sexta-feira, 27 de maio de 2011

10 ANOS DO TRI COM GOL DE PETKOVIC

Segunda-feira, 21 de Maio de 2001.

Como em todos os dias da semana, acordo as 6:15h, e vou para o banho, ainda de cabeça quente e puto da vida pela derrota do Flamengo para o vasquinho na tarde de domingo anterior.

Enquanto a água cai sobre meu corpo, a cabeça fica a pensar na zoação que alguns vascaínos, colegas de trabalho irão me buzinar nos ouvidos ao longo daquele dia. E olha que os dias costumavam ser muuuuito longo, pela carga horária que eu enfrentava.

Chego na Sadia em Itajai SC e já no portão da empresa o vigia vem me perguntar sobre o jogo.

O que eu poderia dizer? NADA. Apenas falamos pouco sobre o jogo, e fui pra minha sala. Esse vigia, também é flamengo, diga-se de passagem.

O pior ainda estava por vir. Eu trabalhava diretamente com um vascaíno na mesa ao lado e mais alguns em outros setores, que certamente viriam conversar comigo naquela manhã.

E assim foi.

Minha saída era justificar que havíamos ganho os dois campeonatos anteriores(1999 e 2000) sem sermos favoritos e que nada tinha acabado ainda. Apenas havia ficado muito mais difícil, porém, tínhamos mais um jogo pela frente.

Até mesmo alguns colegas flamenguistas alegavam que realmente ficara complicado reverter o placar, com diferença de dois gols pra cima de um vasco empolgado e o Flamengo recém eliminado da Copa do Brasil pelo Coritiba.

Foi a semana mais longa e chata com aqueles vascaínos insuportáveis me atazanando TODOS os dias e a todo momento.

Pra minha surpresa, um conhecido de Itapema, mas que eu não tinha praticamente contato algum, me liga me convidando pra ir pro jogo no Maraca. Na hora pensei. Esse cara tá maluco. Sair de Itapema pra ir ver uma final que vai ser pra lá de foda de vencer?

Cara, são aproximadamente 1600km, fora a grana. Mas já que pintou a oportunidade, falei que se meu chefe me liberasse eu tava nessa. Afinal ver uma Final entre Flamengo e Vasco era tudo.

Falei com meu chefe e ele me liberou.

Novamente os vascaínos, especialmente o Rodrigo, me tiravam sarro:

“.. Isso, vai lá. Vai lá ver o vascão ser campeão. Kkkkk”.

Porém, as coisas pareciam não dar certo. A galera que era pra fechar o ônibus, começou a roer a corda. Foram desistindo, com isso não havia condições de se fretar um busão pra irmos.

Depois de tantas idas e vindas, fecha com esse, não fecha, contrata uma VAN, descontrata, decidimos que não havia mais tempo, até porque a pessoa que ficou de comprar nossos ingressos, com esse vai-não-vai, acabou não comprando pra nós. Que MERDA!

A semana foi passando... terça, quarta, quinta, sexta-feira.

Parecia que terminava o ano e aquela semana de 21 a 25 de maio na empresa, não.

Claro que os vascaínos vieram me tirar um último sarro, antes do título.

Lembro bem o que o Rodrigo, me falou:

“... Dessa vez não tem pra voces. Chega. Agora é o vascão! Segunda te prepara que eu quero vir todo equipado. Quero botar a camisa do Vascão e desfilar.. hahahahaha”.

Eu lhe respondi:

“Pois é... tava na hora mesmo de vocês ganharem uma da gente. Mas também, se não ganharem dessa vez amigo, esquece que irão ganhar tão cedo”.

Fomos embora. A noite peguei o ônibus e fui pra Itapema, pra casa.

Domingo, 27 de maio de 2001.

Tudo pronto pra decisão.

Nervosismo a flor da pele, o jogo começa a rolar.

Edilson, em tarde inspirada nos anima: Flamengo 1 x 0 Vasco.

O jogo segue com chances de ambos os lados. Pra nós, só faltava mais um golzinho. Agora com a vantagem no placar, o time parecia mais relaxado, sem tanta pressão. Mas antes de terminar o primeiro tempo, veio o balde de água fria. Juninho empata o jogo e o os vascaínos vão para o intervalo gritando: É Campeão!

Em casa, vendo o jogo com meus sobrinhos, eu dizia que não ia ser fácil.

Fui várias vezes ao quarto de minha mãe e pedia pra Nossa Senhora Aparecida abençoar o Flamengo. Mesmo um pouco descrente naquela altura do jogo, eu pedia assim mesmo, porque sabia que o time precisaria de muita garra e determinação.

Veio o segundo tempo e com ele um vasco embalado pela torcida que continuava gritando É Campeão, mas quem roubava a cena era, justamente, Petkovic e Edilson, que curiosamente, tinham problemas de relacionamento.

Antes mesmo dos 10 minutos do segundo tempo, o gringo fez um lançamento primoroso na cabeça de Edilson que colocou a bola no fundo gol, explodindo a galera rubro-negra.

A essa altura em casa, eu roía unhas, andava de um lado pro outro, rezava, gritava com o jogo.... tudo o que um verdadeiro rubro-negro faz.

