sábado, 11 de abril de 2009

Defina a Palavra "Gol":

















A brincadeira é facílima de se aprender. Nele, há uma bola, que é redonda como um tamanco e a finalidade, é colocá-la dento de um retângulo, denominado “baliza”, determinado por, uma linha horizontal, pintada no gramado e mais três pauzinhos, dois verticais, unidos nas bases superiores pelo terceiro, paralelo à tal linha no gramado.

Realmente, é muito fácil. Basta colocar a redonda dentro dos pauzinhos e, a galera grita, “Goooolll”. Ao final da brincadeira, aquele que mais vezes conseguir tal feito, será o vencedor.

Quando eu via o Zico jogar, eu pensava: “Caracoles,....é muito fácil fazer um gol!!!”
É verdade. Parecia muito fácil, mesmo, tamanha a simplicidade com que o Galinho fazia o gol.

E quantos outros jogadores, que vi jogar, me levaram a pensar que fazer gols, era uma das coisas mais fáceis do mundo, por isso, desde moleque, eu comecei a listar num caderno os gols que eu fazia.
Quando tinha 13 anos, formamos um time na rua e estreamos contra o time do bairro Califórnia, vizinho ao nosso. Logo de saída, que foi nossa, meus colegas foram tocando a bola até a entrada da área adversária e o Pedro, meu grande amigo, mandou uma bomba, que o goleiro deles espalmou, porém, a gorduchinha, caprichosamente, veio rolando, na minha direção, pedindo, “me chuta,...me chuta...” e o cabeçudo aqui, meteu o vulcabrás, digo,....o kichute. Pegou na “aveia”, como dizia o meu amigo Pedrão e eu estufei o barbante do time da Califórnia. Um minuto de jogo, um a zero pro bairro Mutuá.
Bola novamente no meio, os caras deram a nova saída, foram tocando, chegaram à frente da nossa área e, com um torpedo, um zé mané qualquer empatou o jogo. Um a um, com dois minutos de jogo.
Demos nova saída, perdemos a bola e eles fizeram o segundo.
Demos nova saída, perdemos a bola e eles fizeram o terceiro.
Multiplique a primeira frase por onze. Foi o placar final. 11X1 para o time da Califórnia.
Tomamos um banho de balde, no terreno ao lado e fomos para um boteco próximo, para bebermos um refrigerante e todos do nosso time estavam desolados, com a goleada. Um reclamava do outro, um colocava a culpa do vexame no outro, foi então, que eu soltei minha pérola.
“_Leva a mal não!....Os dois times jogaram com onze e, se cada um de vocês, tivesse a competência que eu tive, de fazer um golzinho cada, o jogo terminaria empatado!!”
Realmente, caguei nas cabeças dos meus companheiros de time, afinal, eu havia feito a minha parte, o "gol".

De linha de passes a torneios de duplas, às peladas no campinho torto e até nos jogos marcados contra, eu anotei, um por um, as vezes que chutei e a bola ultrapassou a linha da baliza e, até hoje, contabilizei 1.992 gols em minha carreira.
Lembro de uma pelada na rua, com golzinho de tijolo. Recebi na esquerda, tabelei com meu irmão, toquei de leve, a bola bateu nas costas do zagueiro, meu vizinho e entrou. Foi a glória! Foi o meu milésimo gol. Minha mãe, que assistia do muro, vibrou, quando completei a relevante marca, afinal, até então, só o Pelé havia conseguido.

Não importa como seja, desde que seja gol. Gol é gol. Se você está jogando uma linha de passes, a finalidade é colocar a bola nas redes, então, se você coloca, é gol e, esse gol fica na história da sua vida, para sempre. Gol é gol. E assim, eu tenho 1.992 gols, quase o dobro do Romário.

E por falar em Romário, ele é outro cara que sempre me fez pensar que fazer gols é coisa fácil. Que o diga o pobre Amaral, do pobre cú-rintias, que levou aquele elástico do baixinho. A jogada foi tão rápida, que o olho direito do Amaral acompanhou a bola, enquanto o esquerdo ficou parado e, o coitado acabou ficando com os faróis de milha desregulados, pro resto da vida.

Gol é gol, porém, existem gols que são muito acima do simples valor de um gol. Gols que nos fazem chorar, de alegria, ou de tristeza. Gols que nos fazem quebrar garrafas, ou uma caixa inteira, como eu fiz, na Taça Guanabara de 95, quando o Romário recebeu aquele presente do Márcio Teadoro.
O gol de Nunes, em 1980, contra o Atlético, nos 3x2, da conquista do primeiro brasileiro. Só Deus sabe, como e porque eu não morri naquele dia. Talvez, Ele tenha me mantido vivo, para presenciar outro gol incrível; O gol do Pet, no nosso quarto Tri Campeonato carioca. O maior milagre futebolístico que já assisti em vida.
O gol feito pelo Renato Gaúcho, em 1987, contra o mesmo Atlético, quando ele ainda era macho e jogava pelo Mengão, no Mineirão, com uma arrancada sensacional, aos 34 minutos do segundo tempo, ele marcou o terceiro, na vitória por outros 3x2, na caminhada do Flamengo ao Tetra Campeonato Brasileiro.

Enfim, cheguei à conclusão que, fazer gols, não é uma coisa simples e sim uma bela e difícil obra de arte, mas que, certos jogadores a realizam com tamanha facilidade, que nos fazem pensar o contrário.
E não é necessariamente imprescindível, que o gol seja bonito, para nos emocionar. Às vezes, o gol é feio, é chorado, é cagado, mas sua importância é tanta, que quase nos enfarta.
O gol de Obina, contra o Paraná, em 20/11/2005, feito aos 47 do segundo tempo, que permitiu ao Mais Querido do Planeta, ser um dos poucos clubes do país que nunca passou pelo vexame e humilhação do rebaixamento à segunda divisão.
O gol de Leandro, contra as bibas, aos 46 do segundo tempo, que empatou o clássico. Outra vez, só Deus, para explicar como ainda estou vivo.

E tem o gol que muda o programa do seu fim de semana, ou até da semana inteira. O gol que fode a nossa mariola. O gol que aflige, que amargura, que corrói, que destrói o coração. Como o gol de barriga, feito pelo renato, que virou "gayúcho", depois que ele passou para o lado rosa da força, que me obrigou a ficar uma semana sumido do bairro, pois os amigos queriam me amarrar numa cadeira e me obrigar a ficar ouvindo a gravação. Foi um gol que mudou meu programa de toda a semana. Tive que vazar fora. É sério,...foram cinco noites dormindo com a mulher em motel. Ela, apesar de ser Flamenguista, adorou.
E quando o babaca do delacir, já nos descontos de uma semifinal contra o grêmio, tentou driblar, na entrada da área e perdeu a bola. Gol deles e eliminação nossa. Quebrei meu rádio.

O gol une,....o gol agrega,.....o gol desune,....o gol é motivo de abraços e de porradas, de lágrimas, de gritos e do mais profundo silêncio. O gol, é a maior invenção do homem, depois do chopp. O gol, quando é do Flamengo, é um orgasmo espiritual. O “gol do Flamengo”, é um parto normal, para mulheres e homens. O gol já deu nome e batizou crianças. O gol é uma pintura, um quadro, uma escultura, uma letra, uma melodia,....uma arte,.....criada com os pés.

Então, meus amigos de balcão. Bendito seja e bendito está sendo, o nosso querido “Escorpião” da Gávea, o Émerson, que, em duas partidas, nos permitiu dois orgasmos, com dois gols e que não foram simplesmente “dois gols”, mas sim, “Dois Gols”, de importâncias ímpares, para a história do Clube de Regatas do Flamengo.
Contra o Fluminense, seu gol mudou o panorama da semifinal, podendo ali, ter determinado nossos rumos, na tentativa da conquista do Penta-Tri.
E, contra o Remo, além de nos classificar e de diminuir a distância para a linha de chegada da Copa do Brasil, seu gol também mudou o panorama da tabela e fez com que o time tenha mais uma semana de descanso e de preparação para as finais do Carioca.

Vejam vocês, a importãncia de apenas dois gols. Foram dois gols que, inclusive, influenciram diretamente nos bolsos do torcedores Rubro-Negros.
Dois jogos, dois gols e o Émerson já tem seu nome marcado na história do Flamengo.

Enfim, por causa do “gol”, é que estamos reunidos nesse Buteco, falando de futebol e do Maior Clube de Futebol do Mundo.
A culpa é desse tal de “gol”.
Bendito sois vós, Artilheiros do Flamengo, entre os caras que fazem gols e bendito é fruto dos vossos pés. Amém.