Amigos do Buteco, confesso que a barbaridade dessa quinta feira me deixou sem palavras. Minha intenção era escrever uma coluna com o tema “Eu quero o meu Flamengo de volta”, frase que já foi usada diversas vezes quando o time ia mal e não se via luz no fim do túnel. Dessa vez, por mais esperançoso que eu costume ser, minha intenção era pedir o resgate do futebol alegre, ofensivo, de toques rápidos e certeiros, aproveitando o talento que temos no nosso elenco. Seria uma homenagem ao bom futebol e à alegria que ele traz para nós, torcedores.
Com a tragédia anunciada, meu ânimo se foi. Como falar de futebol quando estamos diante desse mistério que é a motivação que leva um jovem a cometer tamanho desatino. Como seguir em frente falando de gols e belas jogadas quando nos vem a mente o sofrimento desses pais que beijaram seus filhos de manhã e não os verão mais. Nunca mais.
Um dia nosso “editor chefe”, o Rocco, fez um comentário de que podíamos escrever aqui sobre outros assuntos, e dessa vez eu peço licença para usar dessa prerrogativa. Não me incomodarei se outra pessoa colocar outro texto mais tarde, voltando o foco de nossas discussões novamente para o futebol. Mas eu não consigo, sinto muito.
O amor de um pai é uma coisa tão ou mais forte que o ódio religioso. Não consigo deixar de pensar que podia ser um filho meu, um sobrinho, o filho de um amigo. E mesmo não sendo, imagino o sofrimento. E nenhuma explicação me fará compreender de fato o que aconteceu em Realengo neste dia 7 de abril.
Existe um documentário do controvertido cineasta Michael Moore, chamado Tiros em Columbine, que explora este tema (tiros de um jovem assassino em uma escola americana) e dá a entender que vivemos em uma sociedade onde o medo é incentivado e inflado, para que a indústria das armas possa florescer.
Não sei se é isso. Pessoalmente sempre fui contra a existência consentida das armas domésticas, contra essa facilidade que existe de se comprar uma arma na esquina, legal ou ilegalmente. Pior, meu receio é ainda maior, porque depois de um fuzilamento insano em um cinema de São Paulo, dos espancamentos de minorias nas calçadas da Avenida Paulista , este tipo de acontecimento pode gerar novos “imitadores”, entristecendo ainda mais os homens e mulheres de boa vontade desse país.
Eu gostaria muito de terminar este curto texto com uma mensagem de fé. Com alguma coisa que nos fizesse acreditar que os seres humanos são bons na sua essência, que a educação e o amor ainda vencerão e estes episódios se tornarão apenas lembranças tristes de um tempo passado. Mas isso parece ser ainda mais difícil do que o Renato Abreu dar a vaga para o Bottineli.
Busco nos amigos aqui do Buteco, nosso recanto de bate papo do dia a dia, essas palavras de fé. E não se acanhem de voltar ao assunto futebol. Eu só não queria deixar passar em branco esse dia negro. SRN