Escrever neste Buteco famoso às quartas-feiras, em dia de jogo do Flamengo, é um teste de futurologia pra mim, o que não deixa de ser agradável e divertido, já que as atenções estão voltadas para o embate noturno e o otimismo característico da nossa torcida predomina. Já quando não há jogo e o foco ainda é a partida do fim de semana, fico sem assunto se a "semana que promete" não acontece, pois os fatos passados estão praticamente esgotados pelos nossos atentos colunistas. Daí, tenho que divagar devagarinho, já que sucedo o Chico Anísio, genro da bondosa D. Tejupá, e antecedo o Gustavão, professor de flamengologia, sempre sentado tomando uma gelada por aqui.
Tenho uma paciência quase budista com gente, fatos e coisas afins ao Flamengo, até hoje na condição de torcedor-torcedor, que é aquela situação de não se preocupar com quanto vai custar aos cofres do clube um jogador e, sim, em como vai se comportar dentro de campo, quantos gols fez ou fará, quantas taças levantará. Nas arquibancadas faço o meu papel de incentivar, jamais vaiar durante uma partida e vibrar muito com as conquistas. O quanto o clube deve não me rouba um segundo de sono, uma derrota nos gramados me afana várias horas de sonhos. Entretanto, o limite dessa tolerância com o mais-querido vai sendo tocado, gradativamente, na atual fase do time no Brasileirão, que teve o Estadual e algumas fases da Copa do Brasil para mostrar a quantos quissessem ver, e principalmente à sua comissão técnica, as deficiências da equipe, claras como uma água mineral importada.
Providências cabíveis não foram adotadas, o que derruba a formulação da tese segundo a qual Luxemburgo é melhor um manager do que um treinador, atualmente. Na realidade, como treinador não tem conseguido dar um jeito de jogar à equipe. "Ei, você aí, como joga o Flamengo?" A resposta é um "sei lá". Nem eu sei, apesar de de visto todas as partidas até aqui. Para citar um exemplo, Muricy, o de mal com a vida, monta um time em seis jogos mais os treinamentos, o que leva em geral cerca de um mês, um mês e meio. Vanderlei não conseguiu fazê-lo em seis meses, uns trinta jogos, por aí, mais os treinamentos também.
As condições oferecidas foram bem razoáveis para o desenvolvimento de um trabalho à altura de sua capacidade. Eu apóio, apoiei, acompanho e acompanhei seus passos dentro do clube, assim como os amigos do Buteco, alguns se não apoiaram, pelo menos estiveram atentos às suas atividades desde que transpôs os portões da Gávea. É um profissional que faz da preparação a base para o sucesso, mas este não tem aparecido para justificar tantas horas de treinamento. Em apenas quatro rodadas deste Brasileirão, 50% dos pontos disputados já estão devidamente ensacados na lixeira do campeonato. A óbvia conclusão que pode ser feita por qualquer aspirante a diretor vai no sentido de que se treina com afinco e os resultados não surgem, é por que está trabalhando errado, os métodos aplicados não são os corretos. Há que mudar para obter resultados diferentes, já que não há condições de trocar os executantes dos planos traçados exaustivamente no CT. E por falar em executantes, os jogadores, Luxemburgo tem se dado mal com a péssima performance de algumas figuras carimbadas do elenco, as que deveriam ditar a referência de qualidade a ser imprimida ao jogo do time. Está claro que me refiro a Ronaldinho Gaúcho, Thiago Neves, Leo Moura e Bottinelli. O gaúcho até hoje não justificou tanta briga pela sua contratação, com direito a show pirotécnico cancelado no Sul e invasão da torcida programada e providenciada na Gávea. Thiago Neves voltou da seleção com cara de depressão mal curada, a mesma que atacou o Juan e o Leo Moura quando vestiram aquela camisa para caçar uns níqueis em amistosos. E com Bottinelli errando tudo, absolutamente tudo, para fechar os panos do ato em Curitiba.
Um dia depois da melancólica apresentação na Arena da Baixada, os garotos da zaga, Weliton e David Braz, afirmaram que estavam satisfeitos com o desempenho naquele jogo, pois tomaram apenas um gol e voltaram com o empate. Só para saber: Eles pensam que estão jogando em que time da série C? Que trabalham fazem na cabeça desses rapazes, durante a semana, naquelas intermináveis horas de folga, normalmente usadas para nada de de proveitoso? Isso sempre me intrigou. Já que passei pelo assunto, em oito, dez anos no clube, desde as divisões de base, o que conversam com os garotos os chamados professores? Não ensinam o que é o Flamengo, e por que não?
Finalmente, chego no assunto recorrente em cada dez entre dez torcedores. Por que diabos (isola, vade retro!) Luxa insiste com Wanderley no ataque ou no time? E com Deivid? Não, não pensem que sou mais um lobista do Diego Maurício, simplesmente por que não creio que seja a solução que precisamos para o ataque, porém, me alinho com quem acha que o treinador tem a obrigação tanto técnica como moral de oferecer uma oportunidade ao garoto, tendo em vista não ter encontrado nem providenciado, em meio ano, um jogador para a função exercida (mal) por aqueles dois em várias oportunidades com os mais diversos tipos de bambalas, tanto no Cariocão quanto na Copa do Brasil.
E no próximo domingo tem uma partida para nenhum torcedor deixar de ir ao Engenhão, contra o Botafogo, que nos tem presenteado com bons espetáculos. É vencer ou vencer.
"Que os vivos saiam de suas casas e os mortos de suas tumbas" - Nelson Rodrigues, o mais flamenguista de todos os tricolores.
SRN!