Estamos comecando a serie de todos os nossos amigos que sairam de suas cidades para assistir ao HEXA Campeonato do Mais Querido.
Em nossa primeira serie temos o nosso querido amigo e irmao GUSTAVO a direita da foto.
Todos estao convidados a enviarem a Administracao do Blog sua aventura.
15 de julho de 1992. O Flamengo empata com o Botafogo no Maracanã e se sagra campeão brasileiro daquele ano. Desde então, muita coisa mudou na minha vida. No final daquele mesmo ano eu me formei, o trabalho apertou, depois vieram os estudos para concursos públicos, casamento, filhas, mudanças de cidade por conta do trabalho, até eu conseguir voltar para Brasília, mais velho, com a vida toda diferente.
Naquele 15 de julho de 1992, lembro-me do gol de falta do Júnior, do gol do Júlio César, o nosso Imperador de então, e de descer as rampas das arquibancadas do Maracanã com milhares de pessoas cantando “EU SOU FLAMENGO, DE CORAÇÃO! EU SOU DO TIME QUE É PENTACAMPEÃO! OLÊ-OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ; OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ...”
Eu só não podia imaginar é que, naquele 15 de julho de 1992, eu testemunharia o último título brasileiro do Flamengo até o então distante, longínquo, inimaginável ano de 2009. Muito menos que, até 6 de dezembro de 2009, as circunstâncias da vida me afastariam do Maracanã, onde, até então, eu era um freqüentador assíduo para quem, embora natural do Rio de Janeiro, morava em Brasília.
Pois o tempo passou, quase tudo mudou na minha vida, mas, ao longo desses anos, uma coisa jamais se alterou: a minha paixão ensandecida e fanática pelo Flamengo. Na dificílima década de 90, foram vários rádios de pilha quebrados, mãos enfaixadas, desespero por goleadas sofridas, campanhas ridículas nos brasileiros e inacreditáveis vices em uma Copa do Brasil e num torneio sul-americano. Entre os desastres, um mísero título da Mercosul, o qual tenho que confessar que curti muito, já que estava à época morando em Santos e cercado de palmeirenses e daquela imprensa paulista que...bom, deixa pra lá.
Veio o novo século e as coisas pareciam apenas piorar. Sucessivas campanhas para fugir do rebaixamento, vice de um time do interior de São Paulo na Copa do Brasil, uma eliminação na primeira fase de uma Libertadores, até que, em 2006, a Copa do Brasil, e depois as boas campanhas nos Brasileiros de 2007 e 2008 me fizeram voltar a sonhar. Esse grupo, contudo, colecionando fracassos na Libertadores e no Brasileiro, deixava dúvida quanto a sua capacidade ir além das boas campanhas e efetivamente trazer o Flamengo de volta para o lugar que conquistou merecidamente na história.
Depois das derrotas para o Cruzeiro, no Maracanã, e na goleada para o Avaí fora de casa, ainda que com um time totalmente desfigurado, e da então campanha titubeante, vieram as dúvidas sobre se retrocederíamos e voltaríamos a lutar para não cair. Então, sem o Imperador, e com o Pet, vieram os 3x0 sobre o Santo André.
Serei bem sincero com vocês: minha ligação com o Flamengo é tão forte que eu frequentemente tenho pressentimentos e sei o que ocorrerá com o time, para o bem ou para o mal. Foi assim contra o Santo André em 2004, foi assim com o Goiás esse ano, foi assim nas estréias do Nélio e do Bujica, foi assim na Mercosul contra o Palmeiras, na semifinal de 1987 contra o Atlético/MG, e foi assim nos 3x0 sobre o Santo André. E disse ao meu pai com a mesma certeza do meu amor pelo Flamengo: essa formação é para levar o campeonato.
Vieram as vitórias contra o Sport, Coritiba, Fluminense, São Paulo, Botafogo, Palmeiras, Santos, Atlético/MG e Corinthians. Veio a liderança. E eu trabalhando como nunca na minha vida, sem tempo para respirar. Mas veio a lembrança daquele 15 de julho de 1992, ao lado do meu pai nas arquibancadas do Maracanã. E veio a certeza: eu tenho que ir, mesmo não podendo.
E fui. Consegui os ingressos e fui com o grande amigo David, que conheço desde os seis anos de idade, companheiro rubro-negro de décadas. Não tenho como descrever o tamanho da minha ansiedade. Dezessete anos sem ir ao Maracanã, a gente perde até o referencial dos locais, de certa forma. E encontramos a fila para as arquibancadas, do lado da estátua do Belini. Enorme, que se locomovia com a velocidade de uma sucuri que acabou de engolir um touro, passamos duas horas e meia para chegar à conclusão de que, para entrarmos, teríamos que ir para a “zona do abafa”. E fomos.
Amigos, cerca de uma hora no meio de uma muvuca, sem conseguir mexer os braços, num vai-e-vem danado, com o sol castigando, suando como se estivesse numa sauna, com nego tossindo em cima, mulheres e crianças subindo nas grades para não sufocar. Alcançamos a bilheteria. As roletas engoliam os ingressos. Havia pessoas com e sem ingressos e a PM baixando o sarrafo, os bilheteiros com medo. Mostro meu ingresso, afasto uns dois da minha frente, e passo. O bilheteiro fica com o ingresso. Não me pergunte o porquê. Chegamos à entrada das arquibancadas brancas e um funcionário da Suderj pergunta onde estão os ingressos. Eu respondo com uma fúria incontida que o @!#$&¨%$*&#$%$ do bilheteiro o havia pego. Ele entendeu o que significaria me barrar e eu entro.
Vou me abster de comentar o jogo que todo mundo viu. Vou falar apenas dessa torcida maravilhosa: “(...) somos uma nação, não importa onde estejas, sempre estarei contigo; com o manto sagrado, e a bandeira na mão, o Maraca é nosso, vai come-çar a fes-ta! Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe ô; dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe ô; dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe ô, MENGÃO, DO MEU CORA-ÇÃO!”
A música mais bonita que já vi uma torcida entoar. Mais de noventa mil pessoas (sim, sim, amigos, tinha mais gente do que o anunciado, podem ter certeza disso) pulando, as arquibancadas estremecem. David, o meu amigo, está apreensivo com a atuação no segundo tempo. Mas eu lhe disse: eu tenho tanta certeza do título como de que estamos aqui agora. E veio o gol do Angelim, do Magro-de-Aço, do Rondinelli do Sertão Cearense, a explosão, a loucura, a angústia dos minutos que se passaram depois até o apito final do árbitro.
6 de dezembro de 2009, o ano que vi o meu Flamengo de volta ao lugar que merecidamente conquistou na história.
SRN a todos, especialmente à Comunidade Butequiana!