É difícil escrever sobre um jogo após um gol de empate aos 46 do segundo tempo, mas vamos lá.
É difícil falar de tática quando o jogo praticamente se resume a ataque contra defesa. Mais de 63% de posse de bola no primeiro tempo e a derrota por 1x0, com um gol em falha coletiva do Bruno e do Álvaro. Embora Michael, Vinícius Pacheco e Vagner Love, além do Leo Moura e do Juan, tenham tentado jogar em velocidade, a verdade é que faltou objetividade ao time e o Artilheiro do Amor ficou isolado no ataque. O Kleberson teve outra atuação apagadíssima.
Na terça-feira eu havia escrito sobre a necessidade de jogar pelas pontas, de forma aberta, já que o adversário viria fechado. Em muitas vezes o time embolou pelo meio. E nisso está a culpa do Andrade no que não ocorreu no primeiro tempo.
O Universidad de Chile jogou o tempo inteiro na defesa, mas sempre que atacou levou perigo. É um time entrosado, rápido e objetivo. Não é a toa que lidera a chave do nosso grupo e o campeonato chileno. Nessas incursões deles pela nossa defesa, na imensa maioria das vezes pela esquerda, o Juan teve problemas na marcação do Contreras. E foi pela esquerda que começaram as duas jogadas de gol do Universidad de Chile.
No segundo tempo a entrada do Mezenga melhorou muito o time. Primeiro porque o rapaz entrou pilhado e não se omitiu, passando a ser uma referência no ataque nas bolas altas e principalmente nas jogadas de área. Contudo, o time parecia bem nervoso, talvez pela inexperiência e juventude de alguns jogadores.
O Vagner Love caiu de rendimento absurdamente no segundo tempo, perdeu gols, mas em momento algum se omitiu e é um novo Deus da Raça, faça-se justiça. A grande e agradável surpresa foi o Michael, que o tempo inteiro se mostrou uma ótima opção de armação de jogadas e chegada no ataque.
A entrada do Petkovic tirou um pouco da velocidade do time, dando mais cadência. Era de se esperar. Não vou aqui dizer que o Petkovic atuou de forma brilhante porque não foi o caso, até porque o jogo foi nervoso, brigado, em campo pesado e molhado, etc., e ele alternou jogadas boas e ruins; mas foi num passe de trinta metros dele que se iniciou a jogada pela qual chegamos à virada.
Após a virada, o Andrade rapidamente sacou o Michael do time e lançou o Maldonado; com isso, atraiu o Universidad de Chile para o nosso campo de defesa, acabou com as jogadas em velocidade em contra-ataques e expôs mais ainda a fragilidade do nosso sistema defensivo. Uma coisa é jogar com o Petkovic, mas ter o Michael para cair pelas pontas e jogar em velocidade com o Vagner Love e o Adriano; outra é ele ser o elemento mais adiantado antes do ataque; perdemos em movimentação e, sobretudo, a posse de bola. E todo mundo sabe o que acontece quando se dá a posse de bola para o adversário nos últimos minutos de jogo, menos o Andrade, pelo visto.
Comentei durante o jogo sobre o posicionamento defensivo do Juan. Em determinado momento no segundo tempo, quando o Juan simplesmente abandonou a marcação, o Contreras se posicionou livre na lateral do campo e só não saiu uma jogada perigosíssima deles porque o Angelim interceptou o passe. E foi pela esquerda, tal como no primeiro gol, que veio o empate absurdo e inacreditável deles. Absurdo e inacreditável porque o Angelim, totalmente fora de posição, já que estava desesperado de preocupação em cobrir o Juan, foi lento na volta para a área. Com isso, o Toró ficou entre dois jogadores e o excelente Montillo enxergou o fato numa fração de segundos e, ao driblar o Petkovic, enfiou a bola para o Oliveira, que fez o pivô e escorou a bola para o Rodriguez enfiar um petardo no ângulo do Bruno. Rodriguez concluiu com facilidade neste momento porque o Toró, sabe-se lá por que, não o acompanhou após o passe do Montillo.
Destaco a raça absurda do time durante toda a partida. Discordo das vaias para o Vinícius Pacheco, que suou a camisa, não se omitiu, mas, ao contrário, sempre se apresentou para as jogadas e correu pra burro, fora da posição em que vinha jogando.
Gostaria de pontuar algumas coisas:
1) não culpo o Andrade por não entrar com o Mezenga desde o início porque nenhum clube que disputa a Libertadores com seriedade pode ter como única opção para a reserva no ataque um jogador que acabou de vir da segunda ou terceira divisão do futebol turco ou cipriota, sei lá; o problema foi a forma imbecil como jogou no primeiro tempo, embolando pelo meio e não jogando pelas pontas; parabéns ao Mezenga pela atuação, mas ele não deveria e não poderia ser a opção do time para a reserva de ataque na Libertadores;
2) ainda o atacante reserva: nós não podemos confiar no Adriano; não sabemos quando ele queimará o pé, quando ele ficará com dores nas costas, quando estará com depressão profunda por brigar com a namorada, etc.; é um gravíssimo erro do vice-presidente de futebol, que assumiu a responsabilidade de montar o elenco de acordo com o que pensa; não dá para continuar assim se passarmos de fase; SE passarmos de fase;
3) eu escalaria um time de reservas no domingo e partiria para a vitória em Santiago contra o Universidad Católica na quarta-feira que vem; que se dane o Estadual, numa boa; quero ser campeão da Libertadores; o Flamengo tem que ganhar os dois próximos jogos e chegar a treze pontos; tem que secar o Universidad de Chile contra o Caracas na Venezuela, mas não vai adiantar nada, absolutamente nada, se não vencer os dois próximos jogos;
4) o Vinícius Pacheco não tem culpa de o Andrade só o escalar se o Petkovic não jogar; um não exclui o outro necessariamente; ele não tem culpa, principalmente, de o Andrade só ter tirado o Kleberson do time no intervalo desse jogo; e eu vinha dizendo por aqui que o Andrade só faria isso quando se visse numa situação de desespero, o que é lamentável;
5) a escalação do Michael como titular hoje, e só hoje, mostra que nem tudo no Flamengo é baseado no melhor rendimento, na melhor fase, na melhor técnica; há mais coisas no universo da Gávea que a nossa vã filosofia possa compreender;
6) o Bruno não pode falhar seguidamente em jogos de Libertadores; e esse é problema de se ter outro garoto na reserva; outro erro na montagem do elenco; vocês confiam cegamente nele?
7) Até quando o Maldonado permancerá no banco?
8) Até quando o Kleberson será titular?
9) Petkovic: ele decide; não sabemos quando poderemos contar com o Adriano; nunca; isso está mais do que provado; não gostaria de ver fora do elenco um jogador que pode mudar toda a história de um jogo em um só lance, ainda que ele esteja longe da forma do ano passado;
10) não dá para jogar com essa proteção de zaga; a zaga é fraca e os volantes também; e o Maldonado no banco... Andrade, será que você agora entendeu que o Toró não é um volante com nível para ser titular do Flamengo em uma Libertadores? E você, Marcos Braz? Entendeu agora a falta que faz o Aírton?
11) Conforme escrevi semana passada: são possíveis seis acréscimos ao elenco SE passarmos de fase: três por substituição e três novas inscrições por ser ano de Copa do Mundo. Atacantes reservas dignos e volantes são imprescindíveis.
12) Não joguem a toalha; agora é o momento da verdade; quarta-feira saberemos, definitivamente, qual é o time que temos no momento; se é composto de homens de verdade ou não. Será na quarta-feira, amigos, a famosa hora da onça beber água.
Perdoem-me pela análise superficial, mas a mistura de desgosto pela tragédia no Rio de Janeiro, minha terra natal, e esse empate aos 46 e tantos do segundo tempo tornaram muito difícil escrever esse post.
Um abraço e SRN a todos.