Vejam que é o início de uma semana de jogos decisivos nas Copas do Brasil e Libertadores, Seleção Brasileira e outros quitutes. Mas quem é que se interessa por essas miudezas quando o colossal Flamengo altera em alguns poucos graus sua abrangente órbita? O assunto do dia, the talk of the town, foi a transferência de Obina para o Palmeiras. A surpreendente negociação, um reles empréstimo, foi manchete e matéria de fundo de todos os telejornais do país. Até do Jornal Nacional. Quando foi que você viu a Fátima Bernanrdes dar sorrindo a notícia de um empréstimo?
Louvemos e preservemos o nosso planeta, mas reconheçamos que um pouco desse interesse deve-se ao extraordinário carisma do bom baiano. Um atacante único, de trajetória peculiar e improvável. O exagero da reação de muitos rubro-negros chega ao destempero, mas indica que Obina, à sua maneira destrambelhada e berimbauliana, soube seguir os preceitos de Jean Cocteau. Foi “ um homem do seu tempo e um artista póstumo.” É inegável que Obina sai do Flamengo muito maior do que entrou. E os últimos meses de sua carreira comprovam que os gols não têm nada a ver com isso.
Podem apostar que na terça a onda prosseguirá, com análises detalhadas dessa contratação-bomba nos cadernos esportivos, programas de rádio e TV, blogs e twitters. Veremos a coerente torcida do Flamengo, após 6 meses pedindo o escalpo do Anjo Negro, lamentando a partida do artilheiro abstrato como se fosse a primeira despedida de Zico.
Ficaremos sabendo que há corneteiros palmeirenses revoltados que organizarão barricadas na Rua Turiaçu para impedir a chegada do acarajeano centroavante e que as raízes e ossadas rubro-negras nos jardins de Luxemburgo serão todas exumadas pela turma do amendoim.
Um colunista mais cínico vai louvar o tino comercial de Kleber Leite e para dar um lustre intelectual à sua maldade traçará um paralelo com a venenosa frase de um marchand parisiense do fim da Belle Époque “ É fácil pintar um quadro moderno, mas é preciso ser um verdadeiro gênio para conseguir vendê-lo”. E os intermináveis idiotas da objetividade, contando nos dedos das próprias patas os meses em que o negão não mete a gorducha no barbante, julgarão que Obina era uma espécie de Kandinsky entre os centroavantes e que o colunista cínico está prenhe de razão.
Galerão, a lealdade é a rainha dos sentimentos humanos. Admiro e respeito o carinho da Magnética, mas vamos parar de chororô. Já dizia um próspero especulador, que se notabilizou por nunca terminar com o mico na mão, que o maior inimigo do bom negócio é o excelente negócio. Vamos brindar a esse bom negócio e bola pra frente.
Ilustração: Composição 7, de Wassily Kandinsky
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Mengão Sempre