Quem viu o jogo desta terça feira, a despedida precipitada do time rubronegro Sub 20 da primeira Libertadores da América da categoria, deve ter visto uma faixa que a toda hora aparecia por trás da arquibancada, que dizia “Sicários”. Pois bem, Sicários quer dizer assassinos de aluguel. Não vou tomar tempo dos amigos do Buteco contando a história deles, nem quis pesquisar muito para saber porque os torcedores do Alianza de Lima adotam este dístico, mas o fato é que esse nome sombrio me lembra os assassinos de oportunidades, no caso, empresários e oportunistas que cercam a Gávea em busca de uma chance de ganhar o seu dinheirinho, ainda que as custas do mal do clube. Resumindo, é hora de ficar de olho para que não apareçam os discursos plantados de “tá vendo, esses jogadores não são tão bons assim, o melhor é fazer dinheiro vendendo eles”. Repito : temos uma oportunidade, que é uma geração excepcionalmente boa de bola, e uma ameaça, que são as caras conhecidas, não de urubus, mas de abutres que rondam a Gávea.
É claro que uma derrota da molecada é sempre sofrida, especialmente para aqueles que lembram do slogan “Craque a gente faz em casa”, e que depositam nessa geração as esperanças de um Flamengo maior, formado com jogadores de sua base e não só com medalhões que nem sempre sabem que “Isso é Flamengo”. Mas a derrota não pode ofuscar o brilho e o potencial destes jovens. Até à primeira expulsão, eu estava pensando o que aconteceria se o Luxemburgo resolvesse entrar em campo com este time ao invés do time titular. Tenham paciência, amigos. Eu estava só imaginando, não tenho esperança de que isso vá acontecer de fato, nem sei se isso garantiria resultados melhores que a nossa sequencia de empates chatos. Provavelmente não, pelo que vimos depois. Mas a fluidez deste time de jovens, o surgimento de outros jogadores que não tinham aparecido na Copinha, a alta técnica, domínio de bola, posicionamento, velocidade, parecia um time pronto para disputar com qualquer rival profissional. Estava animado, mesmo com os erros no “passe final”, embora um pouco assustado com o entusiasmo dos jogadores, que iam na bola como os famintos avançam em um prato de comida. Pois foi justamente em uma dessas “investidas” que o nosso bravo João Vitor fez uma falta....no árbitro ! O moleque perdeu a cabeça, simplesmente. Ele não esbarrou no juiz, ele fez uma “obstrução” para o juiz não seguir em direção ao nosso jogador, a quem eu acho que ele ia advertir. Inacreditável ! Culminando com a carreira que o goleirinho deu no árbitro, foi ali que começamos a perder o jogo. O primeiro ensinamento : É preciso ensinar a estes jogadores sobre arbitragem. Não só sobre as regras, que todos deveriam ter obrigação de conhecer, mas sobre as diferenças de arbitragens em cada competição, sobre a inviolabilidade do “entorno” físico do juiz, e sobre os efeitos danosos dos times que tentam enganar o juiz ou simularem faltas. O time tinha futebol para golear o Allianza. Na bola, seria campeão ou venderia caro uma derrota. Não é possível que o Flamengo não tenha profissionais capaz de fazer este papel de orientadores. Contratem, se for o caso. E mandem o time titular assistir a mesma palestra, para ver se acabamos, pelo menos no Flamengo, com esta coisa ridícula do jogador desistir da jogada para tentar a infração fraudulenta.
Independente do inegável “vacilo” desses dois bons jogadores, João Vitor e César, uma coisa precisa ser dita : FOMOS ROUBADOS ! A falta sobre o goleiro foi clara e límpida, e para alguma coisa deviam servir os “assistentes de arbitragem”, muito mais “assistentes” do que auxiliares da autoridade máxima em campo.
Com a derrota, será esquecido o desempenho brilhante que alguns jogadores vinham tendo. O que jogou o jovem Muralha foi uma barbaridade ! Esse é um que decididamente poderia estar ocupando uma vaga no time titular. O Thomás parece amarrar um barbante na bola, tornando-se dificílimo tomar a bola dele sem falta. O jovem Pedrinho, que havia jogado muito na vitória sobre o América do México, e de quem eu não tinha lembrança da Copinha, foi sacrificado pela expulsão, não permanecendo em campo. O Rafinha, ainda que pequeno e franzino, tem uma rapidez, habilidade e coragem que ainda irá nos dar muita alegria. Lorran, ao entrar já com o jogo desfavorável, não pode jogar todo o seu futebol, mas fez alguns lançamentos que lembraram o Canhota, Gérson. Mesmo tendo errado um desses lançamentos, o garoto demonstrou personalidade e tentou em seguida um novo lançamento, igualzinho, só que desta vez bem sucedido. Ou seja, temos um grande número de jogadores talentosos, e deve ser motivo de grande preocupação para nós ver o Santos, o São Paulo e outros times investirem nos seus jovens, colocando-os como titulares, enquanto nós guardamos as posições para medalhões grossos ou para craques divididos entre o prazer e o campo. Reparem na velocidade destes times feitos de garotos e pensem nos nossos últimos resultados. O tal SP 100%, segundo li outro dia, entrou em campo com 8 jogadores formados em sua base. Mesmo com a conta marota incluindo o Ceni e o Juan nesta lista, é um modelo que está dando certo. Não sei avaliar quantos deveriam subir já, e acredito, sinceramente, que existe um trabalho de renovação dos contratos e de preparação para a subida destes jogadores, que nunca tiveram tantas oportunidades de treinar entre os profissionais como com o Luxa. Mas os abutres nos cercam e uma derrota como essa pode ser usada para seus propósitos obscuros.
Assim, Sicários de uma figa, não se aproximem. Que as luzes da inteligência e da serenidade iluminem a Gávea e não a deixem sucumbir à fúria mercantilista destes aproveitadores de plantão. Toda força aos jovens e ao seu brilhante futuro no Flamengo ! SRN