
Primeiramente, eu gostaria de ressaltar que o objetivo não é esculhambar as categorias de base do Flamengo em seu estágio atual nem no que estava na última década. Falava-se a respeito de vários problemas, que iam desde a falta de estrutura até os interesses empresariais influenciando no aproveitamento de atletas, mas, no saldo, se compararmos, em termos de revelação de atletas, o Flamengo revelou para o futebol Júlio César, Juan, Adriano, Ibson e Renato Augusto, os três primeiros alcançando razoável nível no estrelato internacional, embora, ao meu ver, não cheguem a se comparar ao nível dos parâmetros que propus nessa coluna: os jogadores do Santos, que estão mais para o nível dos jogadores que o Flamengo revelava no passado: Marcelinho, Djalminha... E um pouco antes revelara Sávio e Athirson, que chegaram a jogar no exterior.
Comparando com outros clubes do Brasil, poucos conseguiram produzir, em termos de quantidade, tantos jogadores. Comparem a produção de clubes como Internacional, São Paulo, Cruzeiro, Corinthians, Palmeiras e Vasco, todos com tradição em investimento na base, e não encontrarão idêntica produção. O que particulamente me incomoda é o pouco aproveitamento de jogadores que não têm um nível tão alto a ponto de jogar em clubes europeus, mas que poderiam fazer parte do elenco ou até mesmo disputar a titularidade na equipe. Percebo em clubes como o Cruzeiro, que tem acordos e convênios até com clubes como a Cabofriense, maior astúcia no recrutamento de jovens para compor sua base e que podem "subir" e ser aproveitados na equipe de cima, ao passo que o Flamengo acaba por investir mais dinheiro na montagem do elenco. Será que estou exagerando?
Outro ponto interessante que merece a nossa reflexão é o critério adotado pelo Santos para recrutar seus jovens. O Santos aboliu as peneiras. Hoje, adota um sistema ao qual dá o nome de "clínicas". Conforme matéria publicada no jornal "Correio Braziliense" do último sábado, 2 de julho de 2011, em entrevista do repórter Felipe Seffrin, o supervisor técnico das categorias de base, Bebeto Stival, explicou que a peneira não é salutar por conta do período curto, pois em um jogo apenas muitas vezes não é possível avaliar o potencial de um atleta. Já nas clínicas é possível fazer trabalhos de até três horas exercitando o passe, fundamento ao qual se dá mais ênfase no clube. E é no passe que o Santos trabalha também no recrutamento, muitas vezes convencendo um jovem que se apresenta como meia a trocar de posição, sempre em busca, como perfil, de um jogador inteligente e que domine o fundamento, o que possibilita que ele tome parte de outro estágio de sua formação no clube: os trabalhos em espaços reduzidos desde cedo, também realizado pelo Barcelona. O objetivo é desenvolver um etilo de futebol ofensivo, veloz e vertical, valorizando a posse de bola, desde a base.
Para tanto, e aqui de certa forma retomo o ponto dos convênios, é preciso ter uma rede de "olheiros" de confiança. Os mais antigos se lembram do "Mineiro" (Gilson Aguiar era o seu nome), que durante uns quarenta anos foi olheiro do Flamengo e levou muitos valores para a Gávea. Os tempos hoje são outros, de empresários e de contratos e procurações firmados em tempos precoces. Aqui em Brasília há "escolinhas" do Flamengo, do Internacional, do São Paulo e de outros clubes, acredito que do Santos também. Tem até do Milan. Em tempos de competição internacional, quem for mais astuto recrutará e revelará os maiores talentos.
Como disse no início do texto, embora não ache que a situação do Flamengo seja das piores nas divisões de base e a prova disso é a recente conquista da Copa São Paulo de Juniores e a ótima geração que está surgindo, ainda falta um bom caminho a ser percorrido até que o clube volte a revelar os grandes craques do passado. Para tanto, é bom voltar os olhos para a Baixada Santista e ter por parâmetro o Santos FC. Descobrindo o "Segredo da Vila" o Flamengo voltará aos velhos tempos do "Craque o Flamengo Faz em Casa."
Bom dia e SRN a todos.