O jogo passou a ser ainda mais dramático e cheio de chances. Juninho cobrou uma falta que foi no travessão. Ali parecia que o coração sairia pela boca. Affff.... e vieram tantos lances de perigo e o vasco perdendo gols. Uma pressão incrível.

Últimos minutos. A essa altura, um dos meus sobrinhos e um amigo, comemoravam o titulo do Corinthians e ficavam me tirando sarro.

Olhei pra eles e falei:

“Se vocês quiserem ir na carreata, é bom torcerem pro Flamengo, caso contrário, ninguém sai. Pelo menos comigo, não”.

Hehehehehe, Bando de vendidos, passaram a torcer pro Mengão... hahahaha chegava a ser engraçado.

43 minutos. Hora fatídica. Falta na entrada da área.

Petkovic se prepara. Falei pros meninos: “Se não for agora, já era”.

Me ajoelhei e esperei a cobrança.

Que segundos mais demorados. Lembro como se fosse hoje, a TV mostrando o Alessandro, então nosso lateral direito, rezando. Do outro lado, Joel Santana, tão nervoso quanto eu, parecia saber que ali, naquela bola, se decidiria o campeonato.

Petkovic foi autorizado e partiu pra cobrança.

Quando eu vi aquela bola fazendo a curva por fora da barreira, não queria acreditar. Ela iria pra fora. A vi batendo na rede e pensei comigo: “Fudeu, foi por fora”.

De repente, vejo o PET correndo feito louco, o narrador, Luis Roberto gritando gol, e eu parecia não acreditar no que acabara de ver. Que bola mágica, que curva, QUE GOOLLAÇOOO!

Saltei do chão, achando que todos pudessem estar loucos de terem visto aquela bola entrar naquele ângulo. Mas como a narração continuou e todos correram pra abraçar o PET, tive a certeza de que o terceiro e tão esperado gol saiu.

Não me contive. Pulava feito doido dentro de casa.

Instantaneamente, baixei a euforia. O jogo ainda não havia terminado, apesar de toda a desolação vascaína. Meu nervosismo era tanto que enquanto o juiz não apitasse o fim de jogo eu não levantaria. De joelhos voltei a ficar até o apito final.

Assim que o árbitro, se não me engano, Léo Feldmann apitou o fim de jogo a primeira coisa que gritei foi TRICAMPEÃO e a segunda foi OS vascaínos amanhã vão se fuder na minha mão.

A noite daquele domingo foi saborosa ao extremo.

Segunda-feira, 28 de maio de 2001

Como todos os dias da semana, acordo as 6:15h, e vou para o banho, dessa vez de alma lavada pela vitória na tarde/noite de domingo anterior.

Nada mais me passava pela cabeça do que a recepção calorosa que meus colegas vascaínos teriam ao chegar na empresa.

Procurei chegar até mais cedo, entrei com aquele ar de Poderoso Chefão, fui pra minha sala e calmamente estendi a BANDEIRA DO MENGÃO na parede.

Cada um que chegava, dava risada e queira saber de quem era.

De peito estufado, sorriso escancarado e orgulhoso eu dizia que era minha e que ela ficaria ali, até o fim do dia. Não haveria quem a tirasse.

Alguns vascaínos iam chegando e eu só podia dar risada e ver a cara de tacho de todos eles. O Rodrigo demorou pra aparecer. Como demorou.

Até mesmo antes dele, veio o gerente da empresa. Ao ver aquele bandeirão pendurado na parede, perguntou o que significava aquilo e de quem era.

Alguns colegas se olharam, (dentre eles dois vascaínos), esperando A MIJADA.

Calma e orgulhosamente, virei-me para o Sr Zulmir e lhe disse que durante a semana anterior, os vascaínos me tiraram sarro a semana inteira, porque o flamengo não conseguiria vencer o vasco por dois gols de diferença e que a bandeira estava ali, porque assim como eu tive que suportar gracinhas um semana inteira, eles iriam ter que me aturar naquela segunda-feira.

Falei isso e olhei pros dois vascaínos que trabalhavam comigo.

O Sr Zulmir – Gerente da Sadia de Itajai na época – olhou pra eles, olhou pra mim, olhou pra bandeira e sorrindo disse: PARABÉNS RAPAZ, SEM PROBLEMAS!

Hahahahahaha, os dois murcharam ainda mais. Tava na cara que nosso gerente entendeu o espírito da coisa, por isso permitiu, até mesmo, como lição para os demais.

Posso lhes garantir, que a segunda feira, 28 de maio de 2001, foi a mais saborosa de todas as que passei naquela empresa.

Ahhhh, querem saber do Rodrigo? Aquela altura eu já nem me importava mais com ele. A lição do nosso gerente (gremista diga-se de passagem) foi melhor do que qualquer sarro que tirei dos caras. Mas claro, o Rodrigo veio falar comigo, cabisbaixo, ainda sem acreditar no que havia acontecido. Me parabenizou e foi pra sua sala, quieto sem saber como reagir.

Essa foi a minha história envolvendo o TRI do PETkovic.

SRN

RICARDO FERNANDO SENS