Por Rafael Strauch
Tudo começou com uma brincadeira. Logo após os sites esportivos começarem a anunciar os valores com os quais os times brasileiros assinaram com a Globo sobre o próximo quadriênio do futebol brasileiro, um colega de trabalho soltou a seguinte comentário: se o Fluminense vai ganhar R$ 56 milhões e o Flamengo R$ 110 milhões, sendo a torcida de vocês (eu sou Flamenguista) 10X maior que a minha (ele é tricolor) logo, pode-se concluir que um tricolor vale cinco flamenguistas, correto?
Errado! A seguir vou explicar um modelo que acredito ser capaz de determinar distribuição das cotas de TV e analisar o caso de potenciais desvios e/ou subsidios entre os Top 12 clubes do Brasil.
No momento da afirmação do meu colega ficou no ar a pergunta de como seria feita a distribuição da cota de TV de transmissão. No meu entender a lógica é que os valores de transmissão deveriam seguir um padrão com base na audiência, ou seja, quantos espectadores poderiam assistir em cada um dos jogos ao longo do campeonato.
Para isso assumi algumas premissas:
• O campeonato brasileiro teria apenas os 12 principais times do Brasil (aumentar até 20 clubes, por exemplo, não mudaria a conclusão, apenas aumentaria o tamanho da matriz) dada a representatividade dos demais clubes;
• A audiência potencial tem como base o tamanho da torcida, ou seja, não tem como auferir se uma torcida assiste em maior peso os seus jogos na TV do que uma outra torcida. Exemplo: a audiência potencial para o jogo Internacional x Atlético Mineiro é o somatório da 1ª com a 2ª torcida;
• Cada jogo será assistido apenas pelos torcedores do time da referida partida.
• As receitas por clube são estimadas e tiveram como base os valores divulgados em diferentes sites esportivos;
• Os torcedores possuem o mesmo “valor” para a geração da audiência, ou seja, a emissora paga o mesmo por torcedor, não importa se da classe A, C ou D e de qual região do Brasil, o que vale é a quantidade;
• Não entrei no mérito qual jogo vai passar para onde, e acho que isto não cabe na discussão, pois a emissora está comprando um direito de transmissão, o que ela efetivamente vai passar é um poder discricionário dela!
• O tamanho das torcidas foi baseado na pesquisa Lance-Ibope de 31/05/ 2010.
Fonte: http://www.lancenet.com.br/noticias/10-05-31/763912.stm Fonte: http://www.lancenet.com.br/infograficos/info-torcida1/
Para facilitar o entendimento, vamos criar um campeonato hipotético, que tivesse apenas 2 times: Flamengo e Fluminense. Haveria neste campeonato 2 clubes e dois jogos apenas, um de ida e outro de volta. O total da audiência potencial? 33,2 milhões de flamenguistas mais 3,1 milhões de tricolores, 36,3 milhões de torcedores. Ainda que o Flamengo responda por 91,5% deste total, a receita de audiência deveria ser exatamente igual para os dois clubes! Porque? Pois os dois clubes geraram a audiência deste campeonato!
Extrapolando este exemplo para o que seria um quadrangular final de um campeonato carioca dos 4 grandes do Rio em pontos corridos (todos jogam contra todos). Neste caso, se a distribuição de renda tivesse como base a Audiência potencial de cada time com base nos confrontos, o Vasco, por exemplo, deveria ter direito a 22,2% do total da renda destinada ao televisionamento deste campeonato, ainda que ele fosse responsável por 16,7% do total de torcedores. A audiência potencial do Vasco seria o somatório dos jogos contra o Flamengo (33,2 + 7,9 = 41,1milhões), Botagogo (7,9+3,1 = 11) e Fluminense (7,9 +3,1=11).
A seguir uma tabela com ampliação do exemplo montando um campeonato brasileiro com os 12 maiores times do Brasil. Não construí o exemplo com 20 clubes pelo fato dos demais 8 clubes que compões a série A possuírem instabilidade tanto na permanência do campeonato, quanto no tamanho das suas torcidas. De qualquer forma a inclusão destes clubes, sejam quais forem, não alteram a dinâmica dos cálculos.
Desta forma o potencial de torcedores por confronto e o somatório de todos os jogos teria a seguinte distribuição:
Ou seja, na coluna que mostra os valores percentuais, fica o registro de quanto cada um dos 12 principais clubes potencialmente possuem de audiência ao longo do campeonato. Ou seja, o Santos por exemplo teria 185 milhões de espectadores potenciais e responderia por 6,4% do total. A coluna Rec/Aud será explicada a seguir.
Na tabela abaixo consolido a Receita de TV Aberta por clube estimada, o tamanhos das torcidas, bem como as participações e a audiência potencial. A Renda ajustada é quanto o clube deveria receber em função do público potencial, nas duas últimas A seguir temos uma tabela que inicialmente considera a Receita de TV aberta por clube conforme foi veiculado na imprensa ao longo do 1º semestre de 2011.
(a) Receita anual de TV aberta estimada com base em informações em sites esportivos.
(b) Números de torcedores em milhares conforme pesquisa Lance-IBOPE de 31/05/2010
(c) Participação relativa na receita total de TV aberta para o ano;
(d)Audiência potencial, ou seja, número de torcedores que assistiriam aos jogos de cada um
desses times ver Tabela 2.
(e) Renda ajustada, em R$ mil, pela audiência potencial do Clube.
(f) Ganho ou (perda) em R$ mil de cada clube em função da audiência potencial do mesmo;
(g) Ganho ou (perda) relativos(%) da Receita de TV aberta vis-a-vis o % da Audiência
potencial.
A principal conclusão é que os clubes deveriam receber de acordo com o potencial de audiência que são capazes de gerar, e por isso criei o Coeficiente Receita/Audiência Potencial (participação relativa na Receita das Cotas de TV dividido pelo participação relativa da Audiência Potencial por Clube).
Em tese este indicador deveria ser igual a 1,00 para todos os clubes, ou seja, cada 15% do total da Receita deveria ser destinada a quem tem capacidade de gerar 15% de audiência (audiência potencial). Ao analisarmos a tabela 3 poderemos perceber que 6 clubes faturam mais que a audiência potencial dos mesmos, com destaque para o Santos que alcança o extremo de 1,31. Palmeiras, Corinthians e Cruzeiro seriam os Clubes que possuiriam as receitas mais em linha com a audiência potencial. E os Clubes Flamengo e São Paulo seriam os mais prejudicados, uma vez que possuem uma audiência potencial superior a receita de cotas de TV.
Concluindo, há subsídio cruzado, sendo o Flamengo em termos efetivos (Tabela 3, Coluna Ganho ou (Perda) em R$ mil) e o São Paulo em termos relativos (Tabela 3, Coluna Ganho ou (Perda) em %) os principais clubes que financiadores e o Santos e os demais 3 grandes do RJ os principais beneficiados.
Tabela 4
Texto: Rafael Strauch