sábado, 13 de junho de 2009

Sou Flamengo e Tô Boladão! Mas O Quê Nós Podemos Fazer?


O texto do Rica na quarta-feira provocou uma enxurrada de comentários indignados de rubro-negros que dizem não ser mais possível suportar os desmandos das diretorias do Flamengo e se prontificando a colaborar no que for possível pra mudar esse estado de coisas. Muito legal, muito bacana, mas no plano prático o valor de toda essa indignação é zero.
Porque o Rica mandou muito bem, teve sensibilidade pra abordar um assunto cabuloso. Mas parou aí, numa abordagem legal de uma situação que incomoda a maioria. Não apresentou qualquer solução. Aliás, ele mesmo justifica sua omissão ao dizer que essa solução tem que ser encontrada por nós que somos Flamengo. Tá certíssimo. Mas é nessa hora de buscar a solução que o bicho pega.
Com todo respeito ao Rica, que é um rubro-negro do tipo que nos orgulha do Flamengo ser o que é, já faz muito tempo que ser contra a cartolada do Flamengo é igual a ser contra a poluição, o desmatamento ou a violência. Todo mundo é contra, mas não faz absolutamente nada pra mudar o quadro. Ou você acha que ficar abraçando Jequitibá ou essas passeatas pela praia de Ipanema com todo mundo vestido de branco diminuíram o desmatamento ou a violência? Esse tipo de ação só serve mesmo pra aliviar as culpas da burguesia e enricar ainda mais as ONGs que vivem da nossa desgraça.
Manifestações, cartazes e faixas protagonizadas pelas muito discutíveis lideranças de torcidas organizadas podem funcionar em clubes com torcida reduzida e pequena relevância no cenário mundial. Num colosso como o Flamengo esse tipo de papagaiada nunca funcionou. E nem poderia funcionar, porque as organizadas do Flamengo, com todo o respeito a elas que fazem um espetáculo maravilhoso, não são representativas.
80% da nossa torcida sequer moram no Rio, é óbvio que os rumos definidos pelas TO’s em reuniões sob o sol do Rio de Janeiro pouco ou nenhum significado têm para a grande maioria dos flamengos espalhados pelo Brasil. As torcidas podem ter muita influência em alguns setores da arquibancada, e só. Por não terem uma linha de atuação política clara e definida (nem é essa a razão de ser das torcidas) que seja capaz de aglutinar a maior parte dos rubro-negros acabam sendo apenas massa de manobra facilmente cooptável pelos eternos interessados no butim do Flamengo.
O que significa que na grande maioria das vezes deve-se olhar com bastante desconfiança quando torcidas organizadas se metem na política do clube. Porque jabuti não sobe em árvore e se tem jaboti na árvore, isto é, torcedor dando pitaco e escolhendo candidato em eleição onde não tem direito a voto, é porque alguém o colocou ali. E a quem pode interessar que a torcida esteja tumultuando os trabalhos na Gávea? Pois é.
Dar um jeito no Flamengo não tem mistério, até eu dava. Todo mundo sabe que o maior problema do Flamengo é a roubalheira endêmica, que já não se sabe mais onde começou e muito menos aonde vai terminar. O problema é que ninguém faz nada, logo, ninguém vai preso. Enquanto isso os mão-grandes do Flamengo continuam gastando mal, antecipando receitas, perdendo processos trabalhistas, fazendo acordos ruinosos ao clube e deixando na merda futuras administrações num circulo vicioso que acaba por drenar o dinheiro dos torcedores comuns que só querem ver o Mengão campeão.
Em dezembro do ano passado entrei numa de fazer o serviço que o próprio Flamengo não faz e numa série de posts convoquei a galera a se associar, participar ativamente da política do clube, já que é a única maneira legítima de ser um agente ativo no processo político. Riram da minha cara, deram as mais elegantes desculpas pra não se associar e no fim das contas o próprio Flamengo fez a cagada final, ao descaradamente aumentar as mensalidades dos sócios Off-Rio, numa demonstração mais que eloqüente de que não querem a torcida por perto na hora de decidir os destinos do Flamengo.
Por mais doloroso que seja admitir, atualmente o regime no Flamengo é presidencialista e só os seus sócios em dia com suas mensalidades podem participar do processo eleitoral. O Leonardo, tão endeusado pela torcida, preferiu não encarar o desafio esse ano. O Zico, cidadão acima de qualquer suspeita, já disse que só entra no Flamengo no dia em que todo mundo que está lá sair fora. Pelo jeito vai demorar. Sobrou pra quem a tarefa? Pros mesmos de sempre, que vão ficar mais 3 anos à frente do maior clube do Brasil.
E todos os indignados, putinhos da vida e revoltados com a cartolada do Flamengo vão continuar fazendo a mesma coisa que já vem fazendo há anos: comprando entradas pros jogos, camisas oficiais, artigos licenciados e pacotes PPV em número muito maior do que qualquer outra torcida. Botando ainda mais grana na mão dos cartolas que eles querem afastar.
Não tenho a menor dúvida que o modelo administrativo e organizacional do Flamengo se esgotou. Por não ser capaz de colocar a serviço e benefício do sócio ou do torcedor todo o poderio econômico do Flamengo. Nós temos a maior torcida do Brasil e não exploramos nem 10% da sua extraordinária capacidade de consumo, o que faz de nós, proporcionalmente, os mais pobres e miseráveis do Brasil.
O Flamengo só vai ter um caixa condizente com o seu real tamanho no dia em que o clube, aí incluo os seus dirigentes e seus 5 mil sócios, entender que o Flamengo não pode continuar olhando apenas pros seus 5 mil umbigos encerrados na sede da Gávea. O Flamengo verdadeiro não cabe mais na Gávea, ele é do tamanho do mundo e se não souber trazer o mundo pra dentro do Flamengo ele vai continuar se apequenando até morrer.
Não adianta nada eu querer bancar o gato-mestre. Também não tenho a solução pra essa situação indigna. Só sei que precisamos fazer alguma coisa. E rápido. Idéias viáveis são muito bem vindas.