso querido "Magro-de-Aço" tomou do Ciro logo no início da partida de ontem serviu para sepultar qualquer dúvida quanto à urgente necessidade de contratações (o plural não é casual) para o setor. Ainda prefiro a "estabilidade mental" do "Magro-de-Aço" aos estabanados Welinton ou David Braz, mas isso não quer dizer que estejamos sequer próximos do ideal.
É preciso lembrar que esse ano estaremos disputando não apenas a vaga na Libertadores, mas o título. O pior, em tese, sob o aspecto técnico, que era o período que antecedia a janela, está passando e com aproveitamento muito acima do esperado (apenas com vitórias). O próximo problema será a maratona, inclusive com jogos da Sul-Americana. É preciso ter elenco. Um centroavante só não dá. E essa zaga também não. A despeito dos números parecerem dizer o contrário.
Bom dia e SRN a todos.