terça-feira, 8 de setembro de 2009

Revista: "Grandes Clubes Brasileiros"
...........Flamengo (Ué,...e tem outro grande?)
Edição Nº-04 de 1971- CR$2,50 - Relíquia




















.......................BRIA
................um símbolo na
............história rubro negra

Modesto Bria, uma das glórias do pri­meiro tricampeonato e de tantas outras inesquecíveis jornadas rubro-negras, já havia sido indicado para vir para o Flu­minense e acabou sendo trazido diretamente, de forma sensacional, para o Clube de Regatas do Flamengo.
O Coronel Santa Rosa era o adido militar do Brasil no Paraguai e depois de me ver jogar diversas vezes lá em Assunção, pelo Nacional e pelo selecionado paraguaio, julgou por bem recomendar-me ao tricolor. Eu sabia disso e estava aguardando qualquer comuni­cação do Rio, quando...
_Quando o quê, Bria?
_Aconteceu que o saudoso Ari Bar­roso estava cumprindo uma temporada em Assunção, apresentando música popular brasileira no Teatro Municipal. Pois sendo muito amigo do Coronel Santa Ro­sa, no primeiro domingo à tarde eles fo­ram juntos assistir ao futebol. E Ari Bar­roso de tal maneira se entusiasmou pela minha atuação que, decidiu trazer-me para a Gávea.
_Isso foi em 1943, pois não?
_Exatamente. O Flamengo já conquistara na temporada anterior o seu pri­meiro título da série do tricampeonato. E o pivot de sua intermediária, o ar­gentino Volante, chegara ao fim da car­reira. Era uma situação de emergência, que o apaixonado rubro-negro Ari Bar­roso tentava resolver e que felizmente - para mim e para o Flamengo- acabou conseguindo.

Viagem de teco-teco












Aos 21 anos de idade, medindo 1m71 e pesando 70 quilos, Modesto catito Bria teve o seu passe comprado pelo Flamengo ao Nacional.

_Por quanto?
_Trinta contos de réis. Naquela época era dinheiro pra burro, dinheiro para nunca mais acabar: 30 contos de réis!...
_E a viagem para o Rio?
_Foi o que de mais emocionante po­deria ter havido. O Flamengo teria que enfrentar o Fluminense, nessa semana. O jogo era no domingo e praticamente estávamos em cima da hora. Viemos de teco-teco, um aviãozinho de apenas três lugares, eu, Ari Barroso e... obviamente, o piloto!

















Modesto Bria recorda e um sorriso lar­go lhe aflora aos lábios num crescendo. Depois êle comenta:
_Hoje, com a idade que tenho, talvez não houvesse dinheiro nem força que me fizessem embarcar num teco-teco daqueles. Entretanto, reconheço que fi­zemos uma viagem bastante feliz de Assunção ao Rio.
_E a estreia?
_A promoção foi sensacional e prati­camente cheguei num dia para estrear no outro, sem um mínimo de tempo pa­ra aclimatação ou adaptação ao con­junto, sequer. Menos mal, porém, que joguei e não perdemos. O Fla x Flu terminou com o empate de 1x1.
_Você fêz o goal rubro-negro?
_Não. Bem que tentei diversas vezes e numa delas, pelo menos, andei peri­gando muito. Mas o tento rubro-negro não foi meu, tendo pertencido a Perácio, o tanque da nossa ofensiva.

De craque a auxiliar-técnico

Tendo nascido em Assunção a 8/3/1922, Modesto Bria encerrou a sua carreira de craque brilhante em 1952. Quem o lan­çou no Nacional foi Fleitas Solich, que também o levou para a Seleção do Pa­raguai. E, por uma estranha coincidên­cia, foi também com Fleitas Solich que ele encerrou a sua carreira, em 1952. Modesto Bria jogara sob a direção téc­nica de Flávio Costa e de outros trei­nadores, durante muitos anos, e foi jus­tamente quando Fleitas Solich chegou trazido pelo saudoso Gilberto Cardoso, para substituir a Flávio Costa, que no­vamente se transferira para o Vasco, que êle terminou como jogador.

_Naquela ocasião foi Dequinha quem o substituiu, não foi?
_Exatamente. Quando eu parei, come­çou como titular o Dequinha, um grande craque, que também se sagrou tricampeão no segundo tricampeonato do Fla­mengo e encerrou a sua carreira depois de haver sido capitão do time por mui­tos anos a fora.
_Você passou imediatamente a auxlliar-técnico?
_Sim. Como treinador ganhei um tri­campeonato de juvenis e um de aspi­rantes para o Flamengo e na eventua­lidade das mudanças de técnico do gru­po principal, já tive a honra de assumir temporariamente aquelas funções. De­pois, por 2 anos estive licenciado para voltar a Assunção e ser o diretor técnico do Cerro Porteño, o qual levei a dois vice-campeonatos de Assunção e a dois vice-campeonatos nacionais. Mais tarde, consegui outra licença de um ano e fui para a Bahia, dirigir o Ipiranga. Foi ai que sofri a maior decep­ção de minha vida, por culpa da irresponsabilidade de certos dirigentes.
_Por quê?
_Fizeram-me pedir um ano de licença ao Flamengo o no fim de 2 meses puseram-me no ô!ho da rua, sem respeitar nenhum dos compromissos assumidos.
_Sob que alegação, Bria?
_Os dirigentes do Ipiranga "descobri­ram" que eu sou um Incompetente!...
_E dai?...
_Sorte que imediatamente o Botafogo de lá mesmo da Bahia contratou os meus serviços e não precisei voltar correndo e pedir para o Flamengo interrom­per a licença já concedida. E estou cer­to de que os dirigentes do Botafogo baiano não se arrependeram do apoio que me deram, em momento tão difícil. Este ano Modesto Bria reincorporou-se ao Flamengo, de cujo quadro é funcio­nário estável e categorizado, passando a funcionar como um dos auxiliares téc­nicos de Yustrich, seu ex-companheiro do primeiro tricampeonato rubro-negro. Bria é viúvo de uma brasileira, D. Ivone, e o casal teve apenas um filho. Mas deixemos que o próprio Bria termine a entrevista:
_Meu filho é técnico em computador eletrônico e trabalha para uma das grandes organizações bancárias do Bra­sil. Êle e minha nora me deram uma segunda Ivone, a minha netinha. E olhe que podem me chamar de vovô babão como quiserem, mas duvido que exista uma menininha tão linda em todo o universo como a minha netinha...