A entressafra que mais uma vez começa com o final do Campeonato Brasileiro é o que de mais chato existe no futebol, principalmente quando se trata de Flamengo, muitas vezes, o bravateiro no descanso da bola. Esta parada inspira fanfarronices mais do que requentadas por parte dos dirigentes do clube. Parece um problema de DNA com o código genético rubro-negro. Desde 2005, anunciam craques do porte de Mascherano, Tevez, Riquelme e Ronaldinho Gaúcho, mas apresentam para treinar, em janeiro, o Zé Arruela, Rosca Fina e Pincel, promessas reveladas pelo valoroso Piracibal, campeoníssimo do Torneio de Inverno de uma praia qualquer do interior do país. É a velha estratégia diversionista para entreter a plateia, enquanto os dirigentes sequer fazem uma simples consulta aos craques pretendidos que, não raro, se mostram surpresos ao saber que "vão jogar" no Flamengo no ano seguinte, e o rejeitam, até por raiva de verem seus nomes divulgados sem a devida consulta. Eu só não faria o mesmo por motivos mais do que sabidos, do contrário os mandaria às favas para não escrever outra coisa, afinal não sou mamão pra ser negociado assim. E nada acontece diferente da chegada de verdadeiros pernas de pau para a irritação da galera por mais uma temporada. Quando muito, surge na Gávea um velho e surrado quase ex-jogador para pagar a promessa feita lá atrás de encerrar a carreira vestido com o manto, que o revelou e consagrou, ou para satisfazer um sonho de criança.
Que desta vez seja diferente, ó esperança que não me abandona. Que os ultrapassados mandantes do clube batam de frente com o Luxemburgo, um cascudo no futebol, que sabe o que quer e como quer.
Vou nadar de braçadas contra a onda que não confia no taco do Vanderlei e dizer que acredito muito mais nele, que é do ramo, com passagem num dos maiores clubes do mundo, o Real Madrid, do que na D. Paty, expert em águas paradas, ou no diretor de futebol Luiz Augusto Veloso, aquele mesmo que desmontou um time inteiro vindo da base, talvez o melhor time da base desde os áureos anos 80 e que contava, entre outros, com Djalminha e Marcelinho Carioca. Luxa, pelo menos, rala nos 15 fundamentos básicos que formatam uma equipe de futebol, ponto de partida para as defesas das teses do maior teórico do futebol mundial da atualidade, o nosso Carlos Alberto Parreira, apesar de nem sempre ser possível fazer um Willians concluir uma jogada com um passe preciso ou ensinar a um Juan a não cometer faltas por trás na linha de fundo do campo adversário, mas, VL já demonstrou que tenta, insiste e luta para incutir talento na falta de talento, e muitas vezes consegue.
A partir de agora tem tempo suficiente para armar o próximo time do Flamengo, o mesmo tempo disponível para a inglória tarefa de convencer a todos que valeu a pena renovar com o truculento Fernando. Convenhamos que há uma pitada de milagre nessa última tarefa, mas vale a pena ver o resultado da iniciativa.
Muito se fala e escreve que ele, o Luxa, não manteve sequer uma escalação duas vezes em 10 jogos. Manter como, se a insastifação jogo após jogo era a tônica do momento pós-apito final? Os fundamentos repetidos exaustivamente nos treinamentos não eram aplicados durante as partidas por exclusiva falta dele mesmo, o talento, e da utilização de velhas pernas cansadas de guerra, embora o preparador físico Antonio Melo tenha colocado o time para correr os dois tempos dos jogos. E que bom que a indignação tomava conta de sua cabeça, colocando-o para procurar novas fórmulas para acertar o time, o que acabou não acontecendo. Em todos os casos, melhor a indignação do que o conformismo que levaria o clube ladeira mais abaixo ainda do ponto onde se manteve sem frequentar a temível Zona do Rebaixamento.
É hora de montar o novo elenco. Vai chegar a hora, também, de cobranças pelos equívocos cometidos e, se for o caso, quanto mais cedo melhor, de preferência já no Estadual, sem ilusões com as prováveis boas atuações contra os bambalas de todas as cores do campeonato. Para o torcedor, valerá a pena comemorar todos os sucessos do Flamengo, mas com olhos de lince para separar o passe certo do toque paraguaio, do gol feito com técnica daquele marcado sem querer com a benevolência dos botinudos dos pequenos clubes do estado.
Nem tudo o que brilha no Estadual é ouro. Olho vivo por que "cavalo não desce escada", como diria um velho colunista social, o flamenguista Ibhraim Sued.