quarta-feira, 2 de junho de 2010

O momento é este!

Ele voltou! O gênio com a bola nos pés retorna à casa-mãe com a caneta na mão.

No fino trato da bola, Zico era arco e flecha. Arco porque lançava os atacantes, que tinham o privilégio de jogar à sua frente, marcando um encontro pontual e preciso deles com a bola na cara do goleiro adversário, tal como o bom discípulo Pet fez com o Love, sábado passado, na partida com o Grêmio, no mesmo palco das belas tardes de domingo vividas sob os aplausos embevecidos da galera rubro-negra. Flecha em suas arrancadas com arte em direção ao gol, deixando os adversários p'ra trás, driblando-os com talento e precisão cirúrgica em dezenas dos seus 509 gols vestido com o manto, do tamanho P ao modelo G.
Juro que se eu fosse um adversário, bateria palmas para o Galo a cada vez que fosse por ele driblado, honrado pela escolha para ser protagonista daquela cena perfeita, projetada no momento da finta, executada com inspiração divina. Nunca encontrei outra justificativa para tamanha beleza, emoldurada por uma curva bem feita descrita pela bola até o balançar das redes, para delírio da massa.

Fora de campo, era o mesmo cavalheiro, com os mesmos modos com que se portava dentro dele, com educação, preparação profissional, disciplina, pontualidade e responsabilidade. Sempre capaz de um gesto bonito ou atitude involuntária de igual valor, que me levava, se necessário fosse, a indicá-lo como um exemplo de cidadão a ser seguido pelos meus filhos e apontá-lo dizendo: "Podem seguí-lo, é isso o que quero para vocês".

Hoje, no momento em que o nosso melhor artista em todos os tempos senta à mesa de executivo do Flamengo, imagino estarmos sobre o ponto de inflexão da gestão do futebol do clube, fato para ser comemorado e apenas comparável ao longínguo ano de 1977, quando a FAF (Frente Ampla pelo Flamengo), tendo à frente Márcio Braga, tomou as rédeas do clube levando-o, a partir de então, às conquistas de 13 Campeonatos Estaduais, duas Copas do Brasil, seis Campeonatos Brasileiros, uma Libertadores e ao título de Campeão Mundial Inter-Clubes, em 1981, representando uma trajetória que elevou em muito o conceito do Flamengo tanto em nível nacional quanto no internacional. Poderia ser melhor? Acho que sim, não fosse alguns vácuos e equívocos ocorridos ao longo dos últimos 33 anos, porém, considero mesmo assim um crescimento notável a partir daquela data.

Eis uma oportunidade de ouro que a volta do Zico representa, a qual não pode ser desperdiçada e, para diminuir a probabilidade de sua ocorrência, o Galinho não vai e não pode dispensar o apoio da torcida, que jamais refugou em colaborar com o Flamengo dentro e fora dos estádios. Nos jogos, é de conhecimento geral a sua força sobrepondo recordes sobre recordes de bilheteria, uns sobre outros, sucessivamente. Do lado de fora dos campos de futebol, quando convocada, em 2005, para participar da construção do CT deu um gás em duas campanhas de doações efetuadas nas contas do clube, tocadas na base da distribuição de panfletos e do boca-a-boca, nas partidas do Flamengo, através da comunidade do Orkut "Conte Comigo Mengão (CCM)" e, mais a frente, com a participação do próprio Zico, em junho daquele ano, com a venda de camisas com a inscrição "Craque o Flamengo faz em casa" e das pulseiras vermelhas e pretas, ambas criadas por membros da CCM.

O resultado dos movimentos foi a viabilização do atual CT, que reúne todas as divisões de futebol do clube, tendo sido usado até mesmo pelo ex-treinador Ney Franco na preparação do time para a conquista do Bi-campeonato da Copa do Brasil, em 2006, em inesquecível decisão com o Vasco da Gama.

Para concluir, lembro aos amigos torcedores o velho ditado chinês, segundo o qual "Flecha atirada, palavra proferida e oportunidade perdida não voltam atrás".

SRN!