Já que o jogo final deste ano que já vai tarde é contra o Santos, resolvi trazer algumas histórias sobre o ano de 1983, onde o nosso primeiro jogo do ano foi exatamente contra o Santos (vitória de 2 a zero) e o último jogo do campeonato brasileiro também foi contra o Santos, com o Mengão campeão. No jogo inaugural, o primeiro gol foi do estreante Baltazar, que fez muitos gols importantes pelo Flamengo, mas que era conhecido como “Baita Azar” pela quantidade absurda de gols que perdia. Chamado de “Artilheiro de Deus”, ele havia sido contratado para substituir o inesquecível Nunes. Naquele começo de ano, outro fato notável foi a saída de Tita, que queria jogar na posição do Zico, e preferiu ir jogar no Grêmio, depois de ter desdenhado a convocação para a seleção brasileira de 1982, justamente porque não queria mais jogar na ponta direita, nem ser o coringa que era no Flamengo. Outro fato importante deste ano foi a ascensão ao time profissional de Bebeto, que havia sido contratado antes ao Vitória, mas que como era muito franzino teve que fazer um trabalho “a la Zico”, jogando inclusive nos juniores antes de entrar no time principal.
Depois da vitória inicial, com um segundo gol de Zico, o Flamengo empatou em 1 a 1 com o Moto Clube e o Rio Negro. O susto da torcida foi a toa, pois contra estes mesmo times, mais tarde, o Flamengo faria 5 e 7 a 1 respectivamente. Naquela época os gols saíam facilmente, porque o time ainda era muito bom ( e tinha meio campo !). Nessa goleada de 7 a 1 no Rio Negro, dois gols foram marcados por Cocada, irmão de Muller, que viria a fazer sucesso no São Paulo. O mesmo Cocada que 88 faria um gol pelo Vasco que nos traz uma triste lembrança. O Flamengo seguiu vencendo no campeonato, até o momento em que perdeu seu técnico Carpegiani, emendando uma série de resultados frustrantes. No seu lugar veio Carlos Alberto Torres, o “Capita”, que estréia com uma vitória de 5 a 1 em cima do Corinthians (embora no jogo de volta, já classificados, tenhamos perdido por 4 a 1...), com grande atuação de Bigu. Na época, o Capita chegou a dizer que o “Flamengo era Bigu e mais 10”. Mais um jogador que brilhou em um curto período e depois sumiu... Na Libertadores, o Flamengo fez 7 a 1 no Blooming e foi seguindo até ser eliminado pelo Grêmio, em um jogo que Tita marcou um gol contra o Flamengo. No Brasileiro, já na fase mata-mata, o Flamengo pega o Vasco, ganha o primeiro jogo, empata o segundo e se classifica para a semifinal contra o Atlético Paranaense. O gol do empate, se alguém se lembra, foi um toque de Adílio para Zico, que marca e se ajoelha na bandeirinha de córner para comemorar com a torcida. Até hoje eu tenho essa imagem na minha cabeça... Principalmente porque depois desse gol foi só confusão, com Roberto querendo “dinamitar” o árbitro Valquir Pimentel por conta de um impedimento que só ele viu. Na semifinal, 3 a zero no primeiro jogo, com dois gols de Zico e um de Vitor. No segundo jogo, derrota de 2 a zero, com dois gols de Washington em dois minutos, que já fazia dupla com Assis (irmão do Ronaldinho Gaúcho), e que viria para o Flu formar o tal “casal 20”, nome de uma série de TV que fazia sucesso na época.
Classificado para a final contra o Santos de Marola, Paulo Isidoro, Pita e Serginho Chulapa, o primeiro jogo, no Morumbi, é desesperador. Depois de estar perdendo por 2 a zero, o artilheiro de Deus diminui em uma cabeçada, quase no final do jogo. Em desvantagem, mas certa da vitória, a torcida coloca 155 mil pagantes no Maracanã, naquela que talvez tenha sido a maior apresentação de Adílio. O time : Raul (que se aposentaria no final do ano), Leandro, Figueiredo (zagueiraço, morreu muito novo), Marinho e Júnior, Vitor, Adílio e Elder, Zico Baltazar e Júlio Cesar. Com 24 SEGUNDOS DE JOGO, gol de Zico, depois de um lançamento de Vitor para Júlio Cesar, que dribla e deixa tonto um zagueiro, cruza para Baltazar que chuta prensado, sobra para Júnior chutar em uma grande defesa de Marola, até que a bola reconhece seu mestre e se oferece para uma esticada de perna do Galinho... fundo do gol. Uma pintura, minha gente... Aos 39, Zico encontra a cabeça de Leandro, que faz o segundo. Um minuto depois Leandro mete uma bola na trave. A torcida, enlouquecida... Ao final, mais um gol de Adílio (ele merecia !) e Mengão campeão ! Ainda tivemos confusão em campo, invasão de torcedores e repórteres, mas a história estava escrita, nas páginas e no coração de todos os rubro-negros...
Mas como eu disse, 1983 foi um ano triste também. Afinal, foi o ano em que o Zico se foi, vendido para o Udinese, onde foi ídolo nos dois anos seguintes. A torcida ficou tão revoltada que o presidente (não falo o nome dele, não adianta) acabou por renunciar.
Espero ter dado pelo menos um alento aos amigos que esperam este último jogo para ver se ainda vamos jogar a série B da Libertadores, ou seja, a Sula. SRN
(fonte : minha memória e o livro “A História do C.R. Flamengo”, já citado anteriormente).