Contestem o nosso Pentacampeonato Brasileiro, podem desconfiar da nossa Hegemonia carioca, digam até que a torcida da China é maior que a Magnética. Mas não ousem colocar em questão o título que o Flamengo conquistou desde 1992 e o defende com impressionante e emputecedora regularidade. O título de Maior Destruidor de Domingos da Nação Rubro-Negra é nosso e ninguém tira.
A derrota pra um dos lanternas do campeonato já seria motivo pra detonar a 54ª crise na Gávea em 2009. Mas a maneira pornográfica como essa derrota se deu é motivo pra uma completa reformulação nos planos. Tomar 4 gols em 9 minutos, entregando de bobeira uma partida praticamente resolvida é profissionalmente inaceitável. É vergonhoso.
Alguns torcedores acham que a culpa é do Cuca, outros crucificam o Bruno, outros o Angelim e até pro Adriano sobrou, por omissão. Disconcordo. A culpa é coletiva, e assim seria em caso de triunfo. Mas não faz mal algum dar o nome a alguns dos maiores destaques nesse mico.
A hierarquia nos obriga a abrir o B.O. com o Cuca. Que inventou e se deu mal. Pra substituir o Kleberson mexeu mauzão e fez um melê na defesa que vinha dando conta do recado e não soube acordar o time, que mesmo no segundo tempo continuou assustado e inoperante.
A defesa toda esteve em jornada lamentável. Bruno falhou brabo no primeiro gol e talvez no quarto, Aírton teve sua pior atuação no Flamengo, Angelim errou bisonhamente, Wellinton foi péssimo, enquanto Leo e Juan mantiveram o nível e a regularidade não jogando absolutamente nada.
Tô revoltado como qualquer um, mas me permitam dois dedos de dialética antes de abrir a caixa de ferramentas. Desde 1992 o Flamengo exibe seu talento em ferrar com a nossa paciência, isso é a tese. A antítese é a impressionante capacidade do Flamengo em proporcionar alegria pra malvestida e miserável arcoirizada sem vergonha, que sabidamente torce em primeiro lugar contra o Flamengo e só depois se preocupa em torcer pra algum timinho. A síntese é que desse jeito o Flamengo não pode continuar.
Porque hoje o Flamengo foi capaz de um mico tão grande quanto os nossos piores símios de 2008, 2007, 2006, 2005, 2004 etc. Ou seja, o que aconteceu em campo não tem nada a ver com jogador, técnico ou tática. E acho simplista demais afirmar que a culpa desses vexames é do Léo Moura, do Bruno ou da diretoria. Se não é culpa do técnico, nem dos jogadores e nem da diretoria, porque é que desde 1992 essas merdas sempre acontecem com o Flamengo?
Eu não tenho essa resposta, mas acho que, à semelhança das grandes tragédias aéreas, um mico como o de hoje no Recife é a soma de uma série de erros cometidos em seqüência e não culpa da falha de uma única peça. Nesses casos é preciso rever todos os procedimentos em todos os níveis hierárquicos da cadeia de comando para que se descubra aonde é que eles estão errando.
Aí virão à tona a falta de um CT, o regime de treinos em meio-período, os chinelinhos, a influência malévola de empresários, as práticas nefastas de quem se diz Flamengo à serviço das formas mais baixas de política, as mãos grandes sobre as nossas receitas e a pouca vergonha nas negociações de jogadores.
No dia em que isso for investigado seriamente fornecerá material para um dos maiores julgamentos desde o de Nuremberg. Enquanto não remexermos nosso lixo e não tirarmos as ossadas escondidas nos armários o Flamengo vai continuar a destruir os nossos domingos